Durante cerca de três horas, representantes da FENAJ e de outras entidades debateram, com senadores, diversos aspectos do projeto de lei que cria o Conselho Federal de Jornalismo, na primeira audiência pública sobre o tema no Senado Federal, em Brasília. O encontro, convocado pela Comissão de Educação, aconteceu no dia 15 de setembro e alguns trechos foram transmitidos ao vivo pela TV Senado.
A sessão foi presidida pelo jornalista e senador Hélio Costa (PSDB-PR) e teve a participação do presidente da FENAJ, Sérgio Murillo, do vice-presidente e presidente do Sindicato de São Paulo, Fred Ghedini, do 1º secretário da Federação e presidente do Sindicato de Minas Gerais, Aloísio Lopes, do ex-presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Nacional e atual membro do Conselho Federal da entidade, Hermann Assis Baeta, do presidente da ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), Inácio Pizani, do vice-presidente executivo da ANER (Associação Nacional dos Editores de Revistas), Murillo Aragão, do presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo e dos senadores Augusto Botelho (PDT-RR), José Maranhão (PMDB-PB) e Leonel Pavan (PSDB-SC), Ideli Salvatti (PT-SC) e Demóstenes Torres (PFL-GO), ex-procurador geral de Justiça em Goiás.
Hélio Costa iniciou o debate com outro assunto igualmente importante: a intenção do Governo de retomar a linha de financiamento do BNDES para a mídia. Segundo o senador, as empresas de comunicação no País são responsáveis pelo emprego de 500 mil trabalhadores. Sérgio Murillo argumentou não ser contra o retorno do pró-mídia, desde que haja transparência nas contas das empresas interessadas nesses recursos, que estes gerem empregos e que a situação trabalhista dos seus empregados seja devidamente regularizada.
Sobre o CFJ, Hélio Costa disse que o projeto já tramita em quatro comissões no Senado e esclareceu que não se trata de uma proposta do Governo, mas da FENAJ, e que a discussão sobre alterações no texto são muito importantes neste momento, pensamento compartilhado pelos dirigentes da Federação Nacional dos Jornalistas. Flexibilidade e abertura para o diálogo são pontos que a diretoria da FENAJ expressou claramente aos presentes na audiência, para que não restasse dúvida nem temores quanto a qualquer tipo de manobras que supostamente pudessem privar os profissionais de imprensa de exercerem sua atividade com liberdade. O objetivo é aprimorar o projeto de forma coletiva, seja por emendas dos parlamentares ou através da elaboração de substitutivos. Aloísio Lopes também sugeriu que o Código de Ética seja incluído no texto do projeto.
Hermann Baeta disse que não há qualquer inconstitucionalidade no texto, e que considera normal a resistência, por parte de setores da sociedade, à criação do CFJ. Lembrou que quando foi criado o Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) em 1843, que depois deu origem à Ordem dos Advogados do Brasil, houve grandes críticas por parte de autoridades e até mesmo de advogados. A resistência foi tanta que a OAB só foi criada em 1930, por uma lei assinada por Getúlio Vargas. Mas, lembrou ele, “quando veio a repressão militar, os advogados e o próprio Conselho Federal da entidade se rebelaram contra Getúlio”. Por isso, ele não acredita que o fato de o projeto do Conselho ter sido enviado ao Congresso por Lula fará os jornalistas se curvarem aos desejos do governo. Disse, ainda, ser essencial que haja disciplina no exercício profissional dos jornalistas e que o CFJ virá, também, para defender a própria categoria e atuará de forma precisa em casos de falhas éticas, as quais podem ocorrer em todas as profissões.
Outros representantes presentes ao debate se mantiveram inflexíveis e sem alteração nos discursos proferidos anteriormente. Seguiram batendo na tecla de que o Conselho atenta contra à liberdade de imprensa. Entre eles, o presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo. O representante da ANER, Murillo Aragão, afirmou que a associação reconhece o direito que os jornalistas têm de criação do seu próprio Conselho, apesar de pessoalmente ser contrário à proposta. Disse também que a ANER está preparando uma proposta específica sobre o tema para ser enviada ao Congresso Nacional.
Baeta, reafirmando que o texto do projeto não representa afronta à constituição, mostrou-se espantado com a enorme quantidade de incorreções nas matérias da grande imprensa sobre o Conselho – mesma impressão causada ao jornalista e senador Hélio Costa, que afirmou ser este um sinal de que os autores dessas matérias provavelmente sequer leram o texto do projeto de lei antes de criticá-lo. O ex-presidente da OAB também defendeu a formulação de um substitutivo, com participação direta da ABI.
O presidente da FENAJ ainda frisou a necessidade de regulamentação do acesso à profissão, já que há muitos exercendo atividade jornalística sem a devida habilitação. Também disse que mais de 40 países possuem seus conselhos de jornalismo e que o trabalho pela melhoria na qualidade dos cursos será uma das bandeiras do CFJ. Por fim, o vice-presidente da FENAJ, Fred Ghedini, avaliou essa primeira audiência pública como particularmente esclarecedora, mostrando claramente que um projeto nascido dos próprios jornalistas não pode aceitar qualquer espécie de censura e que um de seus principais benefícios será, justamente, garantir autonomia e independência à categoria, num mercado notadamente fragilizado pela precarização nas relações de trabalho.