SJSP e FENAJ repudiam chacina cometida pelo governador Cláudio Castro (RJ)

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Rio de Janeiro (RJ), 28/10/2025 – Dezenas de corpos são trazidos por moradores para a Praça São Lucas, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro.
Foto: Tomaz Silva /Agência Brasil

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) repudiam a horrenda, monstruosa chacina praticada pela Polícia Militar e pela Polícia Civil do Rio de Janeiro na noite de 28 para 29 de outubro — a execução de pelo menos 117 moradores pretos e pobres de uma região de favelas, em poucas horas, durante a “Operação Contenção” — e advertem que o Terrorismo de Estado continua a ser exercido no Brasil, a serviço das classes dominantes, quarenta anos após o final da Ditadura Militar (1964-1985).

O governador Cláudio de Castro (MDB) nunca escondeu seu fascismo, e esta é a quarta chacina praticada sob seu comando. Ele superou até mesmo a terrível matança promovida pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) na Baixada Santista, em duas etapas (2023 e 2024), a qual somou, segundo a respeitada entidade de direitos humanos Conectas, “84 pessoas mortas e evidências de execuções sumárias e tortura”.

No entanto, há diversas evidências de que esse novo episódio de Terrorismo de Estado perpetrado pelo governo do Rio de Janeiro contra a população da empobrecida periferia carioca, essa escalada fascista cometida a pretexto de “guerra ao narcotráfico”, pode estar ligada às recorrentes articulações golpistas contra o governo federal e às ingerências do governo Trump no Caribe e na América do Sul.

Primeiro, há o fato estarrecedor de que o governador Castro enviou ao governo Trump um relatório sobre a facção Comando Vermelho, cometendo assim um crime contra o ordenamento jurídico nacional e uma atitude de vassalagem frente a uma potência estrangeira, os EUA. Depois, há a vergonhosa e sórdida declaração do senador Flávio Bolsonaro (PL), que pediu a Trump que bombardeie, em águas brasileiras, embarcações supostamente envolvidas com o narcotráfico, como já vem fazendo no Caribe com barcos de nacionalidade venezuelana e colombiana.

Além disso, a matança nos chamados “complexos” da Penha e do Alemão ocorre num momento em que o julgamento dos golpistas de 2022-2023 — que primeiro tentaram assassinar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes e, depois que fracassaram, organizaram as depredações e invasões de 8 de janeiro — prossegue célere no Supremo Tribunal Federal (STF), com duras condenações. Dois dos quatro grupos de réus já foram julgados: o principal, que inclui Bolsonaro, os generais Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Nogueira e o almirante Garnier (todos recorreram), e o chamado “núcleo da desinformação”. Um terceiro grupo começará a ser julgado em 11 de novembro, e o restante em dezembro.

Por fim, a carnificina ordenada por Castro acontece num momento favorável para o governo federal, que conseguiu implementar algumas medidas importantes para a população, como a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, e para os movimentos sociais, que saíram às ruas e conseguiram derrotar a chamada “PEC da Bandidagem”.

Coincidentemente, um momento também de forte exposição dos crimes cometidos pela Ditadura Militar, e de reafirmação da luta por “memória, verdade e justiça”, como prova o ato inter-religioso realizado em 25 de outubro último na Catedral da Sé, na capital paulista, com marcante participação de jornalistas e deste SJSP.

Desse modo, não há como escapar à conclusão de que a operação de extermínio realizada na Penha e no Alemão pode ter sido deliberadamente concebida com a finalidade de embaralhar o processo sucessório de 2026, tumultuar o ambiente político nacional e favorecer novas pressões dos EUA sobre o governo Lula e novas tentativas de ingerência de Trump nas questões nacionais brasileiras, num contexto de agressão bélica norte-americana à Venezuela.

Assim, SJSP e FENAJ exortam o governo federal a tomar enérgicas e imediatas providências contra a espúria associação de mandatários brasileiros a interesses de potências estrangeiras, bem como a tomar medidas que coíbam o Terrorismo de Estado, a exemplo dos questionamentos enviados pelo STF ao governo do Rio de Janeiro. O governador Castro revelou-se um matador em série e é o principal responsável pelo terrível crime cometido contra a população periférica carioca na noite de 28 para 29 de outubro. Não é possível que ele permaneça impune.

São inúmeras as evidências de que a maioria dos mortos foi vítima de torturas e execuções, e não de confronto armado. Um jovem trabalhador teve a cabeça arrancada por policiais. Vários corpos foram recuperados pelas próprias famílias numa área de mata. Mais uma vez, o trabalho de perícia foi impedido e sabotado pela própria polícia, que chegou ao requinte de proibir a entrada da Defensoria Pública no Instituto Médico-Legal.

O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), que é pastor e fundador do Ministério Missão de Vida, relatou na tribuna da Câmara dos Deputados que pelo menos quatro jovens evangélicos de famílias pertencentes à sua igreja, sem qualquer envolvimento com o crime organizado, “meninos que nunca portaram fuzis”, foram assassinados por forças policiais. “Preto, correndo em dia de operação na favela, é bandido. Preto, com chinela havaiana, sem camisa, pode ser trabalhador — correu, é bandido”, disse o deputado.

Por fim, SJSP e FENAJ destacam o caráter indispensável do trabalho jornalístico sério e independente, nessas circunstâncias tão opressivas e trágicas. É necessário que seja garantida a segurança e plena liberdade para que profissionais realizem as apurações necessárias para levar informações de interesse público à população a respeito desse massacre.

Devemos ressaltar, por fim, que jornalistas devem se pautar pela verdade dos fatos, e não pelas inclinações editoriais enviesadas dos grandes meios de comunicação, sempre dispostos a endossar as versões genocidas de governantes como Castro, a replicar a retórica de “guerra às drogas” e a naturalizar as ações imperialistas dos EUA contra países sul-americanos.

Não se pode aceitar que esses grandes meios pratiquem, em relação às atrocidades que acabamos de presenciar na capital carioca, negacionismo e racismo idênticos aos que praticaram e ainda praticam com relação ao genocídio que Israel perpetra em Gaza (e na Cisjordânia) e que já ceifou a vida de mais de 68 mil palestinas e palestinos.

São Paulo, 30 de outubro de 2025

Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo

Federação Nacional dos Jornalistas