Israel bombardeia tenda de onde jornalistas palestinos conversaram com a FENAJ e colegas brasileiros

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Cerca de 50 jornalistas brasileiros e 20 palestinos participaram da roda de conversa virtual promovida pela FENAJ e Embaixada da Palestina

Na manhã desta quinta (25/09), um grupo de jornalistas palestinos, direto de Gaza, conversou com a direção da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), e com cerca de 50 profissionais de mídia brasileiros convidados pela entidade, sobre a situação da imprensa e do povo palestino diante dos quase dois anos de ataques de Israel. Meia hora após a reunião, a tenda de onde falaram alguns dos colegas foi bombardeada pelas forças israelenses. A informação foi repassada pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas Palestinos (PJS), Naser Abu Baker, ao embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben.

Embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben

No local, onde funcionava um Centro de Solidariedade de Jornalistas em Gaza, estavam pelo menos 20 profissionais. Alguns deles deram depoimentos sobre a sua situação durante o encontro da manhã (tarde na Palestina), que foi promovido pela FENAJ e pela Embaixada da Palestina no país. Ibrahim Alzeben disse no início da tarde que ainda não tinha informações sobre vítimas, mas uma fonte árabe, próxima à entidade sindical, informou que os colegas conseguiram escapar e estavam vivos.

Durante sua fala, Mohammd al Sayyad, jornalista do jornal “al Arabiya Alhadath”, declarou que todos os dias antes de sair de onde está morando com a família, se despedia dos filhos, porque não sabia se iria retornar vivo. Já Mustafa al Bayed, correspondente do canal ART (Rússia), parecendo pressentir o futuro, disse que a qualquer momento aquela tenda onde estavam, mesmo identificada como imprensa, poderia ser bombardeada pelo exército israelense.

No encontro online, foram ouvidos os relatos dos líderes sindicais Naser Abu Baker e Tahseen al Astal (vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas Palestinos em Gaza) e mais nove jornalistas com atuação na Faixa de Gaza (confira a lista ao final desse texto). Eles apresentaram números (veja abaixo) que comprovam que a imprensa palestina é um alvo prioritário de Israel.

Números estarrecedores

O Sindicato dos Jornalistas Palestinos (PJS) informou que, desde o início dos conflitos, 252 jornalistas já haviam sido mortos em Gaza (destes, 34 eram mulheres), mais de 400 foram feridos, outros 200 foram presos, 270 expulsos da Faixa de Gaza e 600 familiares deles também morreram, segundo levantamento da entidade.

Naser Abu Baker, presidente do Sindicato dos Jornalistas Palestinos

“O estado de ocupação quer matar os jornalistas porque querem assassinar a verdade, porque eles não querem que ninguém saiba sobre essa limpeza étnica perpetrada na Faixa de Gaza”, denunciou o líder Naser Abu Baker. E completou: “Não querem que ninguém saiba sobre o terror e por isso mesmo, matam primeiro os jornalistas palestinos, e posteriormente proíbem qualquer jornalista estrangeiro de entrar em Gaza”.

Já Fidaa Asaliya, colega com atuação em Gaza, uma das que estavam na tenda, declarou que os jornalistas estão pagando o preço de transmitir a verdade ao mundo com a própria vida. “Estamos no centro de solidariedade pertencente ao Sindicato dos Jornalistas em meio a um bombardeio constante que está ameaçando as nossas vidas constantemente, mas continuamos fazendo nosso trabalho”, fala corajosamente. Segundo ela, a ocupação não faz distinção entre um jornalista, um cidadão ou um membro da resistência.

Segundo os relatos, os profissionais que não são mortos têm as suas casas bombardeadas, obrigando-os a se deslocarem seguidamente em busca de um lugar para se abrigar. Samir Khalifa contou que em 23 meses de ataques já se deslocou de um lugar para outro 18 vezes, Fidaa foi deslocada 10 vezes, e Tahseen, sete.

Solidariedade

“A ideia da reunião foi exatamente promover a oportunidade de nossos colegas palestinos, que estão sendo assassinados brutalmente, relatarem a realidade que enfrentam para noticiar sobre uma ofensiva que já matou quase 70 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças”, disse Samira de Castro, presidenta da FENAJ. Ela lamentou que Israel tenha monitorado a transmissão da reunião e tenha agido logo depois para silenciar mais vozes em sua cruzada genocida e de limpeza étnica.

A FENAJ se solidariza mais uma vez com o povo palestino e exige dos organismos e potências internacionais medidas concretas para cessar o genocídio praticado por Israel em Gaza. A entidade defendeu junto à Federação Intenacional dos Jornalistas (FIJ) a promoção de um dia de luta, com uma hora de paralisação do trabalho pelos jornalistas de todo o mundo em protesto e memória pelos 302 colegas já mortos em Gaza e na Cisjordânia.

Jornalistas palestinos que falaram no encontro
– Naser Abu Baker, Presidente do Sindicato dos Jornalistas Palestina
– Tahseen al Astal, Vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas Palestinos em Gaza
– Mohammd al Sayyad, Jornalista al Arabiya Alhadath
– Ghaida Mohammad, TV Palestina
– Raed Lafi, Jornalista da cidade de Gaza
– Ola Kassab, Jornalista em Gaza
– Samir Khalifa, Jornalista em Gaza
– Fidaa Asaliya, Jornalista em Gaza
– Mustafa al Bayed, Correspondente do canal ART (Rússia)
– Moneeb Saada, Correspondente Agência Palestina 24

Números apresentados por eles
– 302 jornalistas mortos: 252 mortos em Gaza e 50 na Cisjordânia, entre esses 34 mulheres
– Mais de 400 jornalistas feridos
– Mais de 200 jornalistas presos
– 270 jornalistas expulsos da Faixa de Gaza
– Cerca de 600 familiares de jornalistas mortos
– 647 casas de jornalistas destruídas
– 1600 jornalistas deslocados
– Sede de 120 órgãos de imprensa da Palestina bombardeadas
– Mais de 2 mil agressões contra jornalistas palestinos em Jerusalém e na Cisjordânia
– 3400 jornalistas estrangeiros proibidos de entrar em Gaza, sendo 720 norte-americanos.