Patrões, parlamento e governo se unem para enterrar projeto do CFJ

585

Fenaj segue na luta pela regulamentação, qualidade e ética no Jornalismo.

O projeto que propõe o Conselho Federal dos Jornalistas está morto. A esperança de milhares de jornalistas e a expectativa de segmentos sociais importantes foram enterradas pelos coveiros tradicionais da democracia e da organização da sociedade, aliados a inusitados novos cúmplices.

Criticado à histeria desde o anúncio do seu encaminhamento à Câmara dos Deputados pelo Executivo, o projeto do CFJ foi acusado, entre coisas, de ser autoritário, de atender a uma suposta tentativa de cerceamento da imprensa pelo Governo Federal e de manietar os jornalistas num código de ética corporativo e principalmente, de ser ilegí­timo por ser proposto por uma entidade sindical, a Federação Nacional dos Jornalistas. As verdadeiras intenções desses crí­ticos ficaram até agora encobertas pelo manto obscurantista de uma mí­dia historicamente articulada com os segmentos mais atrasados do paí­s.

O projeto do CFJ está morto e dançam sobre sua tumba os interesses aparentemente mais contraditórios. Os empresários da mí­dia brasileira devem se regozijar. Mais uma vez seus desejos são atendidos. Escondidos atrás de um inverossí­mil discurso de liberdade de imprensa, na verdade sempre tiveram a mais medí­ocre das intenções: manter as condições salariais e de trabalho dos jornalistas nos ní­veis mais baixos possí­veis para compensar suas cambaleantes taxas de lucros. Os empresários não admitem a normatização ética da profissão, porque querem manter o poder de decisão sobre o que pode e o que não pode ser informado à população. Os donos da mí­dia e do poder real, mais uma vez, impuseram sua vontade.

Indisfarçável satisfação devem estar sentido alguns jornalistas desinformados e/ou mal intencionados, notoriamente aqueles com espaço concedido e privilegiado, que serviram como verdadeiros cães de guarda da monopolizada mí­dia nacional. Durante o debate público, suscitado pelo envio do projeto, era visí­vel o alinhamento submisso à retórica patronal de preconceito e infâmia.

Alí­vio deve estar sentindo o parlamento brasileiro. Um parlamento que, composto em grande parte de proprietários de veí­culos de comunicação, reproduziu mais uma vez o lamentável espetáculo da barganha, chantagem, coerção e principalmente, covardia. O processo, conduzido pelo presidente da Câmara, Deputado João Paulo Cunha, pelo lí­der do Governo Deputado Luizinho e pelo lí­der do PFL, José Carlos Aleluia, sonegou à sociedade brasileira a possibilidade de continuar o debate sobre o mais secreto e antidemocrático poder instituí­do no paí­s que é o poder das empresas de comunicação. Uma constrangedora unanimidade se construiu em torno de um pragmatismo lamentável e, como cúmplice silencioso, permitiu o assassinato do projeto. A maior demonstração de subserviência, foi a indicação do deputado Nelson Proença para a relatoria – um histórico defensor dos interesses dos donos da mí­dia, proprietário de uma rede de rádios no interior do RS. A FENAJ ressalva e louva a posição da bancada do PCdoB que rejeitou o acordo de lideranças para sepultar o projeto e estranha o comportamento de partidos do campo democrático e popular que avalizaram tal impostura.

Melancólico foi o comportamento do governo que, se num primeiro momento compreendeu a justeza da reivindicação dos jornalistas e encaminhou o projeto, em seguida sucumbiu à prática de balcão de negócios estabelecida com o Congresso e, parecendo admitir as acusações de tentativa de cerceamento da imprensa, abandona o projeto de organização da profissão de jornalista à própria sorte.

Mas se o projeto do CFJ está morto, viva o Conselho Federal dos Jornalistas que advirá desse embate. Não é possí­vel que o enorme esforço dos jornalistas brasileiros seja jogado no lixo, como aliás está nesse momento a lei que regulamenta a profissão. Não podemos permitir que manifestações generosas e fraternas de alguns parlamentares, entidades e organizações, como a OAB entre muitas, sejam em vão.

Os jornalistas brasileiros não desistirão de terem o controle do seu destino, que é a auto-regulamentação de sua profissão. Há 39 anos, o Congresso arquivou o primeiro projeto de criação de um Conselho Federal dos Jornalistas. Essa não é a primeira, e não será a última vez que nos mobilizamos. A FENAJ – que nos últimos quatro meses liderou um rico e histórico processo de debate sobre o jornalismo e os interesses privados que controlam a mí­dia no paí­s – seguirá firme na luta. Mais do que uma legí­tima reivindicação de organização profissional, o CFJ é um importante instrumento de valorização da profissão e de garantia de uma informação de qualidade, pautada em princí­pios democráticos e éticos.

Brasí­lia, 15 de dezembro de 2004.

Diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas