No 30º Congresso Brasileiro de Comunicação, promovido pela Intercom em agosto, em Santos, os jornalistas e pesquisadores Antonio Hohlfendt e Alfredo Vizeu foram agraciados com o Prêmio Luiz Beltrão 2007 nas categorias de “Maturidade Acadêmica” e “Liderança Emergente”, respectivamente. E se comprometeram a continuarem trabalhando pela qualificação da área da comunicação e do campo do jornalismo. Nesta coletiva da FENAJ eles comentam sobre a situação da pesquisa no Brasil e sobre temas atuais, como o CFJ, as novas tecnologias, seu impacto na comunicação e a organização sindical dos jornalistas. Antonio Hohlfeldt é Doutor em Lingüística e Letras e professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), do qual já foi coordenador, orienta mestrandos e doutorandos do PPGCOM e participa de um projeto de pesquisa sobre a História da Imprensa no Rio Grande do Sul. Professor do Departamento de Comunicação de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Alfredo Vizeué vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade, membro da Sociedade Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo e coordenador do GT de estudos de Jornalismo da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação. Com esta bagagem, respondem às questões que nos foram encaminhadas. E-FENAJ – Inicialmente, quais as suas sensações ao serem agraciados com o Prêmio Luiz Beltrão 2007 nas suas categorias? Antonio Hohlfeldt – Ganhar um prêmio como o Luiz Beltrão, para quem, como eu, cresceu intelectualmente na área, vinculado à Intercom e, ao longo de minha carreira, tive a oportunidade inclusive de entrevistar Beltrão em Porto Alegre, quando de sua vinda, em uma Feira do Livro, para lançar um livro (Vozes) sobre o índio brasileiro, é, evidentemente, uma alegria, uma emoção e uma responsabilidade. Desde minha volta do Canadá, em 1975, passei a lecionar nos cursos de Comunicação Social, primeiro na UNISINOS e depois na PUCRS, sempre vinculado á área de Teoria da Comunicação, área na qual Beltrão deu importante contribuição com a teoria da Folkcomunicação. Por outro lado, sobretudo ao receber o prêmio de “maturidade acadêmica” isso significa que se tenha dado alguma contribuição significativa à área e, claro, que se possa ainda contribuir com ela. O que nos coloca em certo grau de compromisso e obrigação em relação á área. Alfredo Vizeu – O Prêmio Luiz Beltrão é um reconhecimento a um trabalho que estou desenvolvendo, em particular, no Jornalismo, há mais de 20 anos como profissional e há dez como professor e pesquisador da área. Mais do que isso é um reconhecimento dos coletivos que participo. Esses sim os grandes premiados como a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares em Comunicação, o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo e a Sociedade Brasileira de Pesquisadores de Jornalismo. E-FENAJ – No campo da pesquisa em comunicação, quais estudos que os senhores estão desenvolvendo ou já desenvolveram que consideram contribuições mais significativas para os estudos nacionais sobre esta área? Alfredo Vizeu – De uma maneira breve a contribuição que venho trazendo para a área, junto com outros colegas, é investigar o campo do jornalismo como uma forma de conhecimento e como um lugar de construção do real. Outra atividade importante que desenvolvo é a investigação sobre a importância do telejornalismo no Brasil. Antonio Hohlfeldt – Creio que os livros que tenho escrito ou coordenado têm ajudado à área de modo geral. Meu livro sobre Última Hora buscou entender as características específicas da edição regional daquele jornal que mudou a história do jornalismo no país, diante de um contexto muito específico do Rio Grande do Sul, contexto político-partidário que se refletia no enfoque jornalístico. Outros dois livros que promoveram balanços e contextualizações foram “Teorias da Comunicação”, da Vozes, hoje em oitava edição: pela primeira vez professores brasileiros produziram um livro sobre teorias da comunicação com o enfoque das disciplinas tais como elas eram aqui desenvolvidas. O livro vem sendo adotado em diferentes faculdades em todo o país. E por fim, o volume que reúne textos e bio-bibliografias dos agraciados com o prêmio Luiz Beltrão, que vai para a segunda edição agora em novembro (Sulina), promoveu verdadeiro balanço do estágio e da evolução da pesquisa em comunicação social em nosso país, justamente através dos autores premiados e dos textos selecionados. E-FENAJ – Muitos dos colegas que optam por seguir a carreira acadêmica tentam vagas em universidades européias ou dos EUA, por considerem-nas mais conceituadas. Isto é procedente? Nas avaliações da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) na área de comunicação os cursos de Mestrado e Doutorado da PUC/RS e da UFPE estão com excelentes avaliações (5 e 4, respectivamente). Os senhores consideram que os cursos de Mestrado e Doutorado em Comunicação brasileiros estão em estágios menos avançados do que os de outros países? Antonio Hohlfeldt – A universidade no Brasil tem vida curta. Não mais que um século. Os programas de pós-graduação têm apenas meio século. Já possuímos programas com avaliação internacional. Já temos autores que produzem e editam em revistas internacionais. Na área específica da Comunicação Social, através da SBPJor já possuímos inclusive uma revista internacional, editada em inglês. Se todos sairmos do país, jamais iremos para a frente. Acho importante a formação parcial, internacional, para sabermos nosso lugar e conhecermos os desafios que temos pela frente. Acho que pode ser importante fazer o intercâmbio internacional de ficarmos um semestre, por exemplo, fora. Mas não penso que simplesmente mudar para o exterior seja solução para nada, nem para o contexto de educação nem para um professor e pesquisador, individualmente falando. Acredito inclusive, como dizia o Paulo Emílio Salles Gomes, a respeito do cinema brasileiro, que da quantidade nascerá, sim, também a qualidade. Ou seja, temos uma multiplicidade de pesquisas em desdobramento e, aos poucos, certamente acertaremos o foco. Alfredo Vizeu – Não, acredito que estamos no nível semelhante ao de outros países. No que diz respeito ao campo do Jornalismo, tanto a PUC-RS como a UFPE estão, em muitos casos, acima de outros centros de pesquisa internacionais. E-FENAJ – E quais suas avaliações sobre a valorização e apoio aos estudos e pesquisas na área de comunicação no Brasil? Há, de fato, uma defasagem no financiamento a projetos? Alfredo Vizeu – O campo da comunicação, e em particular o do Jornalismo, é central para entendermos o nosso País, a democracia no Brasil. O Jornalismo, particularmente o televisivo, é a grande “Praça Pública” do País. No entanto, apesar da importância da área os investimentos em pesquisa ainda estão aquém das necessidades. Antonio Hohlfeldt – O financiamento e o apoio oficial à pesquisa tem flexões muito variáveis, dependendo de cada administração. Infelizmente, essas políticas ficam sempre vinculadas a uma determinada administração. Não se promovem planos diretores da área, que possam se desdobrar independentemente do governo de plantão. Não obstante, acho que o problema maior não é este e, sim, a parca compreensão que empresários e empresas possuem sobre o papel da pesquisa nacional. Boa parte das empresas, no máximo, financiam alguma premiação. Mas raramente encomendam trabalhos, pesquisas ou projetos para os pesquisadores brasileiros. Com isso, os melhores acabam deixando o país, e nós continuamos importando projetos, pagando royalties de direitos autorais de princípios técnicos, e por aí afora. Não se trata de competência do pesquisador brasileiro, mas de compreensão do seu significado por parte das empresas nacionais. E-FENAJ – Bem, vamos agora às perguntas que nos foram encaminhadas. Cabe esclarecer que alguns colegas as formularam especificamente para um de nossos convidados. No entanto, vamos apresentá-las a ambos, para que nossa entrevista seja enriquecida com suas respectivas opiniões. Dalmo Oliveira, que cursou mestrado na UFPE, pergunta: que tipos de ideologias são centrais hoje na prática jornalística brasileira? É ainda possível se falar em jornalismo isento? Antonio Hohlfeldt – Acho que, pura e simplesmente, falar de jornalismo isento é uma certa ingenuidade. Nem a linguagem é isenta e, portanto, seu produto não pode ser isento. O que é necessário, contudo, é que o jornalismo dê oportunidade a que todos os lados se pronunciem. Mais que isso, que determinados assuntos, que normalmente não ocupam as pautas dos periódicos e dos jornais de rádio e televisão também apareçam. Esse é o grande desafio, o chamado jornalismo cívico, como se chama hoje nos Estados Unidos, um jornalismo onde, ao contrário, o profissional não esconde seu posicionamento.Mas, justamente por explicitá-lo, permite ao receptor – leitor, ouvinte ou telespectador – poder estabelecer uma recepção crítica. Alfredo Vizeu – Acredito que é básica no Jornalismo a questão ética, ou seja, o respeito ao outro. Isso deve ser central em qualquer notícia ou reportagem realizada. Quanto à isenção, sem entendermos que é possível sermos éticos, acredito é possível se falar em isenção. E-FENAJ – Taís Ferreira, de Belo Horizonte, fez uma “bateria” de perguntas. Vamos a elas: qual a importância da criação de um Conselho Federal de Jornalistas para a democracia brasileira? Como esta proposta está sendo discutida pela universidade, pelos professores e estudantes de jornalismo? E como levar este debate para toda a sociedade? Já quanto à introdução da TV digital no Brasil, ela quer saber como podemos refletir sobre a pressa do governo na escolha do padrão japonês para a TV digital, quando durante três anos, cerca de 1200 pesquisadores de universidades brasileiras desenvolveram um sistema próprio de TV digital o SBTVD, um modelo pensado a partir dos usos que esta TV pode ter e não sob o ponto de vista dos negócios e que em muitos pontos é superior aos similares norte-americano, europeu e japonês? E qual estratégia pode ser utilizada pelas universidades, pesquisadores e sociedade para que todo este trabalho não se perca? Alfredo Vizeu – Vou responder a questão de uma forma bem ampla procurando dar uma opinião geral sobre os temas perguntados. A televisão e o rádio são concessões públicas. São patrimônios do País, do seu povo. O modo como se deu e vem se dando a discussão, de uma maneira geral, não está levando em conta os desejos e os interesses da sociedade e dos movimentos sociais que vêm lutando para defender as reivindicações legítimas de todos e todas, mas não encontram espaço nem no governo nem na mídia. Antonio Hohlfeldt – Acho que a proposta do Conselho nasceu viciada e foi discutida viciadamente, por todos os lados, seja por quem propôs, seja por quem discutiu. Muita gente que propôs tinha segundas intenções, e muita gente que condenou tinha terceiras intenções. Acho que o debate precisa ser articulado, na verdade, com maior distanciamento de interesses ideológicos e partidários, permitindo que a idéia central de um Conselho, que é um órgão capaz de ajudar a estabelecer legislação e princípios éticos para o exercício da profissão, alcance realmente sua concretização, sem os riscos de uma censura institucional, como então se argumentou. Faço parte do Conselho de Ética do nosso Sindicato no Rio Grande do Sul; participei da revisão de propostas para o novo Código de Ética encaminhado à discussão da FENAJ e, por coerência, não posso ser contra a idéia de um Conselho. Mas por uma série de contextos daquele momento, de fato, o debate se perdeu. Precisaremos esperar um pouco e recomeçar esta discussão, que é profundamente importante, não só para o profissional quanto para a sociedade brasileira. A Universidade, contudo, de modo geral, parece-me que está distante deste tipo de discussão, o que é uma pena. A mesma coisa ocorre com a questão da televisão digital. O Governo Federal, contrariando seu discurso, acabou encaminhando a questão sem muito debate com a sociedade civil, ou discutindo-a apenas com alguns escassos setores. Só agora, quando se abre também o debate sobre o rádio digital, é que as coisas começam a se abrir um pouco mais. No entanto. É bom também reconhecer que quando o governo abre o debate, pouca gente se habilita ao mesmo e, sobretudo, conhecendo tecnicamente a questão, e não debatendo-a apenas ideológica e sectariamente. O problema básico não é o nosso interesse profissional, mas sim, o interesse da sociedade, ou seja, dos receptores. Apesar de tudo, acho que vamos ter novas oportunidades quando da regulamentação, mas para isso será importante a mobilização de universidades e de instituições. Por exemplo, as próprias emissoras estão agora preocupação com a competição em relação às empresas de telefonia celular. Poderemos, talvez, pensar em alianças estratégicas para ampliar os debates. Mas para isso, é fundamental conhecermos tecnicamente as vantagens e desvantagens de cada sistema e as alternativas de legislação, o que me parece ainda pouco compreendido por parte do grande público e até mesmo de nós, profissionais. E-FENAJ – Humberto Leite, de Fortaleza, comenta que recentemente o Estadão On Line lançou uma campanha que, em linhas gerais, desqualificava os blogs para promover o seu novo portal. E registra que UOL e iG recentemente implantaram seus “ombdsman”. Ele quer saber como os senhores avaliam a necessidade das empresas de comunicação de promoverem suas diferenças frente ao avanço da internet, com suas inúmeras possibilidades? Alfredo Vizeu – Penso que a questão dos blogs é mais ampla do que o Jornalismo. A internet e as novas tecnologias têm ampliado as formas de expressão e manifestação. Não podemos reduzir, por mais que seja um defensor intransigente do campo do Jornalismo, esses novos movimentos do mundo contemporâneo só ao Jornalismo. São novas práticas sociais e da experiência muito maiores do que o Jornalismo. Antonio Hohlfeldt – A internet mudou profundamente os processos comunicacionais. Para o bem ou para o mal, esses processos se abriram radicalmente. A avaliação do que vai poder suceder é exercício de futurologia, quer porque o processo é muito novo, quer porque o que acontece é tão rápido, que mal a gente entende uma coisa e outra já está em seu lugar. Há um aceleramento constante de implantação de novas tecnologias. Desde os anos 70, pelo menos, pesquisadores como Martin Jesus Barbero defendem que é preciso os pesquisadores da área, em geral, habilitarem-se a dominar tais conhecimentos para poderem refletir criticamente sobre eles. O problema é que, de um lado, precisamos atender às necessidades cotidianas de nossas universidades ou empresas jornalísticas e, de outro, mantermo-nos em dia com o que ocorre de novidade, o que é muito difícil. De qualquer modo, sempre acho que a democratização dos processos de produção e circulação de informação é positiva. A questão é saber como e o quê se faz com isso. Mas daí é o processo e o tempo que vão poder nos responder. Não tenho dúvidas, contudo, que o atual estágio de tecnologia favorece, em muito, a possibilidade real de democratização, desde que conheçamos, efetivamente tais tecnologias e, por conseqüência, as dominemos, não nos posicionando naquilo que Hans Magnus Enzensberger, ainda nos anos 70, denunciou: tinha muita gente que odiava a televisão, se negava a reconhecer a televisão como uma mídia importante e, desta maneira, deixava a televisão com os grandes conglomerados, ao invés de valer-se dela para a democratização da comunicação e a busca de apoio a movimentos sociais os mais variados. Depois, não adianta se queixar… E-FENAJ – Yuri Almeida, da Bahia, quer conhecer suas opiniões sobre o jornalismo colaborativo (open-source)? Antonio Hohlfeldt – Do ponto de vista de promover a circulação de informação, penso que o open source journalism é positivo. Contudo, também penso que o jornalista deve se rum profissionalmente, especificamente treinado para mediar a circulação de tais informações, oi que significa inclusive avaliá-las e saber como redigi-las. Não se pode ser ingênuo imaginando que o open source elimina a manipulação ideológica ou qualquer outra. Aliás, é mais fácil controlar eticamente uma categoria profissional, com seu código de ética, do que diferentes fontes que não tenham quaisquer responsabilidades, promovendo boatos, por exemplo, que podem ter conseqüências desastrosas para a sociedade, inclusive produzindo resultados artificiais extremamente negativos. Precisamos, pois, de um posicionamento de equilíbrio, que só o tempo vai nos possibilitar. Alfredo Vizeu – Entendo que essa questão está ligada à resposta anterior. Acho que o chamado “Jornalismo Colaborativo” é uma forma de expressão e comunicação da sociedade muito maior do que o Jornalismo. Ou seja, não se restringe só as práticas jornalísticas. E-FENAJ – Gilberto Gonçalves, de Campinas, questiona: a Internet é uma aliada ou uma inimiga dos meios populares de informação? é possível inserir um blog no contexto da “Folkcomunicação”? Ele pergunta, também, se com o advento dos blogs a busca por estudos mais avançados de jornalismo – pós-graduação – não tende a perder força? E finaliza pedindo que o professor Vizeu faça um breve panorama do jornalismo praticado no nordeste. Alfredo Vizeu – Entendo que todas as tecnologias são sociais. Vão ser o que fizermos delas. É claro que isso não se consegue de graça, mas com muita luta e organização. Quanto ao Jornalismo no nordeste, posso lhe falar brevemente sobre Recife onde leciono na UFPE. Entendo que de uma maneira geral jornais e tevês têm procurado acompanhar e interpretar o cotidiano da sociedade. Contribuir para que as pessoas entendam mais o mundo que as cerca. No entanto, ainda estamos longe de ter todas as vozes tendo espaço no campo do Jornalismo. Como disse anteriormente, vai depender da mobilização da gente para garantirmos políticas que possibilitem o espaço e a intervenção no campo do Jornalismo para todos os segmentos sociais. Antonio Hohlfeldt – A internet será sempre aliada, dependendo do uso que se faça dela. Quanto à internet em sua relação com a Folkcomunicação, sim, pode ser positiva, por exemplo, para a divulgação de valores e práticas populares as mais variadas. No conceito original da folkcomunicação Luiz Beltrão falava em circuitos de informação fora da chamada mídia de massa. Acho que a emergência de novas tecnologias deve nos levar a relativizar tais conceitos. Enquanto mídia (isto é, meio) a internet pode ser um excelente veículo folkcomunicacional, do mesmo modo que a internet não é apenas globalização, mas também apoiadora do local, e daí o conceito de global. A internet é tecnologicamente massiva, mas pode ser apropriada de maneira mais individualizada e personalizada, o que não contradiz as perspectivas teóricas de Luiz Beltrão, ao menos, em meu entendimento. E-FENAJ – Como os senhores também têm uma vivência com o movimento sindical da categoria, para finalizarmos, vamos expor algumas “broncas” do José Paulo Borges Becker, do Mato Grosso, com o seu Sindicato, e questionamentos que ele fez quanto à pouca valorização dos profissionais do interior do Brasil. Ele lembra que há grandes ícones do jornalismo oriundos de cidades pequenas e critica que em seu estado há ótimos profissionais sem sequer serem lembrados pelo Sindicato. Diz que só são lembrados pela entidade em período de eleição, que o Sindicato cobra a contribuição sindical, mas assegura poucos direitos, e pergunta: por quê do distanciamento, da falta de apoio, da falta de interesse em congregar a categoria? Como mudar esta política desleal com os colegas do interior? Antonio Hohlfeldt – O processo de marginalização do profissional do interior não ocorre só com o jornalismo. A história de nosso sindicato no Rio Grande do Sul foi a de uma preocupação grande em unificar a categoria, já que há 30 anos tínhamos mais de três sindicatos no estado. Com isso, perdia-se a força da reivindicação. A atual direção, da qual faço parte enquanto membro do Conselho de Ética, tem inclusive um presidente que vem do jornalismo do interior. Ainda uma vez, a tecnologia pode nos ajudar. Há alguns anos, jornal de interior em geral vivia da “tesoura press”. Hoje, não apenas a internet diminuiu tal dependência, quanto as tecnologias de impressão baratearam os processos de rodagem e os jornais apresentam melhor cuidado com diagramação, etc. Os periódicos precisam contudo, também apostar mais no espaço para o verdadeiro profissional, valorizando-o. A conseqüência desse processo todo, que está sempre em movimento, é que gradualmente o jornalista do interior passa a ser respeitado e participante de todo o processo sindical do estado, assim como tais jornais passam a ter importância no próprio processo informacional da província. Acho que estamos bem mais descentralizados do que anos atrás. Mas tudo varia muito de estado para estado, e de região para região. O Brasil ainda é muito grande para a gente não poder fazer uma avaliação unitária de tais situações. Alfredo Vizeu – Entendo que a melhor maneira de você contribuir para mudar seu sindicato é participar das mais diversas formas possíveis. Discutindo com seus colegas nos locais de trabalho, participando das assembléias, das atividades do sindicato. É claro que não é uma tarefa fácil. Mas, as mudanças só acontecerão com a nossa participação e intervenção. Caso contrário tudo vai permenecer como está. E-FENAJ – Obrigado por suas participações, professores, e parabéns por suas merecidas premiações. O próximo convidado de nossa coletiva mensal será o juiz Cláudio José Montesso, presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (ANAMATRA), que falará sobre a Campanha pela Efetivação do Direito do Trabalho que a entidade está promovendo. Para participar, encaminhe perguntas até o dia 23 de outubro para boletim@fenaj.org.br, especificando, na linha de assunto, “Entrevistas da FENAJ”. |