Violência e despreparo policial em Santa Catarina

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* Sérgio Luiz Gadini

A recente cena de violência, a que foi submetido o professor Nilson Lage em Florianópolis, confirma e expõe a frágil situação da Policia Militar em Santa Catarina. Lage sentiu-se mal quando dirigia, conseguiu parar o veículo e ficou desacordado. E o que fez a polícia? Prendeu, algemou e jogou o professor de 69 anos num camburão com destino a uma delegacia da cidade. Marcas das algemas e escoriações pelo corpo denunciam o tratamento que a PM catarinense parece dar aos contribuintes em situações como estas.

A dimensão do abuso de autoridade, seja por prepotência, despreparo ou hábito, saiu do Estado e já é de conhecimento de diversos setores da opinião pública em nível nacional. Não por acaso, a assessoria, o secretário de Segurança e o governador receberam inúmeras notas e documentos de entidades sociais exigindo providências e explicações públicas ao caso.

A cena coloca em risco não apenas a propagada imagem de um Estado acolhedor (turístico!), mas também a eficiência e autoridade do próprio governo, uma vez que os responsáveis diretos pelas condições de (in) segurança em SC são de inteira responsabilidade e confiança do próprio governador, Luiz Henrique da Silveira(PMDB), que é candidato à reeleição.

É claro que a violência nas ações policiais em SC não é exclusividade do atual governo, mas para quem reivindica uma gestão voltada ao interesse público não se admite, em hipótese alguma, que o atendimento ao cidadão seja confundido com abuso e violência policial, num claro indício de má gestão do dinheiro do contribuinte.

A esta altura, como se sabe, pouco adianta qualquer tentativa de explicação técnica ou discursiva para amenizar o desastre. É urgente, contudo, que o governo do Estado assuma sua função “legitimamente eleita” de responsável pelas condições de segurança, tome todas as providências que casos como este precisam e, além disso, apresente explicações públicas convincentes para assegurar que cenas similares não podem e não devem se repetir.

Tampouco é aceitável qualquer tentativa de isolar os fatos, como se ações deste tipo fossem casos raros ou descontextuais. Afinal, todo governo tem a obrigação moral e constitucional de responder pelas funções que assume quando se apresenta para administrar o dinheiro dos pesados impostos dos contribuintes. Deste modo, não restam outras saídas, a não ser assumir a responsabilidade pelos erros, adotar as medidas competentes e garantir aos cidadãos que abusos como o tratamento que o professor Lage recebeu da Polícia Militar em SC não devem acontecer em qualquer lugar deste País. Na Santa e Bela Catarina, idem!

* Professor de Jornalismo e mestre em Ciências Sociais
Aplicadas da UEPG/PR

Fonte: Gazeta de Joinville