A inteligência artificial generativa está impactando profundamente a indústria de notícias e levantando uma questão crítica abordada de frente em um novo relatório da Unesco: sem regulamentação adequada, tanto o jornalismo quanto a própria IA pode ver seu futuro comprometido.
O relatório IA e o Futuro do Jornalismo: Um Memorando para Stakeholders , de autoria da pesquisadora e professora Anya Schilffer, da Columbia University, alerta para a necessidade urgente de regulamentação sobre os diversos aspectos do uso da IA, incluindo padrões claros que protegem os direitos autorais e garantam uma compensação justa às organizações de mídia de forma para garantir sua sustentabilidade financeira.
Sem essas medidas, o fluxo de informações confiáveis — essencial para o treinamento de modelos avançados de IA, como os LLMs — pode se tornar escasso, colocando em risco a qualidade e diversidade de conteúdo que alimenta essas tecnologias fundamentais para o futuro da informação, aponta o documento da agência da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Matéria completa AQUI
Direitos autorais: o debate sobre ‘uso justo’ pela IA
Um ponto central do relatório da Unesco é a atualização das leis de direitos autorais, ou pelo menos a aplicação rigorosa das regras existentes.
Em países como os Estados Unidos, onde o uso de materiais protegidos por direitos autorais para treinamento de IA muitas vezes se enquadra no conceito de “fair use” (uso justo), a falta de uma compensação clara tem gerado insatisfação entre jornalistas e editores.
Anya Schiffrin ressalta que essa doutrina foi criada muito antes da IA generativa e não foi concebida para lidar com LLMs que “engolem” grandes volumes de dados, como todo o conteúdo de um jornal, e “regurgitam” informações de maneira opaca, sem atribuição ou compensação financeira.
Na Europa, o debate avançou com propostas de regulamentação mais específicas, como o Media Freedom Act e o AI Act, que exigem transparência na geração de conteúdo por IA e estabelecem padrões para o uso de dados.
No entanto, salienta Anya Schiffrin, nenhum dos projetos de lei propostos até agora, incluindo o do Brasil, abordas as questões principais relativas ao jornalismo.
A especialista discorda da ideia de que a regulamentação sufocaria a inovação, como argumentam as empresas de IA generativa, classificando essa visão como uma “armadilha”.
O relatório afirma que a estratégia de “não amarrar as mãos” de uma indústria emergente e agir apenas quando surgirem problemas é “errada e perigosa” para o jornalismo e para o próprio desenvolvimento da IA.
Fonte: Luciana Gurgel/ MediaTalks