Atuando como cartunista, ilustrador e chargista desde 1974, o Secretário Geral da FENAJ, Celso Schröder, atualmente é professor da FAMECOS (PUC/RS), onde se graduou em 1983. Coordenador do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação,foi presidente do SJRS por dois mandatos. Ele inaugura o “Entrevistas da FENAJ” comentando a luta pela democratização da comunicação e a valorização da profissão de Jornalista.
EFENAJ – Adriana Santiago, da Agência Adital, no Ceará, quer saber porque a FENAJ definiu como uma de suas principais ações atualmente a Campanha de Valorização da Profissão de Jornalista?
Schrí¶der – A Federação Nacional dos Jornalistas mantêm sistematicamente ações de valorização da profissão do jornalista. Seja ao defender a legislação que exige formação específica em curso de terceiro grau de jornalismo, seja ao elaborar um programa de qualidade de ensino para servir de referência ao ensino do jornalismo ou ainda propor um Conselho Federal de Jornalistas. Assim, o que a direção e o Conselho de Representantes dos sindicatos na FENAJ propõe agora é aglutinar essas lutas num formato de Campanha para potencializar a ação dos sindicatos e articular o debate com a sociedade sobre esses temas. Do meu ponto de vista, a campanha está acertada porque, sem dúvida, lutar pela liberdade de expressão, pela regulação da profissão, pela democratização da informação, contra a precarização do trabalho entre outras frentes, são formas de valorizar a profissão.
EFENAJ – As duas perguntas que seguem são de Aderbal Filho, Jornalista Free Lance de SC. Ele questiona, primeiro, como a FENAJ tem se posicionado e o que tem feito com relação ao crescimento recente dos casos de censura prévia no país?
Schrí¶der – A FENAJ historicamente sempre se posicionou de maneira inequívoca contra a censura. Lutou no período da ditadura enquanto outras organizações, e boa parte da grande mídia sucumbiram, por medo ou cumplicidade, à violência perpetrada pelo estado autoritário. Agora vem incansavelmente pautando uma reação da sociedade a pressões de agentes políticos e econômicos privados que impedem a circulação de informação de interesse público e oprimem os jornalistas nas redações. Para isso lança nacionalmente uma campanha contra a violência que os jornalistas vêm sofrendo no país, que vão desde assassinatos até assédio moral e constrangimentos laborais.
EFENAJ – A segunda pergunta do Aderbal refere-se ao fato do presidente do Conselho de Comunicação Social, Arnaldo Niskier só ter indicado representantes dos empresários da mídia para ocupar vagas em grupos de trabalho do Ministério das Comunicações. Ele questiona se a presença da FENAJ, FNDC e demais representantes de trabalhadores no CCS não está apenas legitimando um órgão que majoritariamente representa os interesses do grande capital?
Schrí¶der – Certamente que não. Tudo que as associações de empresário da grande mídia gostariam agora é que abandonássemos esse palco de lutas. Palco, aliás, criado por nós como uma das poucas vitórias do debate constitucional. A cristalização do Conselho com uma maioria absoluta de empresários da mídia e com uma presidência e sua vice sistematicamente tomando posição ao lado desses empresários exige dos membros progressistas do Conselho, notoriamente FENAJ e FNDC, postura de denúncia permanente da privatização daquele espaço público, exigindo do Senado e da Câmara a recomposição do mesmo e, nesse momento, um comportamento da direção da mesma à altura do seu cargo. O grande problema atual é restabelecer no Conselho um espaço democrático e uma condução dos trabalhos de maneira civilizada e plural. A FENAJ e o FNDC sempre defenderam a participação em todos os espaços políticos que conseguirem, no limite óbvio que permaneçam minimamente públicos. A transmissão pela TV Senado dá minimamente o caráter público que o ambiente precisa. Nesse momento o autoritarismo e intransigência do Arnaldo Niskier são de conhecimento nacional, assim como as nossas tentativas de construir uma agenda pública de interesse social no CCS.
EFENAJ – Vitor Ribeiro, Editor do “O Jornalista”, nos encaminhou três questões. Vamos por partes. Primeiro, na sua opinião, é correto grande parte da bilionária verba publicitária do governo federal ir para uma única organização de comunicação?
Schrí¶der – Imagino que tenha diminuído um pouco a concentração de verba destinada do governo federal à publicidade. Sempre foi escandalosa a forma circular de investimento em publicidade que os governos brasileiros adotavam. Tendo a audiência como único referencial, criaram uma empresa à base de dinheiro público, que se tornou muito eficiente e com conseqüente audiência e depois usavam essa audiência para um permanente reinvestir de novas verbas. Ou seja, nunca entrou na equação qualquer resquício de política pública que tratasse a mídia com o sentido estratégico que deve ter. Isso construiu esse monopólio que conhecemos e que compromete a democracia brasileira. O governo deve construir uma política que, sem abrir mão da audiência necessária para divulgar seus atos, insira outras preocupações, entre elas a de reverter a situação vergonhosa de ocupar um dos últimos lugares no rankimg de leitura de jornal por habitantes, ou ainda promover a incidência do interesse público na maioria esmagadora das notícias veiculadas.
EFENAJ – Agora, a segunda pergunta do Vitor: uma melhor distribuição da verba publicitária governamental contribuiria para a democratização da comunicação ou não?
Schrí¶der – Sem dúvida é uma condição inicial e inarredável. Embora tenhamos que ter em conta a escala de financiamento das grandes redes, que precisam ser democratizadas e não extinguidas, e o perigo da chegada das grandes corporações internacionais, o dinheiro público para verbas publicitárias ou financiamentos devem ser tratadas de maneira a reverter a concentração histórica reforçada durante a ditadura e mantida depois.
EFENAJ – O Editor de “O Jornalista” questiona, também, se o monopólio da comunicação no Brasil continua sendo construindo com o auxílio do dinheiro público?
Schrí¶der – Não somente. Mas também. O dinheiro público criou e alimentou durante todo esse período o monopólio brasileiro. Hoje ele já é suficientemente grande para sugar, de maneira também monopolística, as verbas privadas que circulam no mercado. O que também é inconstitucional e que precisa ser regulado urgentemente, como é nos países democráticos.
EFENAJ – Obrigado Schrí¶der. Os nossos próximos convidados são os diretores do Departamento de Saúde e Previdência, Guto Camargo e Sueli de Freitas que estão organizando o 1º Encontro Nacional de Saúde do Jornalista, dias 09 e 10 de junho, em São Paulo. Se você quiser participar, encaminhe sua pergunta paraboletim@fenaj.org.br, identificando, no assunto, “Entrevistas da FENAJ”.





