Pesquisa quer ouvir correspondentes internacionais sobre condições de trabalho 

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O objetivo é identificar a percepção de freelancers e empregados sobre a precarização e seus possíveis impactos na qualidade do conteúdo jornalístico

O enxugamento das redações em todo o mundo resultou em cortes expressivos na editoria internacional. O posto de correspondente, que durante décadas foi considerado a coroação de uma carreira jornalística, vem passando por várias transformações, sobretudo nas condições de trabalho. Uma pesquisa está avaliando como os próprios correspondentes e freelancers brasileiros percebem esse novo contexto laboral — e como a precarização impacta na produção jornalística.

“Há décadas, o perfil do reportariado no exterior vem mudando; agora nos interessa saber como o próprio profissional faz a leitura de seu processo produtivo e as imbricações com o fazer jornalístico”, explica a pesquisadora Maria Cleidejane Esperidião, vinculada ao Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT), criado há mais de duas décadas na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). 

O estudo “O correspondente precarizado: mudanças laborais do repórter brasileiro no exterior” tem duas etapas. A primeira incluiu 15 entrevistas com correspondentes e ex-correspondentes. A nova etapa é um questionário online, anonimizado, destinado a jornalistas brasileiros que atualmente residem fora do país e prestam serviços a veículos no Brasil ou a qualquer outra mídia estrangeira. Podem ser contratados, colaboradores eventuais e freelancers.

“Nas entrevistas qualitativas, já foi possível perceber que a remuneração de freelancers é incompatível com o custo de vida nos países e outros indicadores de precarização prevaleceram nas respostas, como a multifuncionalidade e a instabilidade de renda”, explica a pesquisadora. 

A pesquisa insere-se em uma visão crítica sobre a precarização dos jornalistas, o avanço da pejotização, a drenagem de empregos, o adoecimento mental e a sobrecarga de trabalho. “A disponibilização excessiva, controlada por ferramentas, plataformas e serviços de mensageria, também aparece como um fator frequente de estresse, como se as pessoas não tivessem direito à desconexão”, relata. “É, sobretudo, um projeto de diagnóstico e de memória desses trabalhadores, em uma perspectiva não romantizada”, complementa a pesquisadora.

O formulário pode ser acessado aqui. O estudo é supervisionado pela professora Dra. Roseli Figaro, coordenadora do CPCT, conta com apoio institucional da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Maria Eduarda da Costa Santos, jornalista graduada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), é assistente da pesquisa para tratamento, prospecção e análise de dados.

Sobre a coordenadora da pesquisa

Maria Esperidião é jornalista, pesquisadora e professora. Foi consultora sobre desinformação e violência online contra jornalistas no Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, na sigla em inglês). Foi curadora do Congresso Internacional da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), onde atuou como gerente executiva. Bolsista do Reuters Institute for the Study of Journalism, desenvolveu uma pesquisa sobre a cobertura internacional da epidemia do Zika. Foi também visitante do programa de produção e roteiro para documentários da Royal Holloway, University of London. 

Durante mais de 20 anos trabalhou na TV Globo, no Recife, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Por 15 anos, foi editora internacional do Jornal Hoje e do Jornal Nacional. Recentemente, trabalhou como roteirista em programas de variedade dos Estúdios Globo. Antes de migrar para São Paulo, foi repórter e editora do Jornal do Commercio, no Recife. Também lecionou na Universidade Católica de Pernambuco, na Universidade Federal do Rio de Janeiro e na Faculdade Cásper Libero.

Atualmente, é pós-doutoranda do Centro de Pesquisa Comunicação e Trabalho (CPCT), da Universidade de São Paulo (USP), com foco na precarização dos correspondentes internacionais.