A aula inaugural do Programa Jovem Jornalista de Formação de Lideranças no Jornalismo Cearense marcou o início de uma jornada de formação política e profissional para jovens comunicadores do Ceará, com a conferência “Que conjuntura é esta, trabalhador/a jornalista?”, ministrada pela presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Samira de Castro.
O Programa Jovem Jornalista é uma iniciativa do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce), com apoio da FENAJ, voltada à formação de lideranças no campo do jornalismo. A proposta é estimular uma nova geração de profissionais conscientes do papel histórico do jornalismo e engajados na luta por direitos e pela valorização da categoria.
A atividade foi aberta pelo presidente do Sindjorce e secretário-adjunto de Relações Internacionais da FENAJ, Rafael Mesquita, que deu as boas-vindas aos cursistas, explicou a metodologia e os objetivos do programa, além de apresentar todo o cronograma. A secretária de Gênero, Raça e Etnia da FENAJ, Germana McGregor também fez uma saudação aos participantes, que acompanharam presencialmente e on-line.
Em uma fala densa e inspiradora, Samira traçou um panorama crítico sobre a realidade contemporânea do trabalho jornalístico, marcada pela reestruturação produtiva das redações, pela plataformização dos meios de comunicação e pela precarização crescente das condições de trabalho. Segundo dados recentes divulgados pela FENAJ, 45% dos jornalistas brasileiros atuam em vínculos instáveis, como PJ, MEI ou freelancers, refletindo o avanço da lógica empresarial sobre a atividade jornalística.
A presidenta também destacou os impactos da concentração midiática e da dependência das big techs, que controlam o fluxo de informação e a publicidade digital. “O jornalismo vem sendo submetido a uma lógica de mercado que transforma a notícia em mercadoria e o jornalista em um operador de plataforma. Isso compromete a autonomia, a ética e a função social da profissão”, afirmou.
Durante a exposição, Samira apresentou dados do Atlas da Notícia 2025, que mostram que o Brasil possui hoje mais de 2.000 municípios classificados como desertos de notícias, onde não há veículos jornalísticos locais atuando regularmente. “Esses vazios informativos são uma ameaça direta à democracia. Onde não há imprensa, o poder local atua sem fiscalização, e a população fica sem acesso a informações de interesse público”, alertou.
Outro dado preocupante trazido pela presidenta foi o do DIEESE, que revela que o rendimento médio dos jornalistas brasileiros gira em torno de R$ 8.607, com grandes disparidades regionais — variando de R$ 19.371 no Distrito Federal a menos de R$ 4.000 em estados do Nordeste. “A desigualdade salarial reflete também as desigualdades estruturais do país. Defender o jornalismo é defender condições dignas de trabalho em todas as regiões”, pontuou.
Samira concluiu sua fala reforçando o papel político e social da categoria. “Mais do que uma profissão, o jornalismo é uma trincheira da democracia. Precisamos reconstruir nossa identidade coletiva e reafirmar o compromisso com um jornalismo público, ético e transformador”, disse.





