Em despejo de índios, PF prende repórteres holandeses

556

O registro de uma operação da Polícia Federal para desocupação da fazenda Ita Brasília, em Antônio João (300 km de Campo Grande), no Mato Grosso do Sul, quinta-feira (15/12), ganhou repercussão internacional. Dois jornalistas da televisão pública holandesa L Link, que estavam no Brasil com visto de turista, conheceram os “rigores” da legislação brasileira. Foram detidos, multados e forçados a sair do país. A FENAJ tentou interceder em favor dos colegas estrangeiros junto ao comando da Polícia Federal em Brasília.

A repórter Tetra Anganieta Spreij e o cinegrafista Jefrim Rothuizen estavam produzindo um documentário com os índios guarani-caiuá. Eles registraram o despejo dos cerca de 700 índios pela Polícia Federal na terra de Nhanderu Marangatu, em Antônio João (MS), em cu_primento de uma decisão do Supremo Tribunal Federal favorável aos proprietários de fazendas na área. Não houve tumulto na desocupação.

Jonas Rossati, delegado que comandou a operação, justificou que adotou os procedimentos de praxe para averiguação dos passaportes. Os jornalistas foram transferidos para a delegacia de Ponta Porá, multados em R$ 414 – cada um -, autuados na Lei do Estrangeiro (6815/80) – que proíbe aqueles com visto de turista de trabalhar -, notificados a saírem do país em até três dias e, em seguida, liberados.

Alexandre Spengler – secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas do Mato Grosso do Sul (SindJor-MS), foi um dos primeiros a acorrer em defesa dos dois profissionais de comunicação que viraram notícia. Mobilizou veículos de imprensa e acionou o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade que contatou a Polícia Federal e o Ministério da Justiça.

Restou aos índios abraçarem-se, chorarem, rezarem e sentirem, mais uma vez, a dor de serem expulsos das terras que um dia foram suas. Os holandeses voltaram para casa com farto material jornalístico sobre a realidade brasileira. E nossos rigorosos governo e órgãos de segurança e justiça ficaram com o ônus de sua insensibilidade: mais um “gol contra”.