América Latina: jornalista que denunciava narcotráfico é assassinado no México

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O jornalista Javier Valdez Cárdenas, 50 anos, reconhecido por suas denúncias contra o narcotráfico, foi assassinado nesta segunda-feira, 15, em plena luz do dia, em Culiacán, capital do Estado de Sinaloa, no México, quando alguns homens o interceptaram em uma via pública e o atacaram com armas de fogo. Ele foi o sexto trabalhador da imprensa morto este ano, em condições similares.

Valdez foi fundador do semanário Ríodoce e era autor de livros que relatavam o drama do narcotráfico e a situação dos jornalistas que desenvolvem seu trabalho sob o clima de violência instalado pelo crime organizado no México.

Em março, após o assassinato de Miroslava Breach, correspondente do jornal La Jornada, Javier havia escrito em seu Twitter: “Mataram Miroslava por ter a língua solta. Pois que nos matem todos, se essa é a sentença de morte por denunciarmos este inferno. Não ao silêncio”.

Consultado por um meio de comunicação sobre a situação do Cartel de Sinaloa – liderado até pouco tempo por Joaquín “El Chapo Guzmán” – Valdez, especialista no assunto, preferiu não dar respostas por questões de segurança. Diante disso, o promotor de Sinaloa informou que o jornalista não tinha dado sinais de estar sob ameaças.

Em uma apresentação de seu último livro “Narcojornalismo: a imprensa em meio a criminalidade e a denúncia”, o comunicador assegurou que “ser jornalista é como fazer parte de uma lista negra. Eles vão decidir, ainda que você tenha blindagem e escoltas, o dia em que vão te matar”.

Com a morte de Javier, que também trabalhou para o portal AFP e La Jornada, a lista de jornalistas mortos em 2017, na esteira de tais ataques engrossa, elevando o número para seis comunicadores/as. Ninguém foi preso por nenhum desses casos.

O Sindicato Nacional de Redatores de Imprensa do México – SNRP se manifestou assegurando: “Novamente o assassinato de um jornalista demonstra que nós que nos dedicamos à nobre arte de informar a sociedade estamos desprotegidos e as autoridades, dos três niveis, começam por negar que os fatos estejam relacionados ao exercício do trabalho e tratam de desvituar as ações, negando que o jornalismo no México é uma das profissões mais perigosas”.

A Federação de Jornalistas da América Latina e Caribe – FEPALC emitiu uma nota afirmando ter especial preocupação com as condições de segurança para o exercício do jornalismo no México. E considerou que a morte de Valdez é um golpe nefasto para os jornalistas mexicanos que se debatem entre o horror e a impotência de ver um Estado ineficiente para combater a impunidade.

A Federação Internacinal de Jornalistas – FIJ declarou que acompanha novamente sua afiliada, a SNRP, em sua reivindicação para que as autoridades políticas e judiciais de todos os níveis do Estado investiguem de forma séria e comprometida os assassinatos de Javier Valdez e dos demais trabalhadores e trabalhadoras de imprensa assassinados nos últimos anos.

Com informações da Federação Internacional de Jornalistas – FIJ e da Federação de Jornalistas da América Latina e Caribe – FEPALC.

Foto: Héctor Guerrero/AFP (FIJ)