Pesquisadores entregam ao ministro Hélio Costa propostas para o rádio digital

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Representantes do Núcleo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) entregaram ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, no dia 13 de dezembro, uma carta com propostas de parâmetros científicos para a adoção de uma tecnologia digital para o rádio. O ministro confirmou a disposição do governo em estabelecer uma parceria com a empresa norte-americana i-Biquity, detentora da tecnologia HD Radio, no desenvolvimento de um sistema de transmissão e recepção de rádio digital adaptado à realidade brasileira.

Na reunião com os professores, Hélio Costa disse que o governo pretende desenvolver uma relação com a i-Biquity inclusive para fabricar equipamentos no Brasil, com possibilidades de exportação futura de transmissores e receptores para outros países da América Latina. A aproximação com a empresa, no entanto, está condicionada à abertura da tecnologia da empresa para que os radiodifusores brasileiros possam ter direito de uso e adapta-la às características da radiodifusão sonora nacional.

Além de informar que aguarda, até o fim do ano, um relatório da Anatel sobre os testes com o HD Radio que estão sendo realizados por emissoras comerciais, o ministro também admitiu a possibilidade de abertura de financiamentos do BNDES para a indústria eletro-eletrônica.

Os professores, que estiveram representados por Luiz Artur Ferraretto, Nair Prata, Nélia Del Bianco, esperam que a decisão sobre o sistema brasileiro de rádio digital considere as sete diretrizes apontadas na carta entregue ao ministro: manutenção da gratuidade do acesso ao rádio, transmissão de áudio com qualidade em qualquer situação de recepção, adaptabilidade do padrão escolhido ao parque técnico instalado, coevolução e coexistência do digital com o analógico, aparelho receptor com potencial de popularização, escolha de uma tecnologia não-proprietária e com potencial de integração do rádio com outras mídias digitais.

Veja, a seguir, a íntegra da carta do Núcleo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora da Intercom entregue a Hélio Costa.

Brasília, 13 de dezembro de 2007

Ao
Exmo.sr. Hélio Costa
Ministro de Estado das Comunicações

Prezado senhor:

Nós, um grupo de pesquisadores de rádio e mídia sonora, aqui incluídos os responsáveis por parcela majoritária da bibliografia produzida em nosso país nestas áreas dentro do campo da Comunicação Social, vimos, respeitosamente, sugerir ao senhor ministro das Comunicações, Hélio Costa, uma série de providências a respeito da implantação dos sistemas de transmissão e recepção digital na radiodifusão sonora. Todas as propostas aqui incluídas foram debatidas e partem do documento Carta dos Pesquisadores de Rádio e Mídia Sonora do Brasil, anteriormente divulgado por nós e repassado a Vossa Excelência e à sociedade brasileira.

1. A respeito dos testes com os sistemas existentes, propomos a criação de um Comitê de Assessoramento Científico, dando suporte ao Conselho Consultivo do Rádio Digital, estabelecido pela portaria ministerial número 83, de 13 de março de 2007. Seus integrantes seriam indicados por instâncias governamentais e/ou instituições da sociedade civil como a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel); o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia; a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); a Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET); a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom)…

2. A este comitê caberá a definição dos padrões dos testes a serem realizados de forma mais sistemática, incluindo, neste processo, o estabelecimento de uma metodologia adequada e comum a todas as estações participantes e oferecendo ainda subsídios para a definição de um cronograma de implantação do sistema ou dos sistemas de rádio digital. Também o comitê vai se encarregar da ponderação dos resultados provenientes de emissoras de natureza diversa: comerciais, educativas e/ou comunitárias; de pequeno, médio e/ou grande porte; e de amplitude modulada e/ou de freqüência modulada… Esta instância poderá sugerir novas propostas para o rádio como produtor e emissor de conteúdo, a partir da base tecnológica digital.

3. Sugere-se que, dando suporte às iniciativas do Comitê de Assessoramento Científico, este aponte, com o apoio do Ministério da Educação, instituições de ensino superior aptas a analisar, em cada região, os dados provenientes dos testes ali realizados. Pretende-se, deste modo, ampliar o debate e as instâncias de análise, além de valorizar o imenso capital humano existente nas universidades brasileiras. Neste sentido, é fundamental a realização de audiências públicas descentralizadas. Considera-se como necessária a ocorrência de pelo menos uma em cada região do país e nos estados de maior concentração da produção radiofônica, propondo-se como locais universidades federais ou estaduais.

4. Deve-se ressaltar também, como é do conhecimento de Vossa Excelência, a imensa diversidade territorial do Brasil. Por este motivo, propomos a realização de testes, se necessário por emissora ligada ao governo federal, em pontos das regiões Centro-oeste, Nordeste e Norte, não apenas no Sul e no Sudeste, onde se concentram as experiências hoje realizadas de forma assistemática por estações que adquiriram os equipamentos de HD Radio do consórcio estado-unidense iBiquity. Da mesma forma, salientamos a obrigatoriedade de realizar testes nas mais diversas condições meteorológicas e topográficas.

5. Após o primeiro período de experimentos, seguir-se-ia uma cuidadosa análise por este comitê e, quando necessário, para a validação científica dos experimentos, ocorreria a repetição dos mesmos, todos realizados sob a fiscalização desta instância e com resultados tornados públicos por meio do Conselho Consultivo do Rádio Digital.

6. Para a definição do sistema ou dos sistemas, sugerimos que sejam consideradas as sete diretrizes para a implantação do rádio digital no Brasil a seguir relacionadas e explicadas:

6.1. Manutenção da gratuidade do acesso ao rádio.

Adotar um sistema que favoreça a oferta gratuita de programação é fundamental para o rádio. Estabelecer o princípio da gratuidade significa manter aberto o acesso à programação radiofônica centrada em notícia, entretenimento, esporte e utilidade pública.

6.2. Transmissão de áudio com qualidade em qualquer situação de recepção.

A tecnologia a ser adotada precisa garantir qualidade de som em diferentes situações de audição: móvel e doméstica. Necessita também ser capaz de garantir eficiência de transmissão em cidades com diferentes características topográficas e condições de uso do espectro eletromagnético, especialmente naquelas que apresentam elevados índices de poluição radioelétrica.

6.3. Adaptabilidade do padrão ao parque técnico instalado.

As emissoras brasileiras diferem quanto ao tipo de freqüência, potência dos transmissores, tipo de transmissor (valvular ou modular), infra-estrutura técnica de produção, equipe de pessoal técnico e de produção. Há diferenças a serem consideradas na forma de exploração e forma de financiamento: comerciais, educativas, culturais, legislativas, estatais, institucionais e comunitárias. A tecnologia de transmissão precisa ter em si este potencial de adaptabilidade em diferentes situações. Talvez seja conveniente pensar que um único padrão não será suficiente para atender à diversidade existente. Os testes devem, portanto, considerar a possibilidade de adoção de um sistema híbrido.

6.4. Coevolução e coexistência do digital com o analógico.

No processo de mudança, é necessário haver um período de transmissão simultânea de conteúdos em formato analógico e digital, até o momento em que ocorra a popularização dos receptores digitais. Para tanto, os testes devem atentar para possíveis interferências entre o novo sinal digital e o analógico tradicional.

6.5. Aparelho receptor com potencial de popularização.

A preocupação com a popularização do rádio digital é procedente porque a adoção de uma nova tecnologia não pode criar uma divisória digital intransponível entre os que terão acesso ao aparelho receptor digital e os outros que permanecerão no analógico por falta de recursos para adquirir um novo aparelho. E isto contraria o espírito popular e abrangente conquistado pelo rádio na era eletrônica. Ter aparelhos acessíveis no mercado requer implementar políticas públicas de incentivo para que a cadeia produtiva da área elétrica e eletrônica possa disponibilizá-los a preços atraentes para o consumidor final. Desta política, pode depender o sucesso da mudança.

6.6. Tecnologia não-proprietária.

O pagamento pela tecnologia digital de transmissão pode inviabilizar sua adoção por parte de emissoras comunitárias, educativas ou mesmo comerciais de pequeno porte. Esta condição deixa os radiodifusores sujeitos aos ditames de uma empresa que administra os direitos de uso da tecnologia, podendo estes perder o controle sob o gerenciamento do processo de instalação e definição de equipamentos.

6.7. Escolher uma tecnologia que tenha potencial de integração do rádio com outras mídias digitais.

O digital é por natureza uma tecnologia flexível, porque permite combinar, interligar, organizar e integrar serviços, que antes estavam separados. A sua disseminação tem contribuído para forjar uma base material que favorece hibridação das infra-estruturas indispensáveis à geração e à transmissão de dados, sons e imagens em proporções incalculáveis e em alta velocidade graças aos processos de compressão e descompressão de dados. Com esta tecnologia, é possível caminhar para a convergência de setores antes distintos – a informática, as telecomunicações e a comunicação – num só campo técnico denominado de multimídia, uma estrutura de comunicação integrada, digital e interativa. O rádio digital não poderá ficar isolado do movimento convergente. A tecnologia de transmissão a ser escolhida terá de ser flexível a ponto de favorecer a integração do meio com as demais mídias e com sistemas de redes informatizadas.

7. Independentemente do sistema a ser adotado, observamos a necessidade de que sejam estabelecidas pelo governo federal duas frentes de linhas de custeio: a primeira delas destinada às emissoras comerciais de pequeno porte, comunitárias e educativas, usando como balizadora a potência não superior a 5 kW e não sendo, no caso de estação comercial, propriedade de indivíduo sócio de outros empreendimentos na área; e a segunda voltada à indústria eletrônica para a produção de aparelhos com tecnologia digital de transmissão e recepção para radiodifusão sonora. Nesta última, incluir-se-ia a obrigatoriedade da presença da amplitude modulada em qualquer equipamento (celular, MP3 player etc.) que disponibilizar ao ouvinte a faixa de freqüência modulada. Observa-se, ainda, a necessidade de apoio financeiro do governo para a cobertura dos custos provenientes da manutenção do Comitê de Assessoramento Científico.

Com estas medidas, cremos que o rádio brasileiro terá garantida, em sua diversidade, a continuação progressiva e segura do seu desenvolvimento histórico. Ficamos, assim, à disposição através de nossos representantes, os professores Luiz Artur Ferraretto, Nair Prata e Nélia Del Bianco, e subscrevemo-nos:

1. Adriana Ruschel Duval – Doutora – SSP-RS 7050378384
2. Álvaro Bufarah Júnior – Mestre – SSP-SP 21868774-6
3. Andréa Ferraz Fernandez – Doutora – SSP-SP 20302252
4. Ângelo Pedro Piovesan Neto – Doutor – SSP-SP 6861728
5. Ana Baumworcel – Mestre – IFP-RJ 039533591
6. Ana Luisa Zaniboni Gomes – Mestre – SSP-SP 13561469
7. Andréa Pinheiro – Mestre – SSP-CE 91002187853
8. Antonio Adami – Doutor – SSP-SP 11321633
9. Antônio Francisco Magnoni – Doutor – SSP-SP 12386329
10. Arlindo Marques Júnior – Graduado – SSP-SP 14.371.586
11. Ayêska Paulafreitas de Lacerda – Doutoranda – SSP-BA 74485032
12. Bibiana de Paula Friderichs – Mestre – SSP-RS 1055842502
13. Bruno Lima Rocha – Doutorando – SSP-RS 09112736-5
14. Carlos Eduardo Esch – Doutor – SSP-MG M3406826
15. Carmen Lúcia José – Doutora – SSP-SP 3582128
16. César Augusto Azevedo dos Santos – Mestre – SSP-RS 6005897027
17. Cida Golin – Doutora – SSP-RS 8012609015
18. Claudia Irene de Quadros – Doutora – SSP-PR 4190730-4
19. Clóvis Reis – Doutor – SSP-SC 1843226-3
20. Cristóvão Domingos de Almeida – Mestrando – SSP-MT 544381791-49
21. Daniel Gambaro – Graduado – SSP-SP 33864740-5
22. Daniela Carvalho – Mestre – SSP-MG 10050705
23. Daniela Ota – Doutora – SSP-MS 745759
24. Doris Fagundes Haussen – Doutora – SSP-RS 1004321798
25. Eduardo Meditsch – Doutor – SSP-RS 6016024744
26. Eduardo Vicente – Doutor – SSP-SP 11054717-2
27. Flávia Lúcia Bazan Bespalhok – Mestre – SSP-PR 6941085-5
28. Flávio Falciano – Mestre – SSP-SP 18318432-4
29. Francisco de Moura Pinheiro – Mestre – SSP-AC 44235
30. Geraldo José Santiago – Mestre – SSP-SP 11742419
31. Gilda Soares Miranda – Mestre – SSP-ES 333520
32. Gisele Sayeg Nunes Ferreira – Doutoranda – SSP-SP 11772168-2
33. Graziela Soares Bianchi – Doutoranda – SSP-RS 3066860143
34. Heloísa de Araújo Duarte Valente – Doutora – SSP/SP 11 246 442
35. Hernando Gutiérrez – Doutorando – V283598-J
36. Higino Germani – Graduado – SSP-RS 3010408908
37. Irineu Guerrini Júnior – Doutor – SSP-SP 3370265
38. Ismar Capistrano Costa Filho – Especialista – SSP-CE 90002232826
39. Jandira Aparecida Alves de Rezende – Mestre – SSP-SP 5398486
40. João Batista de Abreu Junior – Doutor – IFP-RJ 3074194-6
41. João Batista Neto Chamadoira – Doutor – SSP-SP 3150104
42. Jonicael Cedraz de Oliveira – Mestre – SSP/BA 667657-06
43. José Eduardo Ribeiro de Paiva – Doutor – SSP-SP 7709614
44. José Eugênio de Menezes – Doutor – SSP-PR 1959706
45. Júlia Lúcia de Oliveira da Silva – Mestre – SSP-SP 195132609
46. Juliana Cristina Gobbi Betti – Mestranda – SSP-SP 400388315
47. Lenize Villaça – Mestre – SSP-SP 21709331-0
48. Lia Calabre – Doutora – IFP-RJ 04699596-8
49. Lígia Mousquer Zuculoto – Mestre – SSP-RS 3009283973
50. Lílian Zaremba – Doutora – IFP-RJ 3314413-0
51. Luciana Miranda Costa – Doutora – SSP-SP 11583632
52. Luciano Klöckner – Doutor – SSP-RS 4013377331
53. Lucio Flávio Haeser – Graduado – SSP-RS 2003986177
54. Luiz Antonio Veloso Siqueira – Mestre – SSP-SP 7204716-1
55. Luiz Artur Ferraretto – Doutor – SJS-RS 2027623459
56. Macello Medeiros – Doutorando – SSP-BA 09331127-34
57. Magaly Prado – Mestranda – SSP-SP 7740095
58. Marcelo Cardoso – Especialista – SSP-SP 16839585
59. Maria Clara Lanari Bó – Especialista – SSP-RJ 2864244-5
60. Márcia Detoni – Mestre – SSP-RS 6060525521
61. Marcos Júlio Sergl – Doutor – SSP-SP 642974-2
62. Mariângela Sólla López – Mestre – SSP-SP 7702342
63. Mário Ramão Villalva Filho – Mestre – SSP-SP 15590676-8
64. Marta Regina Maia – Doutora – SSP-SP 15304409-3
65. Mauro José Sá Rego Costa – Doutor – IFP/RJ 02118134-2
66. Mirna Spritzer – Doutora – SJS-RS 9005242145
67. Moacir Barbosa de Sousa – Doutor – SSP-PB 245384
68. Mônica Panis Kaseker – Mestre – SSP-SP 20690133
69. Mozahir Salomão Bruck – Doutorando – SSP–MG M 2872925
70. Nair Prata – Doutoranda – SSP-MG M-1355648
71. Nélia Del Bianco – Doutora – SSP-GO 1024211
72. Patrícia Rangel – Mestranda – SSP-SP 17119827-x
73. Patrícia Thomaz – Mestre – SSP-PR 5835382-5
74. Paula Marques de Carvalho – Graduada – SSP-CE 013393233-89
75. Pedro Vaz Filho – Mestre – SSP-SP 11411277-0
76. Ricardo Alexino Ferreira – Doutor – SSP-MG M2376027
77. Ricardo Leandro de Medeiros – Doutor – SSP-SC 1512582-3
78. Rosana Beneton – Mestre – SSP-SP 3573955
79. Rúbia Vasques – Doutora – SSP-SP 26888779-2
80. Sandra Sueli Garcia de Sousa – Doutoranda – SSP-PA 1830116
81. Sônia Caldas Pessoa – Mestre – SSP-MG 5559337
82. Thais Renata Poletto – Mestre – II-PR 5921322-9
83. Sonia Virgínia Moreira – Doutora – IFP-RJ 04971830
84. Waldiane de Ávila Fialho – Mestre – SSP-MG 6881984
85. Wanderlei de Britto – Mestre – SSP-RS 1017991652
86. Wanir Campelo Siqueira – Mestre – SSP-MG M-366314
87. Valci Regina Mousquer Zuculoto – Doutoranda – SSP-RS 5033857805
88. Vera Lúcia Guimarães Rezende – Mestre – SSP-SP 1.634.161
89. Vera Terra – Mestre – IFP-RJ 02284643-0