Mulheres continuam minoria em cargos de chefia nas redações do Brasil e do mundo

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Samira de Castro é presidenta da FENAJ

No país em que as mulheres representam 58% da categoria, apenas 13% dos cargos de chefia nas redações são ocupados por jornalistas do gênero feminino. O dado é do estudo ‘Mulheres e liderança na mídia: evidências de 12 mercados’, elaborado pelo Instituto Reuters. A pesquisa trata sobre a desigualdade de gênero no Jornalismo e, nesta edição, analisa cerca de 240 organizações jornalísticas de 12 países, incluindo o Brasil.

De acordo com os dados coletados, apenas 22% dos 180 principais editores que lideram os 240 veículos de imprensa analisados são mulheres, apesar de elas representarem 40% dos jornalistas dos 12 mercados. A liderança das mulheres nas redações não progrediu: em 2022, esse percentual era de 21%.

Divulgada no mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a pesquisa destaca que “a sub-representação das mulheres na liderança das redações faz com que suas vozes permaneçam silenciadas em uma indústria global ainda dominada por homens”.

Para a presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Samira de Castro, a pesquisa reflete as condições de sociedades desiguais, atravessadas pelo patriarcalismo. “O jornalismo é um espaço de poder ainda majoritariamente dominado pelos homens nos cargos de decisão”, reforça.

Segundo a dirigente sindical, em redações lideradas, em sua maioria, por homens, as mulheres jornalistas encontram menos apoio para conciliar a vida profissional e pessoal, além de hostilidades concretas em demandas e pautas. “Por isso, é cada vez mais urgente a atuação do movimento sindical voltada para essa parcela que é maioria da categoria e necessidade de equidade”, completa.

Samira faz relação com outras pesquisas, realizadas pela própria FENAJ ou com o apoio da entidade, que mostram que as mulheres jornalistas foram as mais penalizadas pela pandemia de Covid-19. “Além da sobrecarga com o trabalho doméstico, muitas mulheres deixaram a profissão ou porque foram demitidas ou porque tiveram de se desligar para cuidar de parentes”, afirma.

Brasil na penúltima posição

O levantamento ainda analisou veículos de África do Sul, Alemanha, Coréia do Sul, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, Hong Kong, Japão, México, Quênia e Reino Unido. No ranking geral, os EUA foram o país com o maior índice de mulheres na liderança de organizações jornalísticas, com 44%. O Brasil ocupou a penúltima posição, ao lado do Quênia, seguidos pelo México, último colocado, com apenas 5%.

Vale ressaltar que o percentual de líderes femininas cresceu no Brasil em comparação ao ano passado, que registrou apenas 7%. No entanto, antes da pandemia, em 2020, 22% das funções mais altas em meios jornalísticos do Brasil eram ocupadas por elas. Conforme o estudo, uma das razões para essa desigualdade de gênero se deve ao fato de que a diversidade é um tópico visto com pouca importância pelos veículos, que “direcionam seus escassos recursos para outras questões que consideram mais importantes ou mais urgentes”.

Por fim, o relatório aborda também o número de usuários que consome notícias de veículos liderados por mulheres, que, no geral, são baixos. No Brasil, o índice chega a apenas 27%. O levantamento pode ser conferido na íntegra neste link.

 

Com informações do Coletiva.net