Federação dará seqüência à luta pela valorização

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foto_sergio2Nesta última edição de nossa coletiva virtual em 2005, as perguntas encaminhadas pelos participantes foram centralmente relacionadas à regulamentação e valorização profissional, ao trabalho em assessoria de imprensa e a “disputa” entre jornalistas e relações públicas, às perspectivas da TV digital no Brasil, às posturas da FENAJ em relação ao governo federal e à relação entre a imprensa e o governo. Quem responde aos questionamentos é o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade.

Com a experiência de quem acompanha atentamente o trabalho dos jornalistas e suas entidades em todo o país, Sérgio Murillo faz um balanço positivo de 2005 e assegura: “a maioria dos jornalistas tem procurado desempenhar seu papel com ética e dignidade profissional”.

E-FENAJ – A equipe do site “O Jornalista” congratula-se com a FENAJ pela luta em favor da reconquista do diploma e encaminhou as seguintes perguntas: com a suspensão da exigência do diploma, muitos proprietários de veículos de comunicação demitiram jornalistas e contrataram estagiários por salários irrisórios. Como a FENAJ pretende enfrentar este problema? Inúmeras profissões têm seus Conselhos de classe, mas os jornalistas não. E embora muitos colegas critiquem nossos sindicatos por considerarem que são pouco atuantes, também são contra o CFJ. Como superar este impasse? “O Jornalista” também quer saber como a FENAJ avalia as críticas que o presidente Lula fez à imprensa brasileira?

Sérgio Murillo – A FENAJ entende que o estágio, acompanhado pelos Sindicatos, é um importante instrumento de COMPLEMENTAÇÃO da formação acadêmica. No entanto, estágio sem a supervisão dos Sindicatos e fora dos parâmetros definidos no Programa de Estímulo à Qualidade do Ensino é exercício irregular de profissão e deve ser tratado como todas as formas de precarização das relações de trabalho. Nesse, e em outros casos, é necessário solicitar a intervenção das delegacias regionais do trabalho para autuar as empresas. Na verdade, essa dependência da fiscalização do Ministério do Trabalho limita bastante a atuação dos Sindicatos. Por isso, tamb&ea_ute;m, lutamos para criar um Conselho para a nossa profissão. Em relação às críticas do Presidente Lula à imprensa, acho que ele comete o mesmo erro de quem generaliza sem critérios. É claro que existem excessos e, até mesmo, atuação partidária de alguns profissionais e veículos. A própria FENAJ denunciou, em nota oficial sobre a crise política, uma tentativa de parte da mídia em nivelar por abaixo a esquerda no Brasil. Mas também é preciso dizer que a maioria dos jornalistas tem procurado desempenhar seu papel com ética e dignidade profissional. Aproveito a oportunidade para cumprimentar a equipe do site O Jornalista que sempre prestigia as entidades representativas da categoria. 

E-FENAJ – Perguntas sobre a organização da categoria e sobre a política em geral também nos foram encaminhadas pela Adriana Santiago, de Fortaleza, que é diretora do Sindicato dos Jornalistas do Ceará e assessora de comunicação do Orçamento Participativo da prefeitura da capital. Ela pergunta como a FENAJ pretende retomar a luta pelo CFJ? Também informa que tem recebido muitas críticas sobre a omissão de segmentos da sociedade civil quanto a um posicionamento crítico em relação ao governo Lula. Considera que a postura da FENAJ neste sentido foi tímida e questiona: está programada alguma reavaliação da Federação neste ano de eleições? A FENAJ ainda apóia o Governo Lula?

Sérgio Murillo – Na verdade já retomamos a luta pelo CFJ no dia seguinte ao golpe patrocinado pela Câmara, a pedido dos patrões. E a Adriana, assim como todos os companheiros e companheiras do combativo Sindicato do Ceará, tem colaborado muito para conquistarmos o Conselho. Vamos intensificar essa luta em 2006. Temos dois grandes momentos nesse processo: o Seminário Nacional de Ética em Londrina, em março, e o Congresso Nacional da categoria, em Ouro Preto, em julho. Durante todo o ano estaremos promovendo debates entre os jornalistas e com a sociedade. Todo o trabalho será coordenado por uma Comissão formada pelo Primeiro-Secretário da FENAJ, Aloísio Lopes, pelo ex-presidente da Federação, Washington Melo, e pelos presidentes dos Sindicatos do Rio Grande do Sul, Ceará e Município do Rio, José Carlos Torves, Déborah Lima e Aziz Filho, respectivamente. Quanto à crítica ao Governo Lula, acho que a nota que a FENAJ emitiu foi um dos melhores documentos sobre todo esse processo. Tenho, até hoje, recebido diversos elogios à posição da nossa Federação que não se omitiu de condenar à corrupção e a falta de ética, destacando o papel e a responsabilidades dos jornalistas na cobertura da crise política. Esclareço que a FENAJ jamais apoiou esse ou qualquer outro governo. Não é nosso papel. Apoiaremos as medidas de interesse dos trabalhadores e vamos denunciar e lutar contra decisões equivocadas, como estamos fazendo contra o artigo 129 da MP do Bem, que procura legalizar a fraude da pejotização. 

E-FENAJ – O Marcos Guimarães Souza, de Brasília, conta que iniciou o curso de Jornalismo na UNB, mas abandonou no final. Ele conseguiu seu registro definitivo em 1982, pois comprovou que trabalhava como provisionado desde 1977. Ele quer saber: a luta em defesa do diploma contempla situações como a dele? Quem conseguiu o registro como ele pode se considerar legalmente reconhecido como os diplomados?

Sérgio Murillo – O Decreto 972/69 previu que todo o jornalista registrado e em atuação até dois anos antes da regulamentaç&at_lde;o da profissão (março de 1979), poderia solicitar o registro profissional. É a situação do Marcos e de milhares de outros profissionais em todo o Brasil, que têm os mesmos direitos e deveres que os jornalistas diplomados. Está na Lei e é exatamente o que defendemos: o cumprimento da Lei.

E-FENAJ – A Viviam Matos, de Salvador, encaminhou um conjunto de perguntas, todas relacionadas ao trabalho de assessoria de imprensa e à disputa entre jornalistas e os relações públicas. Primeiro ela constata que esta disputa é uma característica peculiar da Comunicação Organizacional Brasileira e que não se verifica em outros países. Ela quer saber quais os elementos de mercado ou da formação profissional que favorecem esta situação? Assessoria é território profissional do jornalista ou do relações públicas? Por que? Ela também questiona se você avalia que os jornalistas estão preparados para exercer todas as funções de uma assessoria de imprensa e quais as iniciativas da FENAJ para resguardar a assessoria de imprensa como espaço profissional privativo da categoria? Vivam também pede uma avaliação sua sobre a Resolução Normativa 43/02 editada pelo Conselho Federal de Relações Públicas e quais as alternativas para solucionar este impasse? A desregulamentação seria uma delas? Ela pergunta, ainda, se assessoria de imprensa pode ser enquadrada como jornalismo e se é possível preservar a imparcialidade, objetividade e isenção atuando como assessor e porque a separação entre jornalistas e relações públicas se entre as funções do relações públicas também consta a de administrar as relações de uma organização ou entidade com seus diversos públicos, inclusive a imprensa?

Sérgio Murillo – Os jornalistas moralizaram e profissionalizaram o mercado de assessoria de imprensa no país. Não precisa lei para dizer isso, o próprio mercado reconhece quando procura exclusivamente jornalistas para ocupar funções de assessor de imprensa. A resolução 43/02 é uma medida de força do Conferp, sem qualquer amparo legal. Felizmente, parece que o bom-senso está prevalecendo e o Conferp está recuando de decisões discricionárias contra jornalistas. Não faz sentido patrocinar uma guerra entre categorias. De qualquer forma, a FENAJ encaminhou todas as ações necessárias para proteger os interesses da categoria. Do ponto de vista da formação os jornalistas são os únicos profissionais preparados para exercer essa função, no entanto, acredito que os currículos das Escolas deveriam ser mais adequados ao aperfeiçoamento nessa área. 

E-FENAJ – O colega José Luiz Lemos, de Maceió, gostaria de saber qual o cenário do jornalismo digital no Brasil e no mundo? Quais os desafios e perspectivas?

Sérgio Murillo – Acho que o jornalismo, de uma forma geral, em todo o mundo, está em busca de uma qualificação maior. Em vários países, existe um debate sobre a necessidade de aperfeiçoar as diferentes formas de expressão jornalística, tanto no sentido técnico como, especialmente, ético. É um desafio, talvez muito maior, nas novas fronteiras tecnológicas, pelas potencialidades e responsabilidades colocadas para a profissão. No Brasil, também estamos em processo de construção de uma identidade profissional e perseguimos a valorização do Jornalismo. Mas já somos ref_rência na luta pela democratização da comunicação e na defesa de uma formação e regulamentação específica para a nossa profissão. 

E-FENAJ – No plano das lutas gerais e específicas dos jornalistas brasileiros e da FENAJ, que balanço você faz de 2005? A reconquista do diploma como requisito para o exercício da profissão acabou ganhando mais visibilidade enquanto movimentação positiva e vitoriosa da FENAJ e dos Sindicatos de Jornalistas. Além disso, o que mais você pode destacar como avanço?

Sérgio Murillo – Em que pese a derrota na batalha do Conselho, no fim de 2004, a FENAJ reconquistou uma posição importante na categoria e na sociedade. Voltamos a ser uma referência social no país. Méritos de uma Diretoria – que tem atuado em sintonia – e do trabalho de diversos Sindicatos. Méritos também de centenas de profissionais que têm apoiado e colaborado com a nossa gestão. Esse sentimento de orgulho de pertencer a uma entidade com a história da FENAJ é nossa maior conquista.

E-FENAJ – Para finalizar, as expectativas para 2006 são grandes porque é ano eleitoral e, certamente, tanto os grandes veículos de comunicação quanto os jornalistas têm papel significativo neste processo. Mas também será um ano importante para os trabalhadores em comunicação e para a FENAJ, que realizará seu 32º Congresso Nacional. Quais os temas que você considera que ganharão centralidade na pauta dos jornalistas, dos movimentos sociais e da sociedade?

Sérgio Murillo – A FENAJ vai dar seqüência à luta pela valorização da nossa profissão. Vamos continuar defendendo a regulamentação e a formação com qualidade em jornalismo. Vamos continuar enfrentando a precarização e lutando por emprego, melhores salários e condições de trabalho. Vamos permanecer firmes na defesa da liberdade de imprensa e denunciando todas as formas de censura e arbítrio. Vamos priorizar a luta pela democratização da comunicação, intervindo no debate da digitalização do rádio e da TV e na discussão de uma lei geral para a comunicação eletrônica de massa. Vamos, porque é nossa obrigação, insistir na constituição de um Conselho Federal dos Jornalistas. Por ser um ano eleitoral, a FENAJ vai associar-se ao movimento popular e democrático no debate de um projeto nacional que priorize e defenda a soberania do nosso país e a emancipação do nosso povo. 

E-FENAJ – Obrigado por sua participação e feliz ano novo, presidente. Aos nossos leitores, obrigado por sua atenção e contribuição. O Boletim da FENAJ e o Entrevistas da FENAJ não circularão em janeiro. Em fevereiro, a circulação volta ao normal. Mas o site www.fenaj.org.br continuará sendo atualizado permanentemente. A direção da FENAJ e sua equipe de funcionários desejam a todos que 2006 seja o ano mais feliz de nossas vidas. Ou muito próximo disso.