Profissionais de imprensa sofrem agressões em SC, MS e PI, e baianos decidem boicotar CRF

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not039A violência contra jornalistas teve novos episódios na semana passada. Em Florianópolis (SC), o repórter fotográfico Cláudio Silva foi detido quando cobria uma manifestação. A FENAJ emitiu nota sobre o caso e contra a postura da RBS, que demitiu o profissional. Em Dourados (MS), o jornalista Ginez César foi agredido pelo prefeito Laerte Tetila. Em Teresina (PI) Walcy Vieira foi agredido ao tentar fotografar o assessor parlamentar José Barbosa Neto. Já na Bahia, a categoria reage à demissão da presidente do Sinjorba, Kardelícia Mourão Lopes, com boicote ao Conselho Regional de Farmácia.

Políci_ catarinense trata manifestantes e repórter como bandidos
A violência contra o repórter fotográfico Cláudio Silva ocorreu dia 16 de fevereiro, no centro da capital catarinense, quando integrantes da “Frente Única Tarifa Única Sim! Aumento Não!” distribuíam panfletos sobre a tarifa única que foi implantada pela prefeitura no dia 13. Capangas não identificados investiram contra os manifestantes rasgando faixas e destruindo seu equipamento de som. Após reação dos integrantes do movimento, a Polícia Militar entrou em cena, não para conter os agressores, mas sim para criminalizar e reprimir os manifestantes.

Cláudio Silva, que trabalhava para o Jornal Diário Catarinense – do grupo RBS – e registrou todo o episódio, foi detido quando reagiu à ação de um policial que arrancou o equipamento fotográfico de suas mãos. Silva foi demitido no dia seguinte, pela direção do jornal, que omitiu o fato de que um segundo repórter fotográfico também sofreu agressões. O Sindicato dos Jornalistas de SC lançou nota em defesa da liberdade de manifestação e do exercício da profissão, exigiu providências do governo do estado e está tentando reverter a demissão do colega.

Prefeito agride repórter e critica cobertura da imprensa
No dia 14 de fevereiro, o jornalista Ginez Cesar cobria a inauguração do campus II da Uniderp pelo Jornal O Progresso quando foi abordado e agredido verbalmente pelo prefeito de Dourados (MS), Laerte Tetila, que criticou reportagens sobre sua administração veiculadas pelo jornal e pela TV Morena (onde Ginez é repórter e apresentador do telejornal). Irritado, o prefeito acusou o profissional de fazer “jornalismo terrorista”. O Sindicato dos Jornalistas da Grande Dourados, o Clube de Imprensa de Dourados e o Sindicato dos Jornalistas do Mato Grosso do Sul solidarizaram-se com o colega e condenaram a agressão à liberdade de imprensa praticada pelo prefeito.

Piauí: jornalista é agredido em frente da delegacia
Já no Piauí, o jornalista Walcy Vieira foi agredido na porta do 12º DP, em Teresina (PI), no dia 14 de fevereiro, ao tentar fotografar o assessor parlamentar José Barbosa Neto. Barbosa Neto foi à Delegacia prestar depoimento por ter ameaçado Hélder Eugênio, proprietário do site 180graus.com. O Sindicato dos Jornalistas do Piauí emitiu Nota de Repúdio em defesa da profissão, pela liberdade de imprensa no Estado e em solidariedade ao profissional agredido.

Boicote ao CRF na Bahia
Em assembléia conjunta realizada dia 16 de fevereiro, jornalistas e radialistas baianos decidiram promover um boicote político à direção do Conselho Regional de Farmácia, que agrediu a legislação brasileira que assegura imunidade com estabilidade no emprego aos dirigentes sindicais, ao demitir a presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia e diretora da FENAJ, Kardelícia Mourão Lopes. Em nota oficial os profissionais de comunicação esclarecem que o boicote não é à categoria dos farmacêuticos, mas à direção de seu Conselho. O boicote se dará com a não divulgação de nenhuma matéria em rádio, jornal ou TV, cuja fonte seja a direção do CRF, durante os dois anos de mandato da atual gestão do órgão.

Veja, abaixo, os documentos emitidos com relação a estas agressões.

NOTA OFICIAL
FENAJ se solidariza com jornalista agredido e demitido
A FENAJ vem a público manifestar desagravo e solidariedade com o repórter-fotográfico Cláudio Silva, vítima da truculência de policiais militares e dos dirigentes do Diário Catarinense (grupo RBS), de Florianópolis.

Não bastassem os baixos salários e toda a exploração a que são submetidos milhares de jornalistas em todo o país, uma nova era, profundamente infeliz, parece ter sido inaugurada: a da execração pública dos profissionais de comunicação nos próprios veículos em que atuam. Mais grave, ainda, quando a ação parte do Grupo RBS, cujo presidente, Nelson Sirotsky, é também presidente da Associação Nacional dos Jornais – ANJ.

Cláudio Silva fotografava, na quinta passada, 16, ironicamente dia do repórter, o conflito entre seguranças particulares, polícia militar e estudantes que protestavam contra o valor da tarifa implantada no transporte público da capital catarinense, quando teve o seu equipamento fotográfico arrancado das mãos por policiais. Protestou e recebeu voz de prisão. Com as mãos algemadas, foi covardemente espancado.

Diante de toda essa brutalidade, o que fez a direção da RBS? Calou-se em relação ao arbítrio e aos excessos da polícia e preferiu mencionar, em reportagem publicada no Diário Catarinense no dia seguinte, que o fotógrafo estava “tecnicamente alcoolizado”. E demitiu-o por justa causa, sem qualquer direito, expondo-o ao constrangimento público.

Há, neste episódio, mais uma tentativa de um veículo de comunicação em distorcer os fatos ou criar uma falsa realidade. O fotógrafo produziu fotos “tecnicamente falhas”? Não. Colocou a vida de alguém em risco? Não. Foi demitido porque protestou contra mais uma arbitrariedade da força policial, conivente com a ação ilegal e truculenta de seguranças particulares das empresas de ônibus.

A FENAJ repudia a postura inaceitável da Empresa, denuncia as atitudes autoritárias dos órgãos de segurança pública do Estado de Santa Catarina, solidarizando-se integralmente com o jornalista Cláudio Silva, premiado repórter-fotográfico que, sob risco, cumpriu mais uma vez com a sua função, que é registrar os fatos que interessam à sociedade, e o fez com a habitual competência. Se havia algo para a RBS lamentar e condenar é o fato de governos e dirigentes políticos continuarem a tratar movimentos sociais com brutalidade e protestos do povo como se fossem crimes.

Brasília, 20 de fevereiro de 2006.
A Diretoria

NOTA DE REPÚDIO DO SINDICATO DOS JORNALISTAS DE SC

O Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina repudia a prisão do jornalista Cláudio Silva, repórter fotográfico do jornal Diário Catarinense, ocorrida na tarde desta quinta-feira, quando registrava, no centro de Florianópolis, um ato legítimo da população, de reivindicar o que considera seu direito.

A liberdade de manifestação e o direito de trabalhar dos jornalistas, com o objetivo de apresentar os fatos para a população compreender o momento histórico, não podem ser interrompidos pela truculência de alguns.

O Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina repudia a violência e o despreparo do policial militar que, sem medir as conseqüências de seus atos, interrompeu a atividade do jornalista Cláudio Silva, e o levou ao cárcere, como se transgressor fosse.

Com a prisão do jornalista, inverteram-se os papéis. Aquele que cumpria o seu dever, de assegurar informação de qualidade e registrar um momento especial e único, foi preso, enquanto aquele que deveria garantir o direito do primeiro, num ímpeto, reavivou o retrocesso, e pelo despreparo, desconsiderou a orientação de servir ao povo, negando o direito ao trabalho.

Ao repudiar o fato ocorrido hoje no centro de Florianópolis, o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina convoca a sociedade catarinense a ficar alerta e defender o seu direito à informação de qualidade, ética e verdadeira, e aos governos e governantes, a responder à sociedade, punindo com firmeza e exemplarmente aquele que, investido de poder pelo Estado, cometeu excessos.

O Sindicato dos Jornalistas aponta que ações isoladas não podem manchar o nome e a história da Polícia Catarinense, e o empenho que o Estado vem realizando, de qualificar e humanizar o setor de Segurança Pública. Em nome dos jornalistas, da sociedade catarinense, em defesa da liberdade de informar e ser informado, cobraremos uma resposta para o lamentável episódio transcorrido nesta data.

Florianópolis, 16 de fevereiro de 2006.

Rubens Lunge
Presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina

Nota de Repúdio

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Região da Grande Dourados (Sinjorgran) e o Clube de Imprensa de Dourados (CID) repudiam a atitude do prefeito Laerte Tetila, de Dourados, em relação ao jornalista Ginez Cesar na noite de anteontem (14/02) durante a inauguração do campus II da Uniderp.

O jornalista fazia a cobertura do evento pelo Jornal O Progresso quando foi abordado e agredido verbalmente pelo prefeito, criticando as reportagens que tem sido veiculadas pelo jornal e pela TV Morena (onde o mesmo profissional é repórter e apresentador do telejornal) contra a administração, a exemplo das irregularidades denunciadas no estádio Douradão.

Aparentemente irritado, o prefeito foi infeliz na sua abordagem e lamentavelmente mostrou-se antidemocrático e chegou ao absurdo de dizer que o profissional estaria fazendo um “jornalismo terrorista”.

A crítica e o conflito são inerentes no meio jornalístico, mas de maneira alguma podemos tolerar gestos de censura e admoestação contra o trabalho da imprensa, ferindo frontalmente a liberdade, nossa principal bandeira luta ao longo do tempo.

Esta não é a primeira vez que o prefeito desrespeita jornalistas e espera-se que ele faça melhor juízo dessa sua postura e entenda que a imprensa é o dedo indicador do mundo e que não será afrontando e questionando atitudes de jornalistas em seu legítimo exercício da profissão que ele estará resolvendo os problemas da cidade.

Tanto o Sinjorgran como o CID vão se manifestar todas as vezes que isso se fizer necessário para evitar que fatos lamentáveis como esse aconteçam.

As diretorias
Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Grande Dourados
Clube de Imprensa de Dourados

NOTA DE SOLIDARIEDADE
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul (SINDJOR-MS) se solidariza com os companheiros do SINJORGRAN, do Clube de Imprensa de Dourados e com o colega jornalista Ginez César no sentido de estender sua indignação quanto ao episódio ocorrido na inauguração do campus II da Uniderp, em Dourados. Um país que há mais de 20 anos varreu para os porões da história um terrível regime de exceção não pode continuar sendo obrigado a tolerar abusos contra a liberdade de imprensa e cerceamento de nossa atividade profissional por autoridades públicas, detentoras de cargos públicos, su_tentados pelo dinheiro público. Atitudes como essa são incompatíveis com a prática da democracia.

Por isso, reiteramos nosso apoio aos colegas da região de Dourados e colocamos o SINDJOR-MS à inteira disposição para quaisquer ações e manifestações que visem garantir um jornalismo alicerçado pela responsabilidade, mas regido pelo valor sagrado da liberdade.

Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul

Piauí: jornalista apanha na porta da delegacia
O Sindicato dos Jornalistas do Piauí emitiu hoje (16/02), uma Nota de Repúdio em defesa da profissão e pela liberdade de imprensa no Estado. A manifestação é uma reação à agressão sofrida ontem pelo jornalista Walcy Vieira na porta do 12º DP, em Teresina (PI), ao tentar fotografar o assessor parlamentar José Barbosa Neto.

Segundo Walcy Vieira, José Barbosa Neto foi ao 12º DP para prestar depoimento por ter ameaçado Hélder Eugênio, proprietário do site 180graus.com.

José Barbosa Neto é tio da publicitária Mara Carter que era sócia de Hélder Eugênio durante alguns anos na empresa Carter Comunicação. Mara Carter saiu da empresa e começaram as brigas por direitos trabalhistas, entre outros.

“Tudo começou no sábado, no shopping, quando o irmão da Mara Carter agrediu Hélder Eugênio com uma “cadeirada na cabeça”. O Hélder prestou queixa na delegacia do Jorginho”, conta Walcy Vieira.

Na segunda-feira, o tio de Mara Carter, José Barbosa, ameaçou Hélder Eugênio pelo telefone. A conversa foi gravada e mais uma vez foi prestada queixa na polícia, desta vez no 12º.

“Eu tentei fazer a foto e ele me agrediu, estava acompanhado da Mara, ele disse que perdeu o controle, mas não podia ter feito isso por que eu estava fazendo o meu trabalho”, disse Walcy Vieira ao Porta AZ.

Sindicato dos Jornalistas do Piauí

MOÇÃO
“Os jornalistas e radialistas reunidos em assembléia geral considerando que apesar de todos os esforços políticos da Central Única dos Trabalhadores, da Federação Nacional dos Jornalistas e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia e do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Rádio, TV e Publicidade da Bahia para restabelecer o direito ao trabalho e a imediata reintegração da jornalista Kardé Mourão, presidente do Sinjorba, diretora da Fenaj, demitida arbitrariamente do Conselho Regional de Farmácia do Estado da Bahia.

Considerando que a atual diretoria do CRF mantém a demissão, atentando contra o movimento sindical, contra a legislação trabalhista em vigor, que garante a estabilidade dos dirigentes sindicais, e contra a Constituição brasileira resolvem:

– Recomendar aos demais profissionais jornalistas e radialistas de todo o estado da Bahia boicote a atual direção do Conselho Regional de Farmácia formada pelos farmacêuticos: Altamiro José dos Santos- presidente, Eustáquio Borges – vice-presidente e Jacob Cabús, secretário-geral e tesoureiro, durante o período da sua gestão nos anos de 2006 e 2007, por entenderem que não podem as duas categorias de profissionais admitirem essa agressão com a demissão ilegal e arbitrária da presidente de um sindicato de trabalhadores, em pleno exercício do mandato sindical, configurando crime contra a organização do trabalho.

Salvador, 16 de fevereiro de 2006.”