Em parceria com a UFMS e ADUFMS, o SINDJOR-MS prepara o painel Das ruas às redes – um bate-papo com as mulheres do jornalismo sobre os desafios da formação e profissão para o Dia Internacional da Mulher
Como parte da programação dos 40 anos do SINDJOR-MS (Sindicato dos Jornalistas de MS), o Dia Internacional da Mulher (8 de março) conta com uma programação especial este ano. O painel “Das ruas às redes – um bate-papo com as mulheres do jornalismo sobre os desafios da formação e profissão” vai ter como convidada de honra a jornalista negra, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1971, Vera Daisy Barcellos. Ela já confirmou presença.
Vera é uma das pioneiras do jornalismo esportivo e é militante do Movimento Feminista de Mulheres Negras e faz parte da Rede Feminista de Saúde, que junto com a FETEMS (Federação dos (das) Trabalhadores (as) em Educação de MS), apoia a atividade do SINDJOR-MS.
O evento será no auditório do curso de arquitetura, próximo à coordenação do jornalismo, na UFMS (Universidade Federal de MS), na quarta-feira, 8 de março, às 18h30.
O convite oficial será encaminhado a todos os veículos de comunicação, cursos de comunicação social e sindicatos.
O painel é uma parceria com o curso Jornalismo da UFMS (Universidade Federal de MS) e integra a programação da recepção de calouros/as da universidade. Segundo a professora Katarini Miguel, a ideia é promover o encontro de gerações num momento importante para o País de fortalecimento do direito à informação e do direito das mulheres em todas as áreas. “Vamos convidar todos que queiram participar do debate. A programação está sendo construída com muito respeito principalmente às profissionais que estão nas redações no dia a dia com intuito de envolvê-las e valorizar a profissão. A presença da Vera Daisy vai engrandecer esse momento”, diz Katarini Miguel.
O foco do SINDJOR-MS é promover em conjunto uma atividade que conscientize toda a rede de comunicação sobre a importância da visibilidade das mulheres e mulheres negras, segundo a pesquisadora, do SINDJOR-MS, Tainá Jara. Mato Grosso do Sul tem 1,2 mil profissionais jornalistas. “De acordo com o censo feito em 2017 pelo SINDJOR-MS, mais da metade dos profissionais em Mato Grosso do Sul é do gênero feminino”, acrescenta Tainá Jara.
Segundo a vice-presidenta da ADUFMS (Seção Sindical dos dos Docentes da UFMS), professora Mariúza Guimarães o painel será um marco importante na luta pela igualdade de gênero. “A ADUFMS se sente honrada de participar da organização desse evento junto com o Sindjor-MS. Foi na UFMS o primeiro curso de jornalismo do MS e com a presença da jornalista Vera Daisy, uma mulher que tem uma historia na comunicação e também no movimento feminista, com certeza esse evento vai ser um marco fundamental para o nosso curso de jornalismo, para a juventude que hoje busca a profissão e também a nossa universidade e ao nosso sindicato dos docentes da UFMS”.
“Temos uma grande satisfação de participar desse evento que vai engrandecer todos com a certeza de que apenas a luta vai garantir a nossa vitória e hoje, no quadro que ainda vivemos de machismo, de feminicídio, homofobia e tantas situações de violência causadas pela desinformação, sobretudo, participar desse momento é histórico, marcante e com certeza vai nos ajudar na superação dessas dificuldades pelas quais temos passados especialmente em MS. Será um encontro em que vamos dar a dimensão de que o Dia Internacional da Mulher é de luta para nos fortalecermos para lutarmos os demais dias do ano. Jornalista Vera Daisy, seja muito bem-vinda!”, disse Mariúza Guimarães.
Pela ADUFMS, também vai participar do painel a professora da UFMS, na Faculdade de Educação, Tina Xavier. Ela pesquisa as áreas de gênero, sexualidade, violência contra crianças e direitos humanos. Desde o ano de 2010, Tina Xavier desenvolve projetos de pesquisa e extensão em escolas públicas municipais de Campo Grande e produz coletivamente filmes de animação com crianças da primeira etapa do Ensino Fundamental. É líder-coordenadora do GEPSEX – Grupo de Estudos e Pesquisas em Sexualidades, Educação e Gênero.
A construção de uma agenda especial para o 8 de março vai contar também com a participação das mulheres e apoiadores dos movimentos sociais. Para a presidenta da FETEMS, Deumeires Morais unir dentro de um espaço educacional, como a UFMS, profissionais e acadêmicos traduz o papel da Educação na construção de uma País. “O 8 de março é momento para o nosso fortalecimento e como educadora é uma alegria podermos participar junto com as jornalistas desse momento”, diz Deumeires Morais.
Experiência e consciência social
Em tempos de redes sociais, informações rápidas, o compromisso com a qualidade do jornalismo, a defesa do diploma e do piso salarial têm sido discussão nacional da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas). Garantir a valorização desde o início da carreira e unir acadêmicos e profissionais são pautas defendidas pelo SINDJOR-MS.
“Fizemos no Carnaval uma participação ao lado do pessoal do jornalismo e agora, no 8 de março faremos o lançamento oficial das atividades de 40 anos do SINDJOR-MS. Essa agenda está sendo construída pelas mulheres para o enfrentamento ao machismo estrutural da nossa sociedade. Um desafio importante e a partir daí, mais novidades estão por vir ao longo do ano de aniversário do sindicato”, explica Walter Gonçalves, presidente do SINDJOR-MS.
Convidada especial
Graduada pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), jornalista Vera Daisy tem uma larga trajetória no Carnaval e nas lutas feministas e antirracistas. Nasceu em 7 de outubro de 1948, em Porto Alegre (RS). Filha de uma empregada doméstica. Ela foi criada junto da família dos patrões, numa casa chefiada por um general. A ideia seria que ela crescesse e com o passar do tempo tomasse o lugar de sua mãe como doméstica, na mesma família, como era comum na época. Quando ela tinha oito anos, seu irmão adotivo Adyr Cancello Faria pressionou a família para que ela entrasse na escola e aprendesse pelo menos a ler e escrever. Foi assim que nasceu a jornalista.
Vera Daisy é atuante em defesa da categoria e atualmente é consultora na área de comunicação e colaboradora da ONG (Organização Não Governamental) Sempre Mulher – Instituto de Pesquisa e Intervenção Racial, de Porto Alegre. A jornalista é militante da ONG Maria Mulher – Organização das Mulheres Negras, entidade pioneira na luta pela defesa dos direitos das mulheres pretas no Rio Grande do Sul.
Sua mais recente produção é o livro “Os Lanceiros Negros na Guerra dos Farrapos (1835-1845), uma publicação do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, do Rio de Janeiro. É, ainda, coautora dos livros Negro em Preto e Branco – História Fotográfica da População Negra de Porto Alegre (Prêmio Açorianos/2005) e Colonos e Quilombolas – Memória fotográfica das colônias africanas de Porto Alegre (2010).
Em sua trajetória, a jornalista, também atuou em diferentes jornais de Porto Alegre e no Interior gaúcho. Começou sua carreira no Jornal do Comércio, passou pelo Diário de Notícias e por 16 anos esteve no jornal Zero Hora, no qual foi pioneira, enquanto mulher negra, na cobertura esportiva, futebol de salão, hoje futsal, e carnavalesca.
Com o caderno especial “Erechim Mulher” conquistou o prêmio ARI de Reportagem de 1998, levando, pela primeira vez, este prêmio para um jornal do Interior – A Voz da Serra. Vera Daisy, também, foi fundadora e jornalista responsável da Revista Tição, um marco na imprensa alternativa gaúcha voltada para a questão étnico-racial na década de 1970.
Foi presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, no triênio 2019-2022, ocasião em que foi a primeira mulher negra a alcançar a presidência em 80 anos da entidade. Atualmente integra o Conselho Fiscal do Sindjors e participa, como presidenta, da Comissão Nacional de Ética da Federação Nacional de Jornalistas -Fenaj.
Vera Daisy é, também, uma das coordenadoras do Núcleo de Jornalistas Afro-brasileiro do Sindjors e atua no Núcleo de Mulheres Jornalistas pela Igualdade de Gênero da mesma entidade sindical. Fez parte também do Conselho Deliberativo da Fundação Cultural Piratini Televisão Educativa – TVE/RS; Conselho Deliberativo da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), do Conselho Municipal de Políticas para o Povo Negro e do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do RS – Codene.
Como militante do Movimento Feminista de Mulheres Negras, entre 2004 a 2006, foi assessora de imprensa de Maria Mulher-Organização de Mulheres Negras. De 2006 a 2011 foi assessora de imprensa da Rede Nacional Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos. Vera também foi consultora de comunicação da Campanha Internacional Ponto Final na Violência contra Mulheres e Meninas e do UNFPA – Fundo de População das Nações Unidas – ONU-Brasil.
Além da militância no movimento feminista das mulheres negras e atuação na imprensa gaúcha, Vera Daisy é carnavalesca, campo em que foi jurada dos desfiles das escolas de samba, e, atualmente, coordena o grupo de samba Puro Asthral que há cinco anos ocupa a escadaria do Viaduto Otávio Rocha, mais conhecido como “Escadaria da Borges”. O evento está consagrado no centro de Porto Alegre e atrai além da população gaúcha, turistas de todo País e do exterior.





