O Globo ataca Sindicato e ameaça jornalistas por cobrarem controle de jornada

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ponto_e_noticia2Numa tentativa de desqualificar a decisão de seus profissionais quanto à introdução do cartão de ponto para controle de jornada de trabalho, o jornal O Globo publicou, na coluna Por dentro do Globo, no dia 2 de abril, uma matéria com o títuloPonto X notícia. O texto ataca o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro por defender os direitos da categoria. A entidade e a FENAJ reagiram.

No texto do jornal, uma ilegalidade é admitida ao afirmar que “uma longa tradição do jornalismo foi rompida” quando, “pela primeira vez”, no dia 1º de abril de 2009, “repórteres, redatores, fotógrafos, diagramadores e editores assistentes assinaram ponto, ao entrar e sair da redação”. Outras “pérolas” são as afirmações de que “Todo jornalista sabe que notícia não tem hora para acontecer” e que “O ponto começa em plena época da internet, quando jornalistas não precisam mais estar na redação para trabalhar”. 

Além de afirmar que a adoção do cartão de ponto se deu “por exigência do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro”, o texto se apoia em falsos argumentos para combater o direito do trabalhador de ter suas horas extras remuneradas.

O Sindicato do Rio respondeu à altura com a nota “Ponto X exploração. ‘ilegal, e daí?’”, publicada em seu site no dia 3 de abril. “O excesso de horas trabalhadas sem remuneração é uma ilegalidade antiga que os profissionais do Globo decidiram rejeitar em assembleias democráticas. O Sindicato apenas cumpriu sua obrigação”, diz o documento, apontando que os profissionais do Infoglobo, que engloba também os jornais ExtraExpresso, passam a ter direitos já assegurados a profissionais de outros veículos do grupo. “Se o Jornalismo é incompatível com o controle de horas extras e sua qualidade depende de longas jornadas não remuneradas, como repete todo dia O Globo, estaria a maior empresa do grupo, a TV Globo, praticando um jornalismo de segunda? Há muitos anos, com o apoio do Sindicato, os jornalistas da TV Globo conquistaram esse direito, que se espalhou pelas emissoras de TV e rádio”, sentencia o Sindicato, denunciando, também, que há ameaças da empresa SOS jornalistas por cobrarem seus direitos.

Sérgio Murillo de Andrade, presidente da FENAJ, reagiu com indignação à manipulação de O Globo. “O jornal admite publicamente que nunca cumpriu a lei e ainda culpa o Sindicato. Pior, transfere para o controle da jornada de trabalho – conquista dos trabalhadores brasileiros da metade do século passado – uma incompatibilidade congênita com o jornalismo”, disse.

“Por pouco, não vão dizer também que cobrar hora extra ameaça a liberdade de imprensa”, ironizou Murillo, hipotecando apoio à decisão dos jornalistas do Infoglobo e às ações do Sindicato em defesa da categoria. Para o presidente da FENAJ, tal nota do jornal “é uma peça para entrar para a história da infâmia contra o trabalho”.