É inaceitável que o governo do Estado do Rio de Janeiro não consiga impedir a ação criminosa de seus próprios agentes, integrantes de máfias milicianas que disputam com o tráfico de drogas o domínio das comunidades carentes. O seqüestro e a tortura de profissionais do Jornalismo por milícias na comunidade do Batan, em Realengo, se configuram em um dos mais graves atentados à liberdade da informação no País desde o fim da ditadura militar.
A livre circulação da informação é o alicerce do Estado de Direito. A tortura dos jornalistas traumatiza a cidadania, já constrangida com a denúncia, pelo Ministério Público Federal, da quadrilha de policiais que loteava as delegacias para o crime organizado. E impõe ao poder público a priorização da garantia do direito de ir, vir e informar. Assim como a bomba do Riocentro, em 1981, desmontou a ditadura dos carrascos militares, a tortura dos jornalistas em Realengo destrói a ilusão de que as milícias possam representar alternativa ao narcotráfico nas áreas sem assistência do Estado.
Se o governo Sérgio Cabral não punir de forma exemplar os torturadores de Realengo, passará à História como cúmplice da tortura no Rio de Janeiro em plena vigência do Estado de Direito. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), com apoio de toda a sociedade organizada, exigem que o governo investigue o crime de forma criteriosa e exemplar e crie condições para a prisão de todos os culpados, antes que pratiquem mais atentados à civilidade. O Rio de Janeiro, alarmado com a infiltração do crime em suas instituições públicas, não suporta mais a impunidade dos falsos agentes da lei que protagonizam a violência.
O sindicato e a FENAJ convocam a população do Rio de Janeiro para o Ato de Repúdio ao Estado Paralelo na próxima segunda-feira, dia 2 de junho de 2008, sexto ano do seqüestro e morte do jornalista Tim Lopes. A manifestação será na escadaria da Câmara dos Vereadores (Cinelândia), instituição estratégica nos planos políticos da milícia.
Rio de Janeiro, 31 de maio de 2008
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro
Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ