Entidades denunciam novas agressões contra profissionais de imprensa

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Prevista na Constituição Federal e apontada como um dos pilares de qualquer sociedade democrática, a liberdade de imprensa é constantemente atacada no Brasil. Nos últimos dias houve novos registros de agressões e tentativas de impedimento do exercício profissional dos jornalistas em diversos estados. Invariavelmente, os principais autores das agressões são políticos e agentes do Estado.

O Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiroemitiu notas oficiais nos dias 12 e 13 de maio. No primeiro caso, para denunciar e cobrar providências das autoridades quanto ao atentado sofrido no dia 9 por uma equipe de reportagem do jornal Extra. A repórter Flávia Junqueira, o repórter fotográfico Fábio Guimarães e o motorista Bruno Guerra acompanhavam operação da Polícia Federal contra fraudes em planos de saúde dos Correios quando foi atacada por um dos acusados de participação no esquema, João Maurício, conhecido como Janjão. 

Já na segunda manifestação, a entidade denunciou a tentativa de militares do Exército impedirem o livre exercício do Jornalismo no dia 10 de maio. A jornalista e diretora do Sindicato, Camila Marins, ao lado do cartunista Carlos Latuff e do morador e fotógrafo da agência “Imagens do Povo”, Naldinho Lourenço, registravam imagens e fatos sobre possíveis abusos e violações de direitos humanos na Favela da Maré, quando notaram o início de uma ação militar de abordagens a moradores e começaram a fotografar. “Sem autorização está proibida a cobertura”, disse um dos militares, ameaçando conduzir a equipe ao Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro (CPOR). A ação não se concretizou porque os profissionais reagiram ao abuso de poder e outro militar os liberou. O Sindicato pediu esclarecimentos ao Comando Oficial do Exército, ao Ministério da Justiça e ao Ministério da Defesa.

Inspetor de Fortaleza manda subordinados “meterem a sola” em jornalistas e estudantes
O Sindicato dos Jornalistas do Ceará repudiou, as agressões da Guarda Municipal de Fortaleza contra jornalista Sara Oliveira, e do Comando Tático da Polícia Militar (COTAM) ao repórter-fotográfico Humberto Mota. Os profissionais do jornal O Povo foram atacados no dia 7 de maio, no terminal de ônibus de Messejana, quando cobriam uma manifestação de estudantesque cobravam da Prefeitura a entrega das carteiras estudantis. Sara foi agredida com chutes e golpes de cassetete que deixaram hematomas em seu corpo e Humberto foi ameaçado sob a mira de uma arma. 

Enquanto manifestantes, usuários de ônibus e jornalistas eram agredidos, um inspetor da Guarda Municipal orientava os subordinados a continuarem os ataques: “É sola, é sola!”, dizia ele, em meio a tiros disparados a esmo. Uma das vítimas, o estudante Welker de Oliveira, teve um dedo do pé direito decepado. O Sindicato cobrou do prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, um posicionamento oficial “no mínimo, com um pedido público de desculpas”, e a apuração rigorosa dos diversos episódios de violência contra cidadãos e trabalhadores, como também a condenação dos responsáveis pela repressão arbitrária.

Jornalistas são condenados a prisão por crime contra a honra em Alagoas
Em nota pública emitida no dia 16 de maio, o Sindicato dos Jornalistas de Alagoas solidarizou-se com os jornalistas João Mousinho e Fernando Araújo, do Jornal Extra, diante da decisão da Justiça Federal que os condenou a cumprirem 10 meses e 20 dias de prisão por crime contra a honra. A entidade manifestou “estranhamento quanto à celeridade do processo”, já que os profissionais foram ouvidos em fevereiro e no final de março já estavam condenados, num tratamento muito diferenciado em uma Justiça notoriamente lenta. Os profissionais estão recorrendo da decisão. A entidade considerou um exagero acusar os dois jornalistas e as pessoas que eles entrevistaram por crime de formação de quadrilha e afirma que a prisão é uma punição desproporcional, raramente aplicada em situações semelhantes.

“A ação penal de nº 0003715-76.2013.4.05.8000 não é a primeira movida pela autora do processo – autoridade do Ministério Público Federal – contra jornalistas. Já respondem a ações semelhantes os profissionais Odilon Rios e Vitor Avner, também acusados de crime contra a honra da referida agente pública”, diz a nota, onde o Sindicato manifesta preocupação com o clima de intimidação aos jornalistas criado com as ações em série que estão sendo ajuizadas.

Em SC vereador e advogada agridem equipe de reportagem 
Em nota oficial emitida no dia 17 de maio, o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina repudiou as agressões praticadas pelo vereador José Braz da Silveira (PSDB) e pela advogada Sara Rúbia Silveira Santos, no dia 15 de maio, contra uma equipe de reportagem do jornal Notícias do Dia. Ao investigar possíveis irregularidades no cumprimento do horário de trabalho de funcionários da Câmara de Vereadores de Biguaçu, cidade situada na região metropolitana de Florianópolis, a repórter Elaine Stepanski, além de ser agredida com palavrões pelo vereador, teve seu gravador arrancado das mãos e destruído pela advogada. Já repórter fotográfico Eduardo Valente teve a lente de sua câmera danificada pelo vereador, que impediu o registro das agressões.

Sindicato dos Jornalistas cobrou providências das autoridades de segurança, da Câmara de Vereadores de Biguaçu e da OAB/SC.