A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a Associação de Jornalismo Digital (Ajor) e o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) cobraram, via ofício, as autoridades de segurança de São Paulo para que o caso da ameaça à jornalista Danielle Zampollo seja investigado com celeridade e que sejam tomadas as medidas cabíveis.
A jornalista, que atua no Profissão Repórter, da TV Globo, teve um fuzil apontado para ela e foi intimidada por um agente da Polícia Militar. O programa, exibido no dia 15 de agosto último, tinha como tema a letalidade em ações policiais no Brasil, como a Operação Escudo, realizada no fim de julho em São Paulo, e que até o momento sabe-se que resultou na morte de 20pessoas. Segundo autoridades, todas foram mortas por policiais ao “reagirem às abordagens”.
O programa enviou uma equipe para ouvir os moradores de Prainha, comunidade na cidade do Guarujá, na Baixada Santista. A repórter havia se identificado para os PMs que chegaram no local com uma viatura. Enquanto fazia imagens da comunidade, Danielle Zampollo foi localizada por um agente que apontou o fuzil em sua direção por 17 segundos.
Diante da abordagem ameaçadora, a jornalista buscou abrigo na casa de um dos moradores, foi então que o mesmo soldado se aproximou novamente e passou a filmá-la com o intuito de constrangê-la e intimidá-la. Nesse momento, foi possível perceber que o agente estava trabalhando sem a devida identificação em seu uniforme.
O vídeo foi divulgado e viralizou nas redes sociais com o propósito de desqualificar o trabalho da imprensa, como se a repórter tivesse “armado” a cena para flagrar uma suposta irregularidade da PM e colocar em risco os seus agentes, sem mencionar que ela tentava apenas se proteger da mira de uma arma ostensiva e letal.
Reportar fatos de interesse público e garantir o direito de informação da população são cernes da atividade jornalística, que recebe proteção constitucional para desempenhar essa função essencial para a manutenção da democracia. Esse trabalho é ainda mais fundamental quando envolve agentes de segurança, em que o interesse no escrutínio público é evidente. A Polícia Militar deveria agir para garantir a segurança de todos, inclusive dos trabalhadores da imprensa, e não contribuir para um cenário de riscos e ameaças ao exercício da profissão.
As organizações que defendem a liberdade de expressão e de imprensa também pediram que a corporação reconheça e repudie a postura do agente, que a intimidou . O caso já foi divulgado em instâncias internacionais pelo CPJ e pela organização Women in Journalism.
FENAJ, Abraji, Ajor e CPJ esperam que a Polícia Militar, a Secretaria de Segurança Pública e o Governo do Estado tomem as providências necessárias para punir os responsáveis desse caso e também avancem no treinamento e na capacitação de seus agentes para que abordagens agressivas contra jornalistas não se repitam.