A Comissão Nacional da Verdade colhe em Goiânia, nesta sexta-feira (18), depoimentos sobre a morte e o desaparecimento de dois estudantes secundaristas, opositores do regime militar, ocorridos em Goiás nos anos 70: Ismael Silva de Jesus, “suicidado” aos 18 anos, em uma dependência do Exército em Goiânia, e Marco Antônio Dias Baptista, desaparecido antes de completar 16 anos.
Pela manhã, no Sindicato dos Jornalistas de Goiás, com o apoio da Comissão da Verdade da entidade, integrada pelos jornalistas Antonio Pinheiro Salles, Laurenice Noleto Alves, Elma Dutra e Renato Dias, integrantes do grupo de trabalho Graves Violações de Direitos Humanos (Mortos e Desaparecidos), colheram, em sessão pública, depoimentos de familiares e testemunhos sobre o caso de Ismael.
À tarde, a CNV reuniu-se com o jornalista Renato Dias para tratar do desaparecimento de seu irmão, Marco Antônio Dias Baptista, que ocorreu provavelmente em maio de 1970, no norte do Estado, atual Tocantins. Baptista teria sido preso pela equipe do capitão Marcus Fleury, que além de oficial do 10º Batalhão de Caçadores de Goiânia, mesmo local em que Ismael foi assassinado, exercia a função de superintendente da Polícia Federal no Estado.
OS ESTUDANTES
Ismael era estudante secundarista em Goiânia e militava no PCB, quando foi preso em 08 de agosto de 1972, pouco antes de completar 19 anos, e levado para o 10º Batalhão de Caçadores, atual 42º Batalhão de Infantaria Motorizada, onde foi torturado até a morte.
Um amigo de infância, que servia naquela unidade do Exército, mas militava no PCB, o viu preso durante seu turno na sentinela. Muito rouco, Ismael disse que havia sido espancado e sofrido choques elétricos e que estava com um braço quebrado.
Após ver o amigo, o soldado foi encapuzado e levado até a sala de interrogatórios, onde ouviu o som de uma pessoa sendo arrastada. Os interrogadores perguntaram a esta pessoa se conhecia aquele soldado e Ismael negou. No dia seguinte, o Exército divulgou a morte do estudante, alegando que ele havia se suicidado por se envergonhar da prisão. A causa da morte apontada pelos legistas foi “enforcamento / asfixia mecânica”, entretanto fotos do laudo necroscópico descobertas em 1991 evidenciaram que era falsa a versão oficial, pois mostravam a vítima presa a fina corda de uma persiana.
Dias Baptista era estudante secundarista em Goiânia e é o mais jovem desaparecido da ditadura, pois sua prisão, conforme diferentes versões, ocorreu antes dele completar 16 anos, em abril ou maio de 1970. O jovem foi dirigente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas e militava na Frente Revolucionária Estudantil, ligada à VAR-Palmares.
Relatório da Marinha, em 1993, também confirmou que o desaparecimento ocorreu em 1970. Em 2005, a família venceu uma ação na Justiça Federal de Goiás que condenou a União a informar o paradeiro do jovem e localizar seus restos mortais. Em 2006, o vice-presidente José Alencar recebeu a família, mas não tinha novidades sobre o caso.
Com informações da CNV e do SJPGO