Argentina: as consequências da disseminação do discurso de ódio são evidentes após a tentativa de assassinato da vice-presidente Cristina Fernández

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Imagens: Reprodução da internet a partir de Handout / TV PUBLICA / AFP e TELAM / AFP

As organizações filiadas à Federação de Jornalistas da América Latina e Caribe (FEPALC) e o Escritório Regional da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) condenam veementemente o ataque sofrido ontem (1º/09) à noite pela vice-presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner. Esse ataque não é um fato isolado, mas se insere no contexto de uma crise político-judicial que se alimenta de uma retórica violenta reproduzida diariamente pela imprensa hegemônica e pelas redes sociais.

Esses fatos expõem um problema que, como organizações de trabalhadores da imprensa, não podemos ignorar: o crescimento exponencial do discurso de ódio e sua reprodução e amplificação na mídia. Grandes empresas de mídia ao redor do mundo têm dado espaço à lógica algorítmica das redes sociais, priorizando a viralização sobre a investigação, o que resulta na disseminação da retórica da violência. A tentativa de assassinato de um líder político é a emergência tangível e extrema de um problema que não é novo, mas que se aprofundou não apenas na Argentina, mas em toda a região, e que deve ser um alerta urgente para jornalistas, comunicadores, empresários da mídia e trabalhadores da imprensa em geral.

É preciso que haja um debate profundo sobre o papel social do jornalismo e sua responsabilidade como ator fundamental nas sociedades democráticas. Nós, trabalhadores da imprensa, somos os protagonistas desse debate em todo o mundo, mas as grandes empresas de mídia continuam aprofundando a mercantilização da informação, colocando cliques e publicidade em primeiro lugar, permitindo (ou mesmo incentivando) a desinformação e a circulação de discursos de ódio, subestimando seu responsabilidade.

Da FEPALC e do Escritório Regional da FIJ, continuamos atentos a estes acontecimentos e apelamos aos nossos colegas de todo o continente para que continuem a trabalhar para colocar o jornalismo ao serviço dos interesses da grande maioria, para contribuir para a construção de sociedades democráticas em que a comunicação é um direito de todos e não um negócio de poucos. Reiteramos também nosso repúdio ao atentado sofrido por Cristina Fernández e nos solidarizamos com o povo argentino.