Como está a organização dos jornalistas em São Paulo e no Paraná? Quais os desafios das novas direções de suas entidades sindicais? Como avançar na superação de problemas e melhorar a realidade da categoria? Estas são algumas das questões abordadas por Guto Camargo, presidente do SJSP, e por Aniela Almeida, presidente do SindijorPR, nesta coletiva virtual da FENAJ.
José Augusto Camargo é diretor de Saúde e Previdência da FENAJ e milita há anos na área de saúde. Foi representante da CUT-SP no Conselho Estadual de Saúde/SP, e coordenador da Comissão Técnica de Saúde do Trabalhador. Participa do Coletivo Estadual e Nacional de Saúde da CUT e junto ao Instituto Nacional de Saúde INST-CUT, do qual foi representante em diversos fóruns, inclusive no âmbito do Mercosul. É formado em Sociologia e Ciência Política. Já foi diretor em três outras gestões do SJSP. Trabalhou no Diário Popular, Shopping News, Diário do Comércio e Indústria, Gazeta Mercantil, além de alguns jornais de sindicatos e associações. Atualmente é diagramador no Diário do Comércio.
Graduada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, Aniela já trabalhou nos jornais Regional (Registro-SP), Cultura (Guarapuava-PR), Diário da Manhã e na sucursal da Gazeta do Povo (Ponta Grossa-PR). Também lecionou no curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Opet (Curitiba-PR) e atualmente é repórter da Gazeta do Povo, em Curitiba.
E-FENAJ – Vivemos um quadro geral em que, diferentemente das décadas de 1980 e 90, quando experimentou grande ascensão, o movimento sindical brasileiro não vem conseguindo ocupar o centro da cena política no país. A que se deve isso? Vocês acham que isso também se verifica no movimento dos jornalistas?
Guto Camargo – Todo Sindicato é o reflexo da categoria a qual representa e da realidade social do momento. A diminuição da participação coletiva dos trabalhadores e o incentivo ao individualismo competitivo que caracterizou os últimos anos, certamente, trouxe conseqüências negativas à organização sindical. Mas isso não é um problema limitado aos Sindicatos, na verdade trata-se de uma situação bastante difundida entre vários movimentos sociais. Isto dificulta a ação dos Sindicatos e cria uma geração de profissionais que privilegia a competição individual ao invés da solidariedade e da união, afastando-a das entidades coletivas. Esta crise de paradigmas – bastante discutida, inclusive no meio acadêmico – vem sendo questionada nos últimos anos e já podemos perceber uma reação de certos setores da sociedade. Os Sindicatos têm a responsabilidade de ajudar a sociedade a alterar este quadro e quebrar este círculo vicioso.
Aniela Almeida – Acredito que os mecanismos de luta precisam mudar. Falo mais pela minha experiência como repórter do que como sindicalista. A população está cansada de ser prejudicada com greves, não sinto que este seja um instrumento eficaz hoje. De uma forma geral, o movimento sindical precisa encontrar novas formas de reivindicar. Em relação a nossa categoria, o principal desafio é mobilizar. Os jornalistas não participam das discussões sobre seus direitos e isso é complicado porque é justamente o respaldo da categoria que fortalece o Sindicato.
E-FENAJ – A maioria dos jornalistas profissionais convive com uma situação de baixos salários e péssimas condições de trabalho. Este é o principal problema em seus respectivos estados? Que outras questões a categoria aponta ou cobra do Sindicato?
Aniela Almeida – A briga para melhorar os baixos salários e as péssimas condições de trabalho é histórica. O quadro de hoje está longe de ser o ideal e essa sempre será nossa meta principal. Apesar de termos um dos pisos mais altos do país, há muito tempo não temos aumento real. Ainda precisamos enfrentar a dificuldade de criar carreira de jornalista nos órgãos públicos para os assessores. No interior e na capital, enfrentamos o exercício irregular da profissão com pessoas que atuam como assessores de parlamentares e que não são jornalistas. Isso acaba restringindo ainda mais o mercado de trabalho, que já está complicado no estado.
Guto Camargo – A grande preocupação dos trabalhadores em geral, inclusive dos jornalistas, é relativa ao salário e a manutenção do seu emprego. Nos últimos anos temos percebido que a preocupação com as questões relativas às condições de trabalho tem aumentado, principalmente ligadas à qualidade de vida e saúde. O direito autoral é outra questão que vem chamando a atenção dos jornalistas.
E-FENAJ – Carlos Almeida, do Rio, lembra que vocês foram eleitos em situações diferenciadas. No Sindicato do Paraná a eleição teve chapa única e no de São Paulo houve duas chapas. Ele pergunta: isto não lhes traz graus diferentes de responsabilidade? Quais as ações prioritárias que vocês pretendem desenvolver em suas gestões?
Guto Camargo – As situações realmente foram diferentes, mas a responsabilidade dos diretores perante a sociedade e a categoria é a mesma. Como a concentração de jornalistas e de meios de comunicação é maior em São Paulo, isto aumenta a dimensão dos problemas, pois algumas questões podem não estar presentes com a mesma intensidade no Paraná.
Aniela Almeida – Acho que a responsabilidade é a mesma. O compromisso com a categoria é o mesmo. Acredito apenas que teremos um desafio maior para mobilizar a categoria no Paraná. O fato de sermos chapa única no Paraná pode representar uma apatia dos profissionais em relação às questões sindicais. Uma das mudanças que pretendemos experimentar foi proposta pelo atual presidente, Ricardo Medeiros. Com base na sua gestão, ele definiu funções específicas para as cinco diretorias administrativas, que antes serviam para dar suporte às demais. Agora vamos ter um diretor para cuidar das relações com o interior, outro para trabalhar com assessores de imprensa, outro para dialogar com as associações de jornalistas, e mais uma para cuidar da comunicação, aprimorando a interação entre a categoria. Também teremos um diretor para cuidar da relação com as escolas e os alunos. Sua atribuição é contribuir com as discussões sobre qualidade de ensino e liberar a pasta de Formação para cuidar de assuntos relativos aos profissionais. Acho que essa distribuição do trabalho vai trazer maior agilidade para colocar as propostas em prática.
E-FENAJ – O presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade, encaminhou duas perguntas. Segundo ele, há um claro distanciamento das grandes redações em relação aos Sindicatos. A que vocês atribuem isso? Como encurtar as distâncias? Como vocês acham que a FENAJ pode contribuir com suas gestões e como acham que podem cooperar com a Federação?
Aniela Almeida – Acho que falta consciência da categoria em se comprometer com as causas. Muita gente tem medo de perder o emprego, mas tem os que criticam sem nunca ter participado. De qualquer forma acho que é nosso papel estar sempre presente e isso também cabe à FENAJ. Da nossa parte acho que temos o compromisso de estar mais perto da Federação, participando das decisões e levando às demandas da categoria.
Guto Camargo – Atualmente existe toda uma geração de jornalistas que foi formada nesta realidade de enfraquecimento dos movimentos sociais e sindicais e, em sua maioria, por um modelo de ensino dominado pela iniciativa privada que ocupou o espaço deixado pelo Estado e criou uma verdadeira “indústria da educação”. Neste contexto, com as honrosas exceções que notamos nas boas faculdades, o ensino passa a ser uma mercadoria e a formação fica subordinada ao lucro da empresa-escola. Isto, somado ao mercado de comunicação incapaz de absorver todos os profissionais fez com que a oferta de cursos e profissionais superasse a demanda, criando um exército de profissionais afoitos em busca de trabalho a qualquer preço. Tudo isto dificulta a ação do Sindicato nas escolas e cria uma geração de profissionais que privilegia a competição individual ao invés da solidariedade e da união.O Sindicato, além de atuar junto aos profissionais no mercado, precisa ir até as escolas, de modo que nenhum futuro jornalista ingresse no mercado de trabalho sem ter tido um prévio contato com sua entidade de classe.
E-FENAJ – Estamos nos aproximando do 32º Congresso Nacional dos Jornalistas, que será de 5 a 8 de julho, em Ouro Preto (MG). Já houve eleição de delegados em seus sindicatos? Quais as principais questões ou propostas que os jornalistas de São Paulo e do Paraná levarão para a maior instância deliberativa dos jornalistas brasileiros?
Guto Camargo – O Sindicato de São Paulo tem direito a sete delegados, o que é o máximo permitido pelo estatuto da FENAJ, que serão escolhidos em assembléia na primeira semana de junho. Tanto São Paulo quanto o Paraná estiveram presentes no Encontro Sul Sudeste de Jornalistas de Imagem e, junto aos demais participantes do evento, tiraram uma pauta comum que já foi encaminhada para a FENAJ. Quanto às propostas para outras áreas e segmentos, as dos jornalistas de São Paulo estão reunidas em torno da defesa da profissão que, apesar de toda nossa ação, vem sendo violentamente questionada. O enfraquecimento de nossa regulamentação trará conseqüências negativas que afetarão não só nossa organização como classe trabalhadora, mas também afetará a própria forma de se fazer jornalismo no Brasil.
Aniela Almeida – Já escolhemos os delegados, mas ainda estamos afinando nossas propostas. A nova diretoria só toma posse dia 13 e concluímos esta semana as reuniões de transição entre os diretores que estão saindo com os que estão entrando. Estamos concluindo o planejamento da gestão e com base nisso vamos definir quais os aspectos mais importantes em que podemos contribuir.
E-FENAJ – Obrigado, colegas. Sucesso em suas gestões. O próximo convidado de nossa coletiva virtual será, 1º Secretário da FENAJ e presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Aloísio Lopes. Ele falará sobre os preparativos finais ao 32º Congresso Nacional dos Jornalistas e de seus principais desafios. Para participar, encaminhe perguntas paraboletim@fenaj.org.br, até as 18 horas do dia 6 de junho, especificando, na linha de assunto, “Entrevistas da FENAJ”. A entrevista será disponibilizada no dia 8 de junho.