As mulheres são sempre o primeiro alvo do extremismo, alerta a FIJ

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Na véspera do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres (25 de novembro), a Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) e seu Conselho de Gênero alertam que o crescimento global do extremismo representa uma ameaça sem precedentes aos direitos das mulheres e à segurança das mulheres jornalistas.

O Conselho de Gênero da FIJ, que representa mulheres e homens jornalistas afiliados aos sindicatos membros da FIJ e que defendem a igualdade de gênero em todo o mundo, expressou profunda preocupação com a expansão de movimentos extremistas que estão minando os direitos das mulheres globalmente e impulsionando ataques direcionados contra mulheres jornalistas. Esses ataques ocorrem especialmente por meio de abusos online, assédio, violência e campanhas coordenadas de desinformação.

No Afeganistão, as autoridades talibãs restringiram sistematicamente a educação e o emprego de mulheres, resultando na saída de muitas jornalistas da profissão. Uma pesquisa do Sindicato Nacional de Jornalistas Afegãos (ANJU), afiliado à FIJ, revelou uma queda dramática no número de jornalistas mulheres em atividade e um enorme aumento nos casos de discriminação. O levantamento mostrou que 87% das mulheres jornalistas no Afeganistão sofreram discriminação de gênero durante o regime talibã e 60% delas perderam seus empregos e carreiras.

Em alguns países europeus, partidos políticos de extrema direita têm promovido políticas que minam direitos reprodutivos e a igualdade de gênero. O partido Fratelli d’Italia, liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni, tem defendido políticas pronatalistas e se oposto ao que chama de “ideologia de gênero”. Jornalistas investigativas, como Marilù Mastrogivanni e Federica Angeli, receberam ameaças de morte e foram colocadas sob proteção policial. Na Espanha, o partido de extrema direita Vox iniciou uma campanha difamatória contra a jornalista Cristina Fallarás, após seus comentários classificando o partido como fascista e racista.

Na Argentina, apoiadores do presidente Javier Milei têm mirado jornalistas e ativistas pelos direitos das mulheres. Neste ano, o presidente publicou mais de 65 posts no X atacando a jornalista Julia Mengolini com comentários misóginos. Jornalistas mulheres que cobrem pautas de gênero no país relataram ter enfrentado uma onda de ameaças contra elas.

Um relatório publicado em 2025 pelo NUSOJ, o Sindicato de Jornalistas da Somália afiliado à FIJ, mostrou como o contexto político e de segurança no país agrava os ataques contra mulheres jornalistas. Grupos terroristas como Al-Shabaab e ISIS, assim como grupos religiosos extremistas, ameaçam e atacam mulheres jornalistas para silenciá-las.

Em uma nova declaração publicada em 24 de novembro, o Conselho de Gênero da FIJ pediu legislação mais robusta para proteger os direitos das mulheres, melhor proteção para jornalistas que reportam sobre grupos extremistas e uma firme condenação pública de todas as formas de extremismo que tenham como alvo as mulheres e a mídia.

O Conselho também pediu que as redações adotem padrões éticos mais elevados para evitar a normalização de narrativas extremistas, além de uma cooperação mais estreita com plataformas digitais para conter ameaças e assédio online, e a ampliação de esforços de educação midiática para combater desinformação e narrativas misóginas. Por fim, o Conselho defendeu a proteção de esferas públicas pluralistas e democráticas, para que atores extremistas não possam silenciar jornalistas ou prejudicar o debate sobre igualdade de gênero e dignidade humana.

A presidente do Conselho de Gênero da FIJ, Maria Ángeles Samperio, afirmou: “Sem políticas de gênero robustas e aplicáveis, e sem proteção real para jornalistas que cobrem atividades da extrema direita, todo o progresso pelo qual lutamos pode ser desfeito num instante. Precisamos que governos, redações e plataformas digitais ajam com urgência para fortalecer a legislação, elevar os padrões éticos do jornalismo e enfrentar as campanhas tóxicas online que buscam nos silenciar, como jornalistas. Proteger os direitos das mulheres e garantir um jornalismo diverso e destemido não é opcional; é a base de qualquer sociedade democrática e humana.”

O secretário-geral da FIJ, Anthony Bellanger, acrescentou: “No dia 25 de novembro, a FIJ reafirma sua rejeição inequívoca a todas as formas de violência contra as mulheres. A igualdade de gênero é uma pauta sindical e não permitiremos que os direitos das mulheres sejam minados ou silenciados em nossos locais de trabalho e em nossa profissão.”