Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de São Paulo completa 20 anos

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A Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de São Paulo (Cojira SP) completou 20 anos em 11 de setembro. Criada com o objetivo de ser um organismo de combate ao racismo no interior do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo (SJSP), o núcleo inicial, denominado Comitê Permanente de Jornalistas Negros, iniciou em junho de 2000, a partir de uma proposta de Noedi Monteiro, uma discussão a respeito da criação de uma fundação que atendesse a tais demandas.

No decorrer do primeiro semestre de 2001, abriu-se uma discussão política sobre a pertinência da inclusão da palavra negros no nome da comissão. Apesar da resistência de alguns, a maioria dos participantes daquele quadro de discussões acabou apoiando a ideia de que a permanência daquela denominação poderia tornar-se um obstáculo à participação de não negros nas atividades a serem implementadas. Foi como resultado desse consenso que surgiu o nome de Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial, resumido na sigla Cojira.

O núcleo inicial que realizou esse debate era formado por jornalistas experientes, que tinham em comum a vivência de muitos anos em diversas redações e graus variados de proximidade com o movimento negro. O que não havia era muito conhecimento acumulado sobre o tema.  A pergunta que fazíamos era esta: se o racismo é um problema estrutural da sociedade brasileira, que afeta todas as suas instâncias, de que maneira ele se manifesta no mercado de trabalho e na produção cotidiana dos jornalistas?

Merecem destaque, entre as inúmeras  atividades que a Cojira SP realizou nessas duas décadas, o relançamento, em 2002,  da obra Imprensa Negra de Clóvis Moura e Miriam Nicolau Ferrara, coletânea de estudos  e facsímiles de jornais do início da imprensa negra paulistana, cuja tiragem de 2.500 exemplares foi, em grande parte, doada  a bibliotecas públicas do estado de São Paulo, universidades, entidades do Movimento Negro, sindicatos, além de professores e outros estudiosos de todo o país. Ainda nessa área, deve ser assinalada a publicação, em 2004, pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – Imesp e por Geledés – Instituto da Mulher Negra, do livro Espelho Infiel: o negro no jornalismo brasileiro, organizado por Flavio Carrança e Rosane da Silva Borges.

O crescimento do movimento fez surgir colegiados de combate ao racismo nos Sindicatos de Jornalistas do Rio Grande do Sul, Município do Rio de Janeiro, Distrito Federal, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Norte do Paraná e, do mais recente, Ceará. Foi a ação desses jornalistas que culminou com a criação da Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (Conajira), em 2010, uma comissão ligada à Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ).

Durante seus 20 anos de existência, a Cojira SP promoveu diversos cursos e palestras abordando temas que relacionam jornalismo e questão racial, atividades com inúmeros parceiros como Coordenadoria do Negro do Município de São Paulo, FENAJ, ONU Mulheres, Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Museu Afro Brasil, Sindicato dos Bancários, Sindicato dos Comerciários, Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) e muitas outras entidades.

Em 2020, para comemorar os 190 anos do nascimento de Luiz Gama, uma serie de lives nas redes sociais com expressiva audiência, chamando a atenção  para a importância da atividade jornalística do Patrono do Abolicionismo Brasileiro, evento que contou com a participação de diversos estudiosos do assunto, com destaque para a professora Ligia Ferreira, maior especialista do país na obra de Gama e autora do estudo recém lançado em livro Lições de Resistência: Artigos de Luiz Gama na Imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Em julho deste ano, o núcleo apoiou e reforçou o seu protagonismo, em conjunto com coletivos de jornalistas pela igualdade racial dos sindicatos do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Alagoas e Bahia, na segunda edição do Encontro Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (Enjira).