Monitoramento de ataques à imprensa no início do 2º turno confirma o TikTok como novo espaço de violência contra jornalistas e veículos

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Embora com o fim do primeiro turno das eleições tenha diminuído o número de postagens sobre o contexto eleitoral, foi possível verificar que as práticas de ataques a jornalistas e veículos de comunicação utilizadas desde o início do período eleitoral se mantém. Foi o que mostrou o monitoramento de ataques on-line contra a imprensa realizado de 7 a 13 de outubro, nona semana de campanha. Neste período foram contabilizados 920 ataquesnas plataformas monitoradas – X (antigo Twitter), Instagram e TikTok.

A semana foi marcada pela volta do funcionamento do X no país, após a liberação pelo STF no dia 8 de outubro. O volume de publicações com ofensas, entretanto, diminuiu em relação ao relatório anterior, somando 127 ataques. No Instagram, além da redução das postagens sobre as eleições , o número de ataques também apresentou queda. Considerando as  868 contas e os 596 termos ofensivos monitorados, foram registradas 449 postagens de ataque à imprensa.

Fonte: Labic/UFES]
Fonte: Labic/UFES]

O destaque ficou para a confirmação do TikTok como novo espaço de violência contra jornalistas. Mesmo com a diminuição na quantidade de vídeos sobre eleições publicados, foram registrados 344 ataques, número proporcionalmente maior que nos relatórios anteriores.

Fonte: Labic/UFES]

Episódios específicos em capitais onde haverá segundo turno mobilizaram os ataques à imprensa nesta semana.  Foi o caso das análises feitas por jornalistas sobre o resultado das eleições de São Paulo. Algumas deram ênfase à saída do candidato Pablo Marçal da disputa e foram alvos de seus eleitores. A cobertura da tensão entre Jair Bolsonaro e Silas Malafaia envolvendo as eleições em São Paulo e Curitiba também resultou em agressões a jornalistas e meios de comunicação.

Fonte: Labic/UFES]

A análise da disputa em segundo turno entre o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) e Guilhermo Boulos (PSOL) motivou ataques também por parte de usuários de esquerda contra a jornalista e colunista da Rádio CBN, Vera Magalhães, que já havia sido uma das mais agredidas nas redes durante o primeiro turno. Termos como “jornalista tendenciosa”, “ridícula”, “passar vergonha” e “péssima jornalista”foram encontrados em comentários da publicação de Vera Magalhães sobre cenários possíveis para a eleição de São Paulo.

Veículos e jornalistas mais atacados no período

Como observado em outros relatórios, a principal hashtag de ataque ao jornalismo continuou sendo #globolixo, assim como seguiu a predominância de hashtags ofensivas que mencionam a Rede Globo (#globolixoooo, #globoesgoto, #foraglobolixo). Entretanto, é importante ressaltar que os ataques não se concentram em uma só empresa. Tanto no X como no Instagram, o discurso ofensivo à imprensa como um todo aparece em  hashtags como #consorciodaimprensalixo, que reforça a crítica contra todo o jornalismo e não somente contra um veículo específico.

Os cinco meios mais visados no Instagram e no TikTok no período confirmam esse ataque generalizado, onde a Rede Globo aparece apenas em quarto lugar, com 34 menções, atrás do Conexão Política (@conexaopolíticabrasil) com 133, Rede Bandeirantes com 103, O Povo Online (@opovoonline) com 34 e Diário do Nordeste (@diariodonordeste) com 19.

Fonte: Labic/UFES

Já os jornalistas mais atacados no Instagram no período foram Vera Magalhães (@veramagalhaesjornalista), com 22 postagens ofensivas, seguida por Joel Pinheiro (@joelpinheiro85) com 13, Ricardo Noblat (@blogdonoblat) com 10, Leonardo Sakamoto (@leosakamoto) com 4 e Natuza Nery (@natuzanery) com 3.

O cenário de generalização muda um pouco no TikTok. Diferentemente do período anterior, quando as hashtags ofensivas foram direcionadas também à Band (#desligaaband) e hashtags mais gerais (#midiapodre e #jornazista), no relatório desta semana, os ataques foram direcionados majoritariamente à Globo, com destaque para termos como #desligaaglobo e não #globolixo, embora este último tenha sido citado 42 vezes apenas na última semana.

Dos profissionais mais atingidos, o destaque fica para a jornalista Adriana Araújo, da TV Bandeirantes, com 107 postagens ofensivas, após a publicação de vídeo com cortes da matéria que citava o candidato Pablo Marçal. A postagem incitoua audiência e gerou ataques não só pessoais, mas contra jornalistas em geral, com termos como “vergonha jornalismo (jornalista/jornalistas)”, “jornalismo lixo”, “jornalista militante” e “mídia podre”, por exemplo.

Fonte: Labic/UFES

Índice de toxicidade

Em parceria com o ITS-Rio, a CDJor também analisou o grau de toxicidade nas mensagens e nos comentários postados contra jornalistas e meios de comunicação nas três redes sociais monitoradas. Utilizando tecnologia de API do Google, cada comentário recebe um valor entre 0 e 1 em diversos parâmetros de análise. Quanto maior o valor, maior a chance de um usuário perceber aquele comentário como tóxico. Estabelecendo um grau de toxicidade para cada postagem analisada, é possível perceber um parâmetro de quão tóxico é o ambiente da plataforma em relação à imprensa.

No período deste relatório, a média de toxicidade das postagens analisadas no TikTok foi de 0,4, tendo o post mais tóxico atingido o índice de 0,92.  Ele teve como alvo a jornalista Adriana Araújo, que foi chamada de “Jornalista hipócrita e babaca merda de jornal“.

No X, a média de toxicidade das postagens foi de 0,33, onde o post mais tóxico atingiu 0,86. Já o Instagram apresentou a menor média de toxicidade entre as três plataformas analisadas, 0,22.

Fonte: ITS-Rio

Ataques fora das redes

O período foi marcado pela entrada de duas representações perante a justiça eleitoral, por parte da candidata à prefeitura de Curitiba Cristina Graeml (PMB) e seu vice Jairo Ferreira Filho que buscam impedir a divulgação de informações relativas a denúncias de prática de crime financeiro que pesam contra Ferreira Filho e que vieram à tona após entrevista concedida por Graeml à Jovem Pan. Além da emissora, outros 7 veículos são alvo das tentativas de censura. Os pedidos foram julgados improcedentes em primeiro grau nos dois processos pelo juiz Marcelo Mazzali, que entendeu não haver qualquer divulgação de notícia inverídica, pois as acusações se provaram verdadeiras. Há recursos pendentes de julgamento.

Sobre o projeto

Este é o sétimo relatório de monitoramento de ataques on-line contra a imprensa nas Eleições de 2024, que cobre de 7 a 13 de outubro. O projeto é realizado em parceria com o Labic/UFES e o ITS-Rio. A Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor) monitora, desde o dia 15 de agosto, contas de jornalistas, meios de comunicação e de candidatos/as em todas as capitais do Brasil, nas plataformas de redes sociais X, Instagram e TikTok.

São registradas postagens com termos e hashtags ofensivas e estigmatizantes contra o trabalho da imprensa no âmbito da cobertura eleitoral. Episódios de ataques e violações ao trabalho da imprensa fora das redes também estão sendo acompanhados. A análise dos principais resultados do levantamento será publicada toda semana, até a realização do segundo turno. Ao final das eleições, um relatório consolidará a avaliação do período monitorado e trará recomendações às autoridades e plataformas digitais.

Integram a Coalizão em Defesa do Jornalismo: Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Ajor (Associação de Jornalismo Digital), Artigo 19, CPJ (Comitê para a Proteção de Jornalistas), Fenaj (Federação Nacional de Jornalistas), Instituto Palavra Aberta, Instituto Vladimir Herzog, Instituto Tornavoz, Intervozes, Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação) e RSF (Repórteres Sem Fronteiras).