Entidades cobram ações para coibir agressões contra jornalistas

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porrada_internaA agressão praticada por policiais militares contra um repórter fotográfico, em São Paulo, e por integrantes do comando de greve dos professores municipais de Goiânia contra repórteres cinematográficos e uma repórter, ambas no dia 15 de outubro, evidenciaram, mais uma vez, a urgência de medidas para coibir a violência contra profissionais de imprensa. A FENAJ e os Sindicatos de Jornalistas cobram das autoridades e empresas jornalísticas respostas imediatas. O tema será debatido em seminário internacional a realizar-se em São Paulo no dia 21 de outubro.

O repórter fotográfico Yan Boechat, que presta serviços para várias publicações, entre as quais o Valor Econômico, IstoÉ e Época, foi espancado covardemente no dia 15 de outubro em São Paulo por um grupo de 13 policiais militares. Eles tentaram impedir que ele registrasse imagens da agressão a um manifestante durante os protestos.

Yan, que é jornalista profissional há 15 anos, foi agredido com chutes, socos e cassetetes porque estava fotografando dois policiais batendo em um dos voluntários do Grupo de Apoio aos Protestos Populares (GAPP). “Foi uma agressão gratuita, que tinha como único objetivo me intimidar e impedir que eu praticasse o saudável e fundamental ato de registrar as coisas que acontecem em uma manifestação pública”, relatou o profissional.

Ele conta que costuma utilizar capacetes durante os protestos como forma de se proteger, mas que o episódio foi extremamente grave pelo que representou. “Fui agredido pela única razão de estar com uma câmera na mão diante do abuso de poder de um representante das forças de segurança. Minha carteira da Federação Nacional dos Jornalistas, que ampliei e colei em uma antiga credencial para expor ainda mais minha condição, não foi nenhum impedimento para que o soldado da Polícia Militar iniciasse a agressão”, conta.

O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo repudiou a agressão, colocou sua assessoria jurídica à disposição do profissional e cobrou das autoridades a identificação e punição dos agressores.

O que é isso, companheiro?
Já em Goiânia, a tentativa de impedir o trabalho da imprensa com ações violentas partiu, contraditoriamente, de integrantes do comando de greve dos professores municipais. Repórteres cinematográficos da TV Serra Dourada foram agredidos fisicamente e a jornalista Maria Luísa Longo, do jornal O Popular, foi ofendida verbalmente.

Em nota emitida no dia 16 de outubro, o Sindicato dos Jornalistas de Goiás condenou as agressões. “A diretoria acredita que um líder grevista deve ter bom senso e saber respeitar os profissionais jornalistas que apenas querem informar a sociedade sobre este justo movimento. De um educador exige-se que conheça o conteúdo das matérias que ministra e também que tenha condições de repassar aos alunos conceitos de cidadania, civilidade e boa educação”, registrou a entidade.

No DF jornalistas foram atingidos “como manifestantes”
Representantes do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal se reuniram na terça-feira, dia 15, com o Secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Torres Avelar, para tratar do aumento da violência contra jornalistas e solicitar garantias à segurança dos profissionais de imprensa, em especial na cobertura de protestos e manifestações, e relataram excessos da polícia no feriado da independência. Além de reafirmar o posicionamento do SJPDF na defesa das liberdades de expressão e de imprensa, Wanderlei Pozzembom, coordenador geral do SJPDF, cobrou providências. “Temos preocupação com os trabalhadores, pois 2014 é um ano de eleições e também de Copa do Mundo. Os jornalistas estão cercados por todos os lados. Precisamos resolver essa situação”, disse.

O secretário justificou que a polícia tem trabalhado no seu limite. Disse também que as agressões aos jornalistas no dia 7 de setembro ocorreram devido a falta de identificação com coletes. “Para mim os jornalistas não foram atingidos na condição de profissionais, mas sim como manifestantes”, frisou.

O SJPDF solicitou ao secretário que tomasse providências antecipadas de prevenção contra a violência e agisse com transparência. Pozzembom sugeriu a realização de um evento para os jornalistas com a participação da secretaria de segurança. “A nossa intenção é discutir o tema e darmos a oportunidade para os jornalistas elencarem propostas de medidas de segurança para a categoria”, ressaltou Wanderlei. O secretário não adiantou qualquer medida mas afirmou que tem interesse em participar do evento e se colocou à disposição do SJPDF.

Resquícios da ditadura
No Rio de Janeiro, onde participou de um colóquio sobre segurança de jornalistas no encerramento do Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), a ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, declarou à imprensa que os recentes ataques da Polícia Militar a jornalistas que cobrem protestos representam “resquícios da ditadura militar” que governou o país por mais de duas décadas.

A expectativa da SDH é ter pronto até dia 10 de dezembro, quando se comemorará os 65 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o relatório de um grupo de trabalho – composto por representantes da Abraji, ANJ, FENAJ, ABI e Aberje – que estuda a federalização de crimes contra os jornalistas.

Seminário internacional
No dia 21 de outubro, no Itaú Cultural, em São Paulo, será realizado o Seminário Internacional sobre Violência contra Jornalistas. O evento, que integra a programação do 35º Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, contará com as participações de Jim Boumelha, presidente da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), Celso Schröder, presidente da Federação dos Jornalistas da América Latina e Caribe (FEPALC) e da FENAJ, da jornalista mexicana Anabel Hernández e do presidente executivo do Newseum e Freedom Forum de Washington D.C., James C. Duff.