Valério Cruz Brittos e Éderson Silva Desde que a informação, a matéria-prima do jornalismo, passou a ser concebida como um produto e como tal priorizada para venda, o ato de informar seguiu um caminho perigoso e conflitante. A fidelidade aos fatos e à ética foi distorcida em nome de uma matéria espetacular para a apreciação e o consumo do maior número de receptores possível. Inseridas no contexto capitalista, as empresas de comunicação têm uma visão mercantilista da informação, que deve agregar a maior parte do público a que se destina para obter os melhores preços na vendagem do produto em si ou de sua publicidade. O sensacionalismo é utilizado cada vez mais como recurso estratégico nesta Fase da Multiplicidade da Oferta em que os agentes comunicacionais têm que captar a atenção do público rapidamente, ante o acirramento da concorrência. Esta capacidade de agregar públicos faz com que o sensacionalismo seja utilizado, inclusive, como ação de programação para conquistar público localmente, como, no mercado televisivo, fazem Band e Record com a edição regional do Brasil Urgente e o Balanço Geral, respectivamente, ou como procedem organizações jornalísticas de vários estados brasileiros, com jornais para públicos C, D e E. Nos projetos sensacionalistas, a notícia deve ser conduzida a um extremo, ocorrendo a exacerbação dos fatos incessantemente com detalhes minuciosos a fim de chocar ou emocionar o público. Estes casos ocorrem principalmente em sequestros, estupros, crimes hediondos, assaltos e outros acontecimentosfortes, em que há uma máscara de jornalismo popular, com seus protagonistas sendo proclamados representantes do povo. São mostrados como figuras paternalistas, defensoras dos mais fracos, mas se enriquecem da desgraça e do sofrimento alheio, vendendo uma imagem ilusória de salvação para os problemas sociais. Questão ética, ponto crucial O Código de Ética dos jornalistas brasileiros menciona que o profissional da área deve combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando exercidas com o objetivo de controlar a informação. Deve haver respeito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão, o que não ocorre quando se trata de explorar a notícia pelo seu ângulo sensacional. Paradoxalmente, quanto mais o sensacionalismo é utilizado, mais é lançado o argumento de que o jornalismo não deve ser regulado porque, por si próprio, teria um caráter de serviço público, mesmo quando exercido no âmbito de instituições mercadológicas. A atividade jornalística visa à pluralidade, na sua gênese estando ligada a interesses mais amplos, já a exploração de imagens com o objetivo de chocar as pessoas remete a objetivos privados, relacionados ao lucro, preferencialmente. No código da profissão está claro, em seu artigo 11, dentre outros pontos, que o jornalista não pode divulgar informações visando ao interesse pessoal ou buscando vantagem econômica; nem que contenham caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes. Questiona-se até que ponto grande parte dos conteúdos jornalísticos atuais passa por este confronto nas diversas mídias que atravessam a sociabilidade contemporânea. * Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e graduando do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da mesma instituição, respectivamente. Publicado no Observatório da Imprensa em 04/10/2011
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