Assessoria é o segmento que mais cresce na profissão

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foto_fabia_lourdecaEstamos próximos do início do XV ENJAC. Nesta edição, abordamos os preparativos para o Encontro Nacional e o trabalho em assessoria de comunicação. No entanto, problemas técnicos e de agenda impediram a participação da Vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, Janice Caetano Barreto.

Perguntas mais voltadas à organização e estrutura do ENJAC, que nos foram encaminhadas por Raquel Tavares, de Sete Lagoas (MG), e Rolf Vianna, da AURACOM, serão respondidas por Janice posteriormente. Já as de caráter mais geral são apreciadas nesta coletiva virtual pelas Diretoras do Departamento de Mobili_ação em Assessoria de Imprensa da FENAJ Fábia Gomes e Maria de Lourdes da Paixão Augusto, a Lourdeca.

Também diretora do Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco, Fábia Gomes tem 14 anos de profissão, atuando prioritariamente na área de assessoria de comunicação. Trabalhou para empresas, órgãos públicos, parlamentares, sindicatos e ONG’s. Foi Diretora de Imprensa da Câmara do Recife e trabalhou, também, em assessoria de campanhas eleitorais.

Com mais de 20 anos de atuação em redação, reportagem e edição de revistas e jornais de empresas e entidades de classe, assessoria de imprensa, coordenação e atualização de sites, além de atuar no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Lourdeca presta Assessoria de Imprensa para a Academia Brasileira de Audiologia.


E-FENAJ – As assessorias de comunicação são hoje um dos principais espaços de atuação no mercado de trabalho para jornalistas. Mas, certamente também aí, como em outros espaços de exercício da profissão, existe o convívio com irregularidades. Quais você destaca principalmente e quais as perspectivas de superá-las?

Fábia Gomes – Como nos demais segmentos de trabalho dos jornalistas, as assessorias também são alvo de precarização, ou seja, há casos onde faltam registro em carteira de trabalho, ou o contrato é via pessoa jurídica – o conhecido PJ -. Os salários pagos em nível nacional não condizem com a remuneração justa que um jornalista deve receber. Com exceção dos estados de São Paulo e Minas Gerais, os demais não possuem convenção/acordo coletivo de trabalho e as relações profissionais sofrem com a ausência de um instrumento que as regulamente.
Um outro ponto que destacamos é a invasão do mercado por pessoas sem habilitação profissional. E aqui não me refiro aos colegas relações públicas, mas a pessoas sem qualquer formação na área de comunicação e, ás vezes, sem formação universitária. 

Lourdeca – O maior problema em Assessorias de Comunicação está na falta de registro em carteira profissional. As grandes e pequenas agências de assessoria contratam em regime de pessoa jurídica os jornalistas, o que é ilegal. A perspectiva é de que as agências tenham consciência do cumprimento da legislação, pois com certeza terão maiores prejuízos quando estes jornalistas entrarem na Justiça reclamando seus direitos trabalhistas. O próprio Sinco – Sindicato Nacional de Empresas de Comunicação recomenda aos seus filiados que cumpram a legislação.

E-FENAJ – Admar Branco, que é assessor do Sinpro/RJ, comenta que um dos problemas causados pela ausência de uma Convenção Coletiva de Trabalho para assessores de comunicação é a falta de norma que obrigue o contratante à observância da data-base e dos índices de reposição salarial da categoria. O Admar quer saber o que falta para esse importante passo e para que o pessoal de assessoria possa ter seus direitos assegurados?

Lourdeca – No XV ENJAC haverá uma mesa com representantes da FENAJ e Sinco para discussão de uma Convenção Coletiva Nacional a exemplo do que existe em São Paulo. Há anos temos uma convenção entre o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e o Sinco para o segmento de Assessoria de Comunic_ção. Por sinal esta é a melhor convenção da categoria em São Paulo, pois sempre alcança os melhores índices de reajuste.

Fábia Gomes – Sem dúvida Ademar, a falta de um acordo ou convenção coletiva faz uma falta enorme para nós. O segmento de assessoria, embora seja o que mais cresça e ofereça hoje vagas no mercado de trabalho, é, talvez o mais difícil de mobilizar. Talvez porque seja extremamente pulverizado ou porque os locais as áreas de atuação sejam muito diversas e com características um pouco diferentes: empresas de assessoria, assessorias do serviço público, em ong’s, sindicatos, empresa privadas e por aí vai. O fato é que muitos sindicatos encontram dificuldades ou ainda não encontraram a fórmula de mobilizar melhor o segmento. Sempre acreditei e defendi que nós que trabalhamos no segmento de assessoria devemos nos organizar e cobrar dos sindicatos ações específicas. Não é um processo rápido, nem fácil. A nossa cultura é de trabalhar e dirigir nossas ações, predominantemente, para as redações de jornais e emissoras de rádio e TV. Acho que outro passo importante, pelo menos para os colegas que trabalham em empresas de assessoria, é o debate que a Fenaj está buscando junto ao Sinco – Sindicato Nacional das Empresas de Comunicação para se firmar uma convenção coletiva de trabalho em nível nacional. Em Pernambuco que é a minha base, por exemplo, temos um acordo com o Sindicato dos Bancários, que emprega quatro jornalistas e no último dia 28, ao final do III Encontro Estadual de Jornalistas em Assessoria de Comunicação, aprovamos uma proposta de pauta para deflagrar a campanha salarial do segmento e aprovamos uma proposta que recomenda que a Fenaj encaminhe a proposta de uma convenção nacional.

E-FENAJ – O Deputado federal Bismarck Maia (PSDB-CE) considera que a relação profissional entre os assessores de comunicação e as redações vem melhorando nos últimos anos, mas que antes o assessor era visto como “chapa branca”, ou desprezado pelas redações. Segundo ele, algumas escolas ainda pregam que o assessor de comunicação não é jornalista. Ele pergunta por que a discriminação ainda persiste?

Fábia Gomes – A relação melhorou muito. Na verdade algumas pessoas – de dentro e de fora da categoria – viam os assessores como uma espécie de “leão de chácara” que defendia, ou deveria defender, seu assessorado com unhas e dentes. Ou, ainda, era visto como um mero porta-voz. Isso se deveu, muito, pela herança do regime militar, onde os cargos e funções de assessoria de imprensa eram ocupados por militares. A cultura mudou porque a categoria mudou, ocupou seu espaço no mercado. Infelizmente, algumas pessoas ainda têm uma visão equivocada do trabalho em assessoria de comunicação e usam essa “pérola” de que “assessor não é jornalista”. O principal argumento dos defensores desse equívoco é que o jornalista de assessoria defenderia os interesses do seu assessorado, do patrão. E os jornalistas de redação da chamada grande imprensa defendem os interesses de quem? Eles têm autonomia para relatar os fatos, independente da visão do dono do jornal, da rádio ou da TV? O importante é que o jornalista, independente da função que exerça e do local de trabalho, preze pelo profissionalismo, pela técnica jornalística, pelo compromisso social da profissão e sobretudo pela ética.

Lourdeca _ Por causa dos próprios jornalistas, que não se dão conta que num determinado período estão atuando em jornais e em outros momentos em Assessoria de Comunicação. Nossa atuação é bem abrangente e precisamos nos despir de qualquer preconceito, pois assessor de comunicação antes de tudo é jornalista e como tal deve cumprir com sua missão de informar. O assessor deve tirar da empresa ou instituição que trabalha fatos que gerem notícia de interesse público.

E-FENAJ – A Franciane de Freitas cursa a quinta fase de Jornalismo no RS e reclama que o foco dos cursos é muito direcionado para jornal, rádio e TV. Ela informa que até o momento não teve noções teóricas para Assessoria de Imprensa e gostaria de conhecer sua opinião sobre o despreparo de estudantes e profissionais da comunicação quanto a esse ramo e como é possível ter sucesso.

Lourdeca – É lamentável que ainda existam cursos de graduação em Jornalismo que não tenham em sua grade curricular a disciplina de assessoria de comunicação, pois com certeza muitos profissionais quando receberem seus diplomas irão para assessorias exercer o Jornalismo, pois é o segmento que mais cresce na profissão. 
Os representantes da FENAJ e os demais Sindicatos do país sempre discutiram esta polêmica não só com os colegas, mas também com os coordenadores dos Cursos de Jornalismo, para que incentivem a inclusão desta disciplina. Em São Paulo, o Departamento de Cursos de Formação e Aperfeiçoamento do Sindicato dos Jornalistas tem tido grande procura para os cursos de Assessoria de Imprensa. A cada semestre são criadas duas turmas de Assessoria e estas sempre são as mais procuradas. Já estendemos para outras Regionais do Sindicato no interior paulista e litoral e sempre lotam.

Fábia Gomes – A maioria das escolas ainda não reformaram seus currículos e é necessário que os estudantes cobrem a atualização dos conteúdos programáticos para que a formação tenha maior qualidade. Existe, ainda, um hiato, entre a academia e o mercado de trabalho para o nosso segmento. Muito embora, o jornalista de assessoria vai, eventualmente, usar as mesmas ferramentas dos colegas que atuam em impresso, rádio ou TV. Seja executando ou coordenando as tarefas. Portanto, é importante ter a formação bem qualificada em todas as áreas da profissão. Como em qualquer segmento, saímos da faculdade com as noções teóricas e só a prática vai aperfeiçoar o desempenho. Aconselho a Franciane a verificar os conteúdos das disciplinas dos próximos períodos, ainda faltam três, e insistir no ensino de técnicas específicas.
Como ter sucesso? Não existe uma fórmula. Jornalismo é vocação e não adianta fazer como alguns colegas que pensaram: se não vou ter o glamour da TV, a fama dos jornais, vou pelo menos ganhar dinheiro em assessoria. É importante ter profissionalismo, responsabilidade e prazer no que se faz.

E-FENAJ – O Luiz Fernando Fonteque, estudante de Jornalismo em Goiânia, pergunta se a obrigatoriedade do diploma será tratada no XV ENJAC. E já que a pergunta dele envolve os debates que acontecerão, você poderia apontar se nos diversos encontros estaduais preparatórios já realizados surgiu alguma temática ou polêmica nova a ser apreciada no XV ENJAC?

Fábia Gomes – Não tive acesso, ainda, ao resultado dos debates nos encontros locais, a não ser as nominata_ das delegações eleitas, de alguns. A formação acadêmica, a valorização da profissão sempre permeiam nossos debates. A programação do Enjac prevê, nos grupos de trabalho, o debate de temas como o ensino de assessoria de comunicação nas universidades brasileiras, o Conselho Federal de Jornalistas e a organização sindical. Evidente que a obrigatoriedade do diploma vai ser reafirmada nos nossos debates.

Lourdeca – Esta é uma das bandeiras de valorização da profissão defendidas pela FENAJ e pelos Sindicatos dos Jornalistas no país. Certamente esta questão será abordada no XV ENJAC, mesmo porque estamos aguardando o julgamento do Recurso que a FENAJ e o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo encaminharam à Justiça. Quanto às temáticas novas, não consegui acompanhar todos os Encontros Estaduais, mas acho que o temário geral do XV ENAJC está muito interessante e que a questão do Contrato Coletivo Nacional para Assessoria da Imprensa merecerá um bom debate.

E-FENAJ – Há uma expectativa quanto à revisão do manual de Assessoria da FENAJ. Há proposições dos estados neste sentido? Quais? Além disto, quais serão os debates centrais do Encontro do Rio?

Lourdeca – Este tema está na programação do XV ENJAC e todos os Sindicatos já foram informados pelo Departamento de Mobilização em Assessoria de Comunicação para que façam a discussão com seus pares e encaminhem as sugestões à FENAJ. O Departamento fará a compilação do material e a mesma será levada ao XV ENJAC, para apreciação e votação.

Fábia Gomes – O prazo para inscrição de teses, envio das atas dos encontros regionais – à exceção dos sindicatos que tiveram dificuldades financeiras de realizarem antes – encerra nesta segunda-feira, dia cinco. Portanto, ainda não temos um mapeamento das propostas. O Enjac tem como objetivo debater as oportunidades, desafios e dificuldades do mercado de trabalho de assessoria. Nesse sentido, as relações/parcerias com empresas estrangeiras, como atuar no exterior, conflitos de área, formação de preço, ética, organização do mercado, serão pontos altos no nosso debate.

E-FENAJ – Flávio Barros nos encaminhou dois casos. O primeiro, de uma pessoa que tem dois registros, o de radialista e o “precário”, que é funcionário público municipal, tem cargo comissionado numa secretaria de estado e cobre uma Assembléia Legislativa fazendo entrevistas, cobrando por elas muitas vezes. Já o segundo, é de uma pessoa que é lotada no serviço público estadual e disponibilizada para um deputado estadual, cobrindo a respectiva assembléia para um veículo de comunicação. O Flávio diz que essa pessoa te registro de jornalista mas não é de funcionário público. Ele pergunta se pode haver punição para este tipo de casos e quais seriam?

Lourdeca – Infelizmente a liminar da Juíza que concede o registro precário dá direito de atuar no Jornalismo. A FENAJ e os demais Sindicatos são contra e estão na Justiça lutando para derrubar definitivamente este absurdo. Já ganhamos uma vez e com certeza teremos a vitória final contra este desmando judicial. O mais certo é que o Flávio comunique ao Sindicato dos Jornalistas de seu estado para que tome providências e que o Sindicato leve os casos ao presidente da Assembléia Legislativa para que valorize _ profissional habilitado com diploma de Jornalismo. Punição não há, pois a liminar garante este absurdo, mas temos que fazer gestões políticas contra esta aberração.

E-FENAJ – Obrigado Fábia e Lourdeca. Os próximos convidados de nossa coletiva virtual são Déborah Lima e Ricardo Medeiros, presidentes dos Sindicatos dos Jornalistas do Ceará e do Paraná, respectivamente. Eles abordarão como estão sendo desenvolvidas as campanhas salariais da categoria em seus estados e os desafios que estão colocados nestas negociações. Os interessados em participar devem encaminhar suas perguntas para boletim@fenaj.org.br, até 18 horas do dia 13 de setembro, especificando, na linha de assunto, Entrevistas da FENAJ.