Tire a mão do meu diploma

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* Guálter George

Verdades relativas e mentiras absolutas permeiam o debate sobre a exigência do diploma para o exercício do jornalismo no Brasil, da parte dos que a consideram desnecessária. É verdadeira a linha de defesa que aponta a importância da vocação para a escolha da profissão e deve-se respeitar a tese de que não é a faculdade que faz o bom jornalista. Argumentos insuficientes, no entanto, para dar sustentação definitiva à idéia de que teremos uma comunicação melhor quando nos livrarmos da regulamentação que hoje delimita de maneira clara as regras de acesso à profissão.

Há quem apresente como fator de dificuldade de acesso ao mercado a exigência de que os vocacionados se submetam a um curso superior. Esta é uma discussão que até se pode fazer, desde que apresentando-se alternativas que substituam um processo naturalmente observado no geral das profissões. Um outro debate sugerido, sobre a qualidade da formação oferecida, envolve uma problemática muito maior e que nos diz respeito tanto quanto a qualquer outra atividade que exija um diploma para ser exercida. Não é privilégio nosso que o ensino esteja aquém das exigências do novo mercado de trabalho e este ponto, visto isoladamente, não justifica que eu mande meu diploma à lata de lixo.

Ninguém me convencerá de que é preciso, primeiro, freqüentar (ou concluir) um curso de Medicina, de Direito, de Economia, de Engenharia, de Enfermagem ou outro qualquer de tantos mais disponíveis para, adiante, alguém se descobrir jornalista. Além do quê, todo jornal do mundo mantém espaços abertos àqueles que pelo prazer de escrever, o que não se deve confundir com a missão de informar, gostam de ter suas opiniões levadas ao público, muitas delas tecnicamente embasadas pela formação específica no tema abordado.
Neste sentido é que úteis ao processo, mais amplo, de fazer circular a informação.

O que a atual situação permite é o estabelecimento de critérios mínimos e objetivos para se obter o direito ao exercício de uma profissão. Não sei onde é que liberar geral, flexibilizar ou o que quer que esteja sendo proposto na linha das mudanças, poderá melhorar a qualidade do jornalismo que hoje se pratica. Esta sim, a preocupação que nos deveria estar mobilizando.

* Editor de Conjuntura do O Povo, do Ceará