As autoridades russas libertaram nesta terça-feira (1º/2) o jornalista brasileiro Solly Harold Boussidan, detido desde a quinta-feira, dia 27, em um centro de retenção para estrangeiros, sob a alegação de ter exercido a profissão de jornalista no país sem ter autorização necessária. Boussidan foi enviado à região da Abkházia, de onde tentará entrar na Geórgia – último país que esteve antes de entrar na Rússia.
No dia 27, Boussidan foi à prefeitura de Sochi, na Rússia, para se informar sobre as Olimpíadas de Inverno que ocorrerão na cidade em 2014. Lá, afirma ele, foi questionado sobre seu “credenciamento” para exercer a profissão de jornalista no país. Boussidan relata que afirmou ter entrado no país como turista, mas informou sobre sua profissão à imigração. A prefeitura então chamou as autoridades policiais.
A polícia levou o caso às instâncias jurídicas, e um magistrado decidiu pela detenção do brasileiro por até dez dias antes da sua deportação. Ele foi levado para um centro perto da fronteira com a Geórgia, onde dividiu uma cela com outros cinco estrangeiros. Durante o período em que ficou preso, disse que foi privado da higiene básica – pois não havia toalhas para tomar banho – e que recebeu alimentação apenas uma vez ao dia.
“O juiz não levou em consideração o fato de que o Ministério das Relações Exteriores da Rússia se disponibilizou a emitir o credenciamento necessário. Foi uma decisão injusta e totalmente arbitrária, porque não há grandes esforços para conseguir essa autorização. Por que eu iria me arriscar a trabalhar ilegalmente como jornalista na Rússia se se trata de um processo tão simples?”, questionou o brasileiro.
Segundo Boussidan, ele seria mantido detido até o dia 7 de fevereiro, quando um avião o levaria para Berlim (o jornalista também tem cidadania alemã). A libertação foi agilizada quando o ministro das Relações Exteriores da região separatista da Abkházia se disponibilizou a recebê-lo. Então, depois de seis dias detido, Boussidan foi enviado a Sukhumi, capital da Abkházia localizada às margens do Mar Negro.
“A questão agora é como vou sair daqui. Porque só há duas fronteiras: a da Rússia, para onde não posso voltar mais, e a da Geórgia. O problema é que é proibido entrar na Geórgia pela Abkházia quando você vem da Rússia”, explicou ele, fazendo referência aos desentendimentos diplomáticos enfrentados pela região. “Estou numa espécie de limbo. Amanhã o meu futuro será decidido”, disse ele por telefone ao site Terra.
Cumprimento da lei
O Terra entrou em contato com a assessoria de imprensa do Itamaraty, segundo a qual o caso foi decorrente da pura observância da legislação local. “A lei deles diz que, se a pessoa vai trabalhar como jornalista, ela tem de ter um visto específico para isso. Ele, quando cruzou a fronteira e entrou na Rússia, disse: venho como turista.”
Solly Boussidan tinha, de fato, entrado na Rússia com objetivos turísticos, quando ocorreu o atentado no aeroporto de Domodedovo, em Moscou. Como jornalista, ofereceu reportagens e exerceu sua profissão. Para o Itamaraty, as autoridades russas “não conseguiram entender que na verdade ele ia fazer turismo se não tivesse acontecido o atentado. Eles foram frios aplicando a legislação russa, e o deportaram. Os russos não fizeram nada contra a lei deles”.
Nesta condição, Boussidan fica impedido de retornar durante cinco anos à Rússia. O órgão completa que pretende agir no que for possível para contemporizar a decisão da Justiça local. “A nossa embaixada ainda vai tentar pleitear uma revisão da decisão do magistrado russo que determinou a sua deportação.”
Já a embaixada brasileira em Moscou informou – durante a negociação diplomática – que ele foi detido por uma decisão da Justiça, poder independente e soberano. E que o juiz russo cumpriu o que estava determinado em lei. Enquanto esteve detido, Boussidan chegou a pedir para sair do país por vias próprias, hipótese negada pelas autoridades russas.
Mobilização internacional
Informado da situação, o presidente da FENAJ e da Federação dos Jornalistas da América Latina e do Caribe (Fepalc), Celso Schröder, que também integra o Comitê Executivo da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) e que neste momento participa de atividades sindicais internacionais em Santiago, no Chile, adiantou que dirigentes da entidade já estão mobilizados para intervir em defesa do jornalista junto às autoridades da Rússia, Geórgia e Abkházia. “Vamos buscar contornar os problemas diplomáticos e buscar uma alternativa de bom senso para que Boussidan possa sair da região com segurança”, disse.
Fonte: site Terra, com informações complementares da FENAJ