O CFJ será um instrumento de defesa do profissional e da sociedade

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foto_raquelOs meios de comunicação exercem grande influência no cotidiano da sociedade. E neles, o Jornalismo é fundamental. Por isso é alvo de constantes questionamentos, tanto de políticos e empresários influentes, quanto de entidades e movimentos sociais. Como assegurar informação de qualidade à sociedade e o exercício profissional com ética? Estas e outras questões perpassam esta coletiva virtual com a Vice-presidente Regional Sul da FENAJ, Raquel de Carvalho, que também é presidente do Sindicato dos Jornalistas de Londrina, responsável pela organização do I Seminário Nacional de Ética no Jornalismo.

Exercendo o Jornalismo há 20 anos, Raquel é editora (liberada) da Folha de Londrina e especialista em Comunicação Popular e Comunitária pela Universidade Estadual de Londrina. Com esta experiência, para o exercício ético da profissão ela recomenda: “toda matéria deve ser realizada com seriedade e responsabilidade, porque de uma maneira ou de outra, ela fará diferença”.

E-FENAJ – Iza Jucá, de Rio Branco (AC), comenta que muitas vezes jornalistas utilizam seu poder de influência junto à opinião pública para fazer matérias em troca de favores, autopromoção, tirando proveito do convívio de pessoas influentes. Ela pergunta como acabar com o senso comum e uso do jornalismo em benefício próprio? Será que só o mercado determina o que deve ser publicado ou se existisse um empenho maior da categoria em manter valores profissionais mais sólidos, não seria uma forma de nos resguardarmos?

Raquel de Carvalho – Infelizmente ainda hoje vemos pessoas que se dizem jornalistas tirando proveito de sua ocupação para obter benesses. Na minha opinião, é urgente e imprescindível que essa cultura seja extinta do nosso meio profissional. O caminho para isso é a formação dos profissionais, que devem ser conscientizados da importância do seu trabalho na sociedade, da sua responsabilidade na garantia da democra_ia e na busca de uma sociedade mais justa e igualitária. Os profissionais devem se conscientizar de que isso será alcançado no dia-a-dia da redação ou da assessoria ou da Internet, ou seja: toda matéria deve ser realizada com seriedade e responsabilidade, porque de uma maneira ou de outra, ela fará diferença. Concordo com a Iza que nós precisamos ter mais empenho para defender o nosso direito de trabalhar bem e de sermos respeitados enquanto categoria profissional. Nós temos que nos ver como categoria, não apenas como pessoas que exercem uma profissão. O trabalho, o salário e o mercado não são questões individuais. A obrigação de todo jornalista é zelar pelo mercado de trabalho, remuneração e pela manutenção e conquista de direitos.

E-FENAJ – Em seu comentário, a Iza também registra que hoje, por conta de nosso Código de Ética não ter força de lei, a questão da ética no exercício do Jornalismo depende muito mais da consciência de cada profissional. Você concorda com esta visão? A criação do CFJ não seria a solução para regulamentar a ética no Jornalismo e preservar o direito da sociedade à informação com qualidade e contra prejuízos que possíveis desvios éticos dos profissionais possam causar?

Raquel de Carvalho – Concordo integralmente. A defesa do direito ao exercício da profissão dentro da ética fica restrita àqueles que têm consciência de suas responsabilidades como profissionais. Então, são vários os casos de jornalistas que são demitidos porque se recusaram a desrespeitar o Código de Ética da sua profissão. Alguns daqueles que permanecem no emprego acabam se acomodando e se “escorando” na idéia de que nada se pode fazer. Certamente o Conselho Federal de Jornalistas será o instrumento que vai balizar o exercício profissional do jornalista e vai regulamentar o acesso à profissão. O Conselho será um instrumento de defesa do profissional e da sociedade. O jornalista terá assegurado o seu direito de trabalhar dentro de princípios éticos, e a sociedade terá direito garantido a um jornalismo feito por profissionais qualificados e responsáveis.

E-FENAJ – Paulo Sousa, de Aracajú (SE), registra que alguns colegas defendem que comunicador que é candidato ou que exerce mandato político deve estar afastado do rádio e da TV por questões de ética. Ele quer saber que avaliação a FENAJ faz da ética daqueles jornalistas que se utilizam do rádio e da TV para se promoverem politicamente e qual a orientação da Federação para casos assim?

Raquel de Carvalho – A utilização dos meios de comunicação para autopromoção é condenável. O rádio, TV e jornal devem servir para veiculação de informações de interesse público, devem servir para defender os interesses de uma coletividade. É preciso defender a utilização democrática dos meios de comunicação, e exigir que os detentores das concessões de emissoras tenham zelo pelo veículo sob sua responsabilidade e pelo que é veiculado nos espaços que vendem geralmente aos políticos ou para quem tem aspirações a um mandato político.

E-FENAJ – Estamos praticamente às vésperas do I Seminário Nacional de Ética no Jornalismo, que acontece em Londrina de 30 de março a 1º de abril. Já est&_acute; tudo pronto para recepcionar os colegas de todo o país ou ainda há questões organizativas e estruturais a resolver?

Raquel de Carvalho – Estamos trabalhando bastante pelo êxito do evento. A espinha dorsal do Seminário, com a definição dos painéis, convidados está pronta. Faltam alguns detalhes, ainda estamos procurando alguns apoiadores para que o evento atenda plenamente as expectativas e as necessidades de um momento tão importante para a nossa categoria.

E-FENAJ – Todos sabemos que organizar eventos deste porte dá muito trabalho. Como os Sindicatos de Jornalistas ou os colegas que desejam participar podem colaborar para que o Seminário seja bem sucedido?

Raquel de Carvalho – Para o êxito do evento o fundamental, agora, é que os jornalistas efetuem suas inscrições, preparem-se para o Seminário e utilizem a oportunidade para a reflexão dessa questão – uma das mais importantes para a nossa profissão -, troca de informações e discussão do nosso Código de Ética

E-FENAJ – O Código de Ética dos Jornalistas já tem 20 anos e a última revisão foi em 1987. Mas foi principalmente após este período que a introdução de novas tecnologias determinou significativas mudanças no exercício do Jornalismo. Neste processo de mudanças, o que você destaca como principal com implicações éticas?

Raquel de Carvalho – O surgimento da Internet foi o que mais provocou mudanças no exercício do jornalismo. Atualmente, acho que a Internet é meio “terra de ninguém”, um espaço em que qualquer um pode veicular idéias e mensagens. E também um espaço onde informações jornalísticas podem chegar aos internautas sem qualquer critério. O jornalismo na rede é um importante nicho nesse mercado em constante mudança, mas deve ser regulamentado e os jornalistas devem estar sujeitos à regulamentação que o novo Código de Ética determinar para esse meio.

E-FENAJ – Em 2006 a FENAJ completa 60 anos e realizará seu XXXII Congresso Nacional em julho, em Ouro Preto (MG). Os temas a serem abordados no I Seminário Nacional de Ética no Jornalismo como a retomada da luta pelo CFJ, a revisão do Código de Ética da categoria e da formação ética nas escolas serão as principais bandeiras de luta dos jornalistas neste ano? Que outras questões estarão no centro das movimentações da FENAJ, dos Sindicatos e da categoria?

Raquel de Carvalho – Na minha opinião, uma das principais bandeiras da Federação é a luta em defesa do bom jornalismo, o que deve ser resultado da mobilização da categoria em torno de condições de trabalho e de vida, do Conselho Federal de Jornalistas e de um Código de Ética atualizado.

E – FENAJ – Valeu, Raquel. Obrigado pela entrevista e sucesso na realização do I Seminário Nacional de Ética no Jornalismo. Nossa próxima coletiva virtual será com Valci Zuculoto, diretora de Relações Institucionais de FENAJ, que abordará o trabalho de padronização nacional do Estágio Acadêmico, cujas propostas serão deliberadas no XXXII Congresso Nacional dos Jornalistas, em julho, em Ouro Preto (MG). Para participar encaminhe perguntas para boletim@fenaj.org.br, até as 18 horas do dia 4 de abril, especificando, na linha de assunto, “Entrevistas da FENAJ”. A entrevista será d_sponibilizada no dia 6 de abril.