Agredir jornalistas fere a democracia

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* Celso Schröder

Os jornalistas brasileiros viveram situações opostas desde o início das manifestações que abalam o país. Primeiro foram perseguidos e agredidos pela polícia paulista, quando o movimento ainda parecia ser contra o aumento das passagens. Pelo relato dos profissionais, a policia os localizou, isolou e disparou a queima-roupa. Foram duas dezenas de profissionais agredidos com intencionalidade e método. A Federação Nacional dos Jornalistas e seus sindicatos foram claros na condenação desta barbárie.

Na semana seguinte, a situação mudou, fazendo brotar – de um movimento supostamente libertário e pacifista – uma violência inaceitável contra esses mesmos jornalistas. Ignorando os preceitos constitucionais da liberdade de imprensa e de expressão, em todo o país parte o movimento incendeia carros, ameaça jornalistas e impede o exercício profissional de maneira livre e independente.

As agressões contra jornalistas vêm se sucedendo tanto por parte do aparato policial quanto por parte de manifestantes, recebendo a condenação tanto da FENAJ quanto dos Sindicatos dos Jornalistas de 8 estados onde houve registros de violência contra os profissionais. Nos posicionamos de maneira inequívoca para rebater práticas inconciliáveis com a democracia e o estado de direito, assim com defendemos o desejo lícito das mudanças necessárias e urgentes a serem realizadas pelos agentes políticos do país.

Embora seja compreensível a crítica contra uma mídia hegemonicamente conservadora e historicamente atuante como verdadeiro partido político, uma parcela dos participantes das passeatas, inclusive com o apoio velado desta mesma mídia, desconhece o esforço que jornalistas e a sociedade como um todo fizeram para reconquistar a possibilidade de um jornalismo livre.

A luta contra a censura foi uma ferramenta decisiva da sociedade brasileira contra a ditadura militar. Por isso, para além dos desejos manifestos, é necessário garantir também ações que não comprometam a liberdade de expressão e outras liberdades democráticas.

É preciso entender que nenhum ator social, polícia ou militante, pode impedir a atividade jornalística. Num mundo de hiperinformação e profusão de opinião, a existência de mediadores a interpretarem e organizarem essa entropia de dados, comprometidos com o interesse público, baseados na responsabilidade do relato da realidade, sustentados no princípio da averiguação e constituído a partir de uma ética pública e cidadã é mais do que desejável, é absolutamente necessária.

A FENAJ não permitirá qualquer ameaça a seus profissionais e ao trabalho que realizam. Seja quem for, precisa se submeter aos princípios democráticos consagrados internacionalmente. A Federação utilizará toda a rede internacional das organizações dos jornalistas para impedir qualquer deslize que ponha em risco a integridade física dos trabalhadores e a realização do jornalismo.

* Presidente da FENAJ, da Federação dos Jornalistas da América Latina e do Caribe (FEPALC) e vice-Presidente da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ)

Publicado no jornal Zero Hora em 26/6/2013.