Jornalismo perde 18% dos empregos com carteira assinada nos últimos 10 anos

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Nordeste avança e funções digitais ganham espaço, segundo estudo elaborado pelo Dieese para a FENAJ

O emprego formal nas funções jornalísticas no Brasil passou por profundas transformações entre 2006 e 2023. O setor viveu seu auge em 2013, com mais de 60 mil vínculos ativos, mas acumulou uma retração de 18% nos dez anos seguintes, influenciado por crises econômicas, pandemia, transformações tecnológicas e mudanças nos modelos de negócio da imprensa, de acordo com análise de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED).

Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), elaborado a pedido da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), o número de vínculos formais no jornalismo caiu de 60.899 em 2013 para 49.917 em 2023. A queda foi mais acentuada em estados como Goiás (-48%), Espírito Santo (-44,7%) e Santa Catarina (-36,8%). São Paulo, maior polo do setor, perdeu 4,5 mil vagas no período — uma redução de 25,5%.

Entretanto, a retração não foi uniforme. Estados do Nordeste e do Norte tiveram crescimento expressivo, como a Bahia (+45,4%), o Piauí (+36,3%), Alagoas (+35,2%) e o Pará (+15%). O Ceará também apresentou saldo positivo de 12% no número de vínculos. O Nordeste, que em 2006 concentrava 14,4% dos empregos formais na área, saltou para 23,6% em 2023 — ultrapassando um quinto do total nacional.

“Essa mudança na geografia do jornalismo aponta para uma descentralização da atividade, antes fortemente concentrada no Sudeste, cuja participação caiu de 50,8% para 45,3% entre 2006 e 2023”, avalia a presidenta da FENAJ, Samira de Castro.

Reconfiguração das funções

Além da redistribuição regional, o estudo revela uma reconfiguração ocupacional. Funções tradicionais como editor de revista (-66,7%), repórter fotográfico (-61,1%) e revisor de texto (-50,3%) sofreram fortes quedas nos últimos dez anos. Em contraste, cargos ligados à comunicação digital e institucional cresceram, como editor de mídia eletrônica (+55,8%), designer gráfico (+20,3%) e assessor de imprensa (+14,1%).

Em 2023, jornalistas e assessores de imprensa somavam 44% de todos os vínculos formais no setor. A tendência indica um deslocamento das redações para atividades de assessoria, comunicação institucional e mídias digitais.

Dados mais recentes apontam continuidade da retração

A movimentação mais recente do Novo CAGED (jan/2024 a jan/2025) confirma o encolhimento. Foram 10.766 desligamentos e 10.408 admissões, gerando um saldo negativo de 358 postos. Os maiores recuos ocorreram em São Paulo (-252), Minas Gerais (-86) e Paraná (-57). Por outro lado, o Distrito Federal (+95), Paraíba (+60) e Rio Grande do Norte (+32) figuraram entre os poucos com saldos positivos.

A função de editor liderou as perdas no período recente (-221), seguida por jornalista (-70) e diretor de redação (-62). Já assessor de imprensa foi a ocupação com maior saldo positivo (+87).

O futuro do emprego formal no jornalismo

O estudo alerta que os números podem subestimar o real tamanho do mercado, já que excluem profissionais contratados como pessoa jurídica ou freelancers — modelos que vêm crescendo com a digitalização e precarização das relações de trabalho.

“Ainda assim, os dados refletem um cenário em transformação: o jornalismo brasileiro caminha para um modelo menos centralizado, mais digital e institucionalizado, em meio a desafios estruturais que colocam em xeque a sustentabilidade das redações e o jornalismo como profissão tradicional”, avalia Samira de Castro.