Pela segunda semana seguida, TikTok concentra maior número de ataques à imprensa nas eleições

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O quinto relatório de monitoramento da Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor) traz um dado alarmante sobre o contexto de violência contra jornalistas durante o período eleitoral brasileiro de 2024. Com a suspensão do X por decisão do STF desde 31 de agosto, os ataques contra jornalistas têm se intensificado em outras redes sociais. Os dados observados nesta semana mostram que o TikTok está se consolidando como um espaço caracterizado por ataques contra o jornalismo, confirmando a preocupação levantada no relatório passado.

Só no período deste relatório —de 19 a 25 de setembro—, houve 2.885 ataques à imprensa no Tik Tok. Em comparação, no Instagram, rede também monitorada pela CDJor, foram identificados 967 ataques no mesmo período. No Instagram foram monitorados 196.591 posts e comentários, número bem próximo ao do TikTok, com 200.347 postagens.

No X foi identificada uma quantidade residual de ataques: um total de 18 postagens ofensivas contra a imprensa no período. O acesso está proibido em território nacional, mas algumas das contas que realizaram esses ataques têm conseguido burlar a decisão judicial com o uso de aplicativos de VPN. Algumas das hashtags utilizadas no X foram #globolixo, #emissoralixo, #globodefendebandido e a mais compartilhada, #jornalistadestrutivo.

Fonte: Labic/UFES]
Fonte: Labic/UFES

O soco que um integrante da campanha de Pablo Marçal (PRTB) deu em um assessor de Ricardo Nunes (MDB) ao final do debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, no dia 23 de setembro, foi a principal causa de  uma série de ataques a jornalistas e veículos de imprensa nos dias seguintes. O principal alvo dos ataques no Instagram e no TikTok foi o jornalista Carlos Tramontina, que conduzia o debate organizado pelo grupo Flow. No Instagram, os ataques contra Tramontina apareceram frequentemente seguidos das hashtags #jornazista e #parcialidade. Veja alguns exemplos de postagens:

@celioqualidade O Pseudo Jornalismo também tem que aprender ser imparcial, os Candidatos devem aparecer e não o Jornalista.

@adrianabataglini1974 Absurdo o que fizeram com o Marçal, jornazista um verdadeiro compro.

@giseldadefrancaDespreparo de um jornalista junto com a parcialidade pode causar…. Debate fraco e incoerente…..

As hashtags utilizadas para atacar veículos de imprensa nas redes focam, em grande medida, em ataques à Rede Globo. Hashtags usadas no Instagram como #globolixo e #globofakenews, insinuando que os veículos do Grupo Globo produzem desinformação, são encontrados em postagens violentas contra a imprensa. O grande número de ataques direcionados à emissora carioca e suas subsidiárias indica que a organização é tida por quem ataca como um ícone do ecossistema midiático. Ainda assim, no período de 19 a 25 de setembro, os veículos que mais sofreram ataques foram Metrópoles, seguido por UOL e G1. Folha e CNN completam o ranking em quarto e quinto lugar,  respectivamente. Algumas expressões utilizadas por quem ataca afirmam que a imprensa não é isenta na sua cobertura política e vinculam o jornalismo a um ideário de esquerda ou comunista. São frequentes expressões como “jornalismo imparcial”, “mídia esquerdista”, “totalmente parcial” e “jornalista parcial”. Leia um exemplo de post:

@orfilenomed2022 Condeno o ato praticado! Mas o alvo da imprensa militante e do “Consórcio Comunista” sempre será o Marçal & Cia. Toda ação tem uma reação! Já apuraram que o agredido, inicialmente foi o agressor? Vamos rebobinar e colocar à luz dos fatos a materialidade da ação em sua completude!

Os principais agressores

Os cinco perfis que mais atacaram jornalistas e veículos de imprensa no período no Instagram foram @ronaldoandrade.escritor, @orfilenomed2022, @orfilenogomesogy, @lucioluizsalomao e @celioqualidade. No TikTok os perfis @unknown, @jwilsonoliveira, @user728373847, @vlademirnanci5 e @edmilsonmelo22 foram os mais nocivos à imprensa.

Fonte: Labic/UFES
Fonte: Labic/UFES

Outros ataques

Na madrugada do dia 25 de setembro, quatro homens armados renderam o vigilante e um repórter da TV Cidade, afiliada da Record TV, na cidade de Bacabal, no Maranhão, e atearam fogo nos equipamentos da emissora. Há indícios de motivação política, uma vez que a emissora fazia críticas ao candidato a prefeito Marcos Miranda (União Brasil). O vereador Manoel Passos de Araújo, conhecido como Júnior Passos, aliado do candidato do União Brasil, foi preso em flagrante por suspeita de ser o mandante do atentado, mas foi liberado.

Fonte: Labic/UFES

Índice de Toxicidade

Em parceria com o ITS-Rio, a CDJor também analisou o grau de toxicidade nas mensagens e nos comentários postados contra jornalistas e meios de comunicação nas três redes sociais monitoradas. Utilizando tecnologia de API do Google, cada comentário analisado recebe um valor entre 0 e 1. Quanto maior o valor, maior a chance de um usuário perceber aquele comentário como tóxico. Os modelos avaliam os comentários em uma série de atributos que descrevem conceitos emocionais que podem impactar uma  conversa. Estabelecendo um grau de toxicidadepara cada postagem analisada, é possível estabelecer um parâmetro de quão tóxico é o ambiente da plataforma em relação à imprensa.

Analisando as postagens monitoradas pela CDJor, no caso do TikTok, a média de toxicidade das postagens analisadas é de 0,39, enquanto no Instagram esse valor é de 0,22, reforçando a preocupação de que o TikTok se converta na principal plataforma de ataque à imprensa nas redes sociais. Vale mencionar que, mesmo com atuação suspensa no Brasil e com base em amostra residual, a média de toxicidade das postagens analisadas no X está acima das outras duas: 0,44. O exemplo de postagem a seguir, extraído do Tik Tok no dia 25 de setembro, foi classificado com um grau de toxicidade de 0,89, bem próximo ao grau máximo:

malditos da globo lixo mentiram antes e mentem agora

Sobre o projeto

Este é o quinto relatório de monitoramento de ataques on-line contra a imprensa nas eleições municipais de 2024, que cobre a sexta semana de campanha eleitoral (19 a 25 de setembro). O projeto está sendo realizado em parceria com o Labic/UFES. A Coalizão em Defesa do Jornalismo está monitorando, desde o dia 15 de agosto, contas de jornalistas, veículos e candidatos/as em todas as capitais do Brasil, nas plataformas de redes sociais Instagram, X e, a partir do relatório passado, TikTok.

São registradas postagens com termos e hashtags ofensivas e estigmatizantes contra a imprensa no âmbito da cobertura eleitoral. Episódios de ataques e violações ao trabalho jornalístico fora das redes também estão sendo acompanhados. A análise dos principais resultados do levantamento vem sendo publicada toda semana, e irá até a realização do segundo turno. Ao final das eleições, um relatório consolidará a avaliação do período monitorado e trará recomendações às autoridades e plataformas digitais.

Integram a Coalizão em Defesa do Jornalismo: Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Ajor (Associação de Jornalismo Digital), Artigo 19, CPJ (Comitê para a Proteção de Jornalistas), Fenaj (Federação Nacional de Jornalistas), Instituto Palavra Aberta, Instituto Vladimir Herzog, Instituto Tornavoz, Intervozes, Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação) e RSF (Repórteres Sem Fronteiras).