EBC: hora de redirecionar a comunicação pública

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A desinformação segue corroendo os fundamentos democráticos do país, alimentada por redes de fake news e pela ausência de canais públicos fortes e confiáveis que promovam o direito à informação. Nesse contexto, a recente confirmação oficial de que André Basbaum será o novo presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) representa um ponto de inflexão para que o governo federal redirecione o papel estratégico da comunicação pública no Brasil.

Jean Lima, que presidiu a empresa pelos últimos dois anos, deixa o cargo sob críticas internas e externas, sobretudo pela falta de diálogo honesto com os trabalhadores e pela manutenção de uma lógica de comunicação governamental que se distanciou da missão original da EBC. Ao mesmo tempo, o governo Lula enfrenta críticas crescentes por sua comunicação ineficaz, é urgente colocar a EBC no centro de um novo projeto estratégico , plural e democrático.

Gestão em desalinho com a missão pública

Durante os últimos dois anos, a gestão de Jean Lima na EBC acumulou tensões com trabalhadores, sindicatos e entidades defensoras da comunicação pública. A ausência de diálogo estruturado, o enfraquecimento dos espaços de participação social e a falta de ações concretas para fortalecer o quadro de pessoal — como a abertura de concurso público e a implantação de um plano de carreiras justo — evidenciaram a continuidade de uma lógica de gestão estatal, verticalizada e distante da missão pública que deveria orientar a empresa.

Promessas como a reestruturação da praça de São Paulo, com a mudança do local da sede e aumento do protagonismo da capital paulista na grade de programação, não saíram do papel. Assim como a reconstrução da praça do Maranhão, destruída pelo governo Bolsonaro, as promessas ficaram apenas nas palavras vazias de reuniões fechadas. Em vez de resgatar o espírito de serviço público, plural e cidadão que deu origem à EBC, a empresa seguiu funcionando como instrumento de comunicação governamental — uma escolha que limita seu alcance, sua legitimidade e sua potência transformadora.

A comunicação pública , ao contrário da comunicação estatal ou comercial, existe para servir à sociedade como um todo. Seu papel é promover o pluralismo, a inclusão, a diversidade regional e cultural, a escuta ativa e o debate democrático. Isso inclui, especialmente, ouvir e dar voz aos movimentos sociais, aos defensores dos direitos humanos, às pautas antirracistas, de gênero e da população LGBTQIA+. Longe de representar ameaça ao governo, a comunicação pública fortalece governos democráticos ao ampliar o diálogo com a sociedade de forma autônoma e transparente.

Um novo protagonismo contra a desinformação

Num cenário dominado pela guerra de narrativas, pela desinformação e pela captura algorítmica da atenção pública, a EBC tem potencial para assumir um papel de protagonismo: o de informar, formar e transformar. Pode preencher os vazios deixados pela mídia comercial, promovendo letramento midiático, educação crítica, valorização da cultura popular e conexão entre os diversos Brasis. Pode ser o braço mais legítimo e duradouro do Estado brasileiro no enfrentamento à desinformação — desde que esteja a serviço do povo, e não apenas de um governo.

Os trabalhadores da EBC, por sua vez, não reivindicam apenas melhores condições de trabalho ou remuneração justa. Eles querem fazer parte de um projeto . Querem relevância. Querem sentido. A empresa abriga profissionais experientes, comprometidos com a missão pública e dispostos a construir coletivamente um modelo de comunicação que dialogue com o Brasil real. Ignorar essa potência humana é desperdiçar uma das maiores riquezas da EBC.

O governo Lula tem agora uma oportunidade rara de demonstrar, na prática, seu compromisso com a reconstrução democrática — não apenas como discurso, mas como política de Estado. A nomeação de André Basbaum como novo presidente da EBC precisa vir acompanhada desse compromisso e de uma escuta ativa às vozes internas e externas que defendem a comunicação pública de fato. É hora de abrir as portas para a escuta ativa, restabelecer mecanismos reais de controle social e incluir os trabalhadores na construção do futuro da empresa. Mais do que nunca, é preciso compreender que fortalecer a comunicação pública não é um favor à EBC — é uma estratégia essencial para o fortalecimento da democracia brasileira.

Além do compromisso da nova gestão da EBC com a Comunicação Pública, é fundamental que o governo Lula invista recursos financeiros na EBC que permitam à empresa se fortalecer e se consolidar como um verdadeiro porto seguro contra a desinformação que corrói o debate público.

A EBC pode ser muito mais do que uma empresa pública de comunicação. Pode ser um farol em tempos de sombra informacional. Mas, para isso, é preciso reorientar seu rumo. E essa hora é agora.

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